O livro de Jó introduz-nos a um tipo diferente de literatura. Jó não é somente o primeiro livro poético, mas também o primeiro dos “Livros de Sabedoria”. Passar de Ester para Jó é o mesmo que passar de Atos para Romanos no Novo Testamento. Já não há a narrativa dos acontecimentos; estamos agora num ambiente de sala de aula, desafiados a pensar e observar.
Como Ester, o livro de Jó foi assim chamado em homenagem ao seu herói, e não devido ao seu autor, embora Jó possa ter registrado nele muitos detalhes de sua vida. A etimologia do nome Jó (Hebraico: ’Iyyob) é um tanto incerta. A palavra hebraica poderia ter o significado de “estar em hostilidade”, enquanto a palavra árabe equivalente (’Awwabun) sugere “arrependimento”, “recuo” ou “reparação”. William F. Albright, “The Archaeology of Palestine” (Arqueologia da Palestina) deduz de escritos amarnas egípcios que o significado seja “Onde está o Pai” (’aba). Sendo Jó uma história relacionada com a parte norte da Arábia, é plausível presumir o significado árabe de “reparação” ou “arrependimento”.
OBJETIVO DO LIVRO DE JÓ
O objetivo central é mostrar como Deus geralmente usa a adversidade, bem como a prosperidade, para amadurecer o seu povo. Um objetivo afim é mostrar a grande soberania de Deus sobre Satanás, e como Deus pode usar os piores ataques do diabo para o cumprimento dos seus objetivos e o bem do seu povo. Um outro objetivo é mostrar a dinâmica da pessoa de Deus quando Ele se ocupa com o seu povo, não com regras mecânicas e legalistas, mas com infinita misericórdia e amor. Um objetivo adicional é demonstrar a todo o universo a grande capacidade que Deus tem de reproduzir o seu amor nas pessoas a ponto de as suas reações serem a adoração, mesmo quando não entendam.
EXCEPCIONAL CENÁRIO DO TRONO DE DEUS (1-2)
Do mesmo modo que o último livro da Bíblia enfatiza o trono de Deus em tempos de provação (Apocalipse 4-5; 21), o Livro de Jó , um dos mais primitivos (possivelmente antes de Gênesis), abre a cortina para uma ligeira visão do trono de Deus (comparar 1 Reis 22:19- 23; 2 Crônicas 18:18-22). A total soberania e o grande interesse divino pelas situações humanas estão enfatizados nessas poucas ocasiões.
APRESENTAÇÃO DO GRANDE ADVERSÁRIO DO HOMEM: O DIABO (1:6)
Aceitando a hipótese de que o Livro de Jó seja o mais antigo da Bíblia, é digno de nota que o primeiro capítulo apresente o grande adversário do homem, o diabo. Ele é aqui descrito em termos simples e claros, não como uma força do mal, mas como uma pessoa real desafiando a Deus, tendo enorme poder sobre a natureza e nutrindo grande inimizade contra aqueles que servem a Deus. Entretanto, a sua inimizade está sempre sob observação atenta de Deus e restrita apenas ao propósito divino. Os crentes não devem ignorar essa situação (2 Coríntios 2:11).
COLAPSO DA “ORTODOXIA INSENSÍVEL” (42:5-6)
O erro básico dos três amigos foi julgar que eram justos por serem ricos, e santos por serem saudáveis. Provavelmente era também esse o pensamento anterior de Jó, de conformidade com a ortodoxia da época, mas o seu sofrimento abalou aquele ponto de vista. Jó achava confortável a sua teologia de privilégios até o momento em que se tornou um pária; viu, então, nos três amigos a sua própria ‘hipocrisia. Lembrando-se da prosperidade dos perversos, começou a compreender que ter saúde ou riqueza não significa usufruir de bom conceito diante de Deus. O livro demonstra como o sistema da “ortodoxia insensível” entrou em colapso devido à experiência de Jó. A religião verdadeira é descrita como a confiança em Deus a despeito das recompensas terrenas, tendo por alvo a ressurreição e o juízo final (19:25).
CRISTOLOGIA EM JÓ (16:19; 19:25)
No seu desespero, Jó sentia necessidade de um mediador que intercedesse por ele junto a Deus e aos homens (9:32-33). Ao externar a sua frustração junto aos três amigos, também expressou diversas vezes a sua fé em Deus. Em 16:19, declarou que tinha um “Advogado” nas alturas, e em 19:25, um “Redentor” vivo, que o justificaria perante Deus. Embora não tivesse ainda consciência de que o Redentor seria mandado por Deus, Jó procurou-o cegamente, e pela fé agarrou-se a Ele. O sofrimento do patriarca de Uz retrata de certa maneira os sofrimentos de Cristo, que foi declarado perfeito pelo Pai, mas sofreu os violentos ataques de Satanás, foi injustamente acusado pelo seu povo e experimentou a condição de ser julgado um indivíduo desprezível. Ele se tornou um pária para poder alcançar os párias e tornar-se Mediador e Redentor do seu povo (Filipenses 2).
—– Retirado de: Stanley Ellisen – Conheça Melhor o Antigo Testamento.
Leia mais conteúdo desse livro nos links abaixo:
- • Introdução ao Pentateuco
- • Calendário Hebraico e Cálculo do Tempo
- • Estrutura Cronológica do Antigo Testamento
• A Autoria do Livro de Gênesis - • Antevisão de Cristo em Êxodo
- • Tipos de Cristo em Levítico
- • Tipos de Cristo em Números
- • Profecia Messiânica em Deuteronômio
- • Encontrando Jesus no livro de Josué
- • Cristo no livro dos Juízes
- • Cristologia no Livro de Rute
- • Cristologia nos Livros de Samuel
- • Cristologia nos Livros dos Reis
- • Cristologia nos Livros das Crônicas
- • Cristo nos livros de Esdras e Neemias
- • Cristologia no Livro de Ester
- • Cristologia no Livro de Jó
- • Cristo nos Salmos
- • Cristo nos Provérbios
- • Cristologia em Eclesiastes
- • Cristologia em Cantares de Salomão
- • Os Profetas de Israel
- • A Cristologia do Profeta Isaías
- • A Cristologia do Profeta Jeremias
- • Cristologia em Lamentações
- • Cristologia no Profeta Ezequiel
- • Cristologia no Profeta Daniel
- • Cristologia em Oseias
- • Cristologia em Joel
- • Cristologia em Amós
- • Cristologia em Jonas
- • Cristologia em Miquéias
- • Cristologia em Naum
- • Cristologia em Habacuque
- • Cristologia em Sofonias
- • Cristologia em Ageu
- • Cristologia em Zacarias
- • Cristologia em Malaquias
Pingback:Cristo nos livros de Esdras e Neemias – Editora Mente Cristã