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A Cristologia do Profeta Isaías

OBJETIVO DO LIVRO DE ISAÍAS

Os muitos objetivos de Isaías podem ser resumidos em dois, que se relacionam com os seguintes títulos divinos: “O Santo de Israel” e “O Sofrimento Vicário do Servo do Senhor”.

1. Admoestar a nação do iminente julgamento devido à idolatria e às alianças seculares. O interlúdio histórico (36-39) descreve o cumprimento da invasão da Assíria e a previsão de um cativeiro posterior pela Babilônia. O “Santo de Israel” exigia santidade do seu povo.

2. Lembrar à nação o programa divino de libertação, especialmente o seu programa redentor através do Messias, que primeiro viria como o Servo Sofredor e, mais tarde, como o Governador de toda a terra (52:13-53:12). Esses propósitos duplos complementam o tema do livro: “A Salvação vem do Senhor, não de ídolos ou alianças seculares.”

ISAÍAS, A BÍBLIA EM MINIATURA.

Este livro é, muitas vezes, chamado de “Bíblia em miniatura” devido à sua organização e conteúdo. Tem 66 capítulos, com duas divisões principais de 39 e 27. A primeira divisão enfatiza o julgamento do Senhor, e a última apresenta a sua graça como “Servo sofredor” e termina com o julgamento final. Como Isaías viveu na metade dos anos decorridos entre Moisés e Cristo (mais ou menos em 710 a.C.), ele focaliza tanto a lei vinda por Moisés, como a graça que viria por Jesus Cristo. A segunda divisão (40-66) também principia com uma “voz” que clama no deserto com uma mensagem de salvação, semelhante à voz de João Batista, que foi o primeiro a anunciar essa mensagem no Novo Testamento. As duas seções são unidas por um interlúdio histórico (36-39) em que Israel é ameaçado por dois impérios. São notáveis as analogias do livro de Isaías com o Antigo e o Novo Testamentos.

TEOLOGIA DE GRANDE ALCANCE DE ISAÍAS.

De todos os livros proféticos, é Isaías o mais abrangente em seu alcance teológico. As suas profecias vão desde a situação de Israel na época, passando pela queda do reino do norte e do sul, pelo exílio na Babilônia e pelo regresso promovido pelos persas, até a vinda humilde do Messias, sua vida e morte expiatória na cruz pelo seu povo, pela dispersão final da nação por toda a terra, pela nova reunião em virtude do arrependimento, e pela bênção do reino na era messiânica. As profecias de Isaías sobre o advento do Messias descrevem mudanças em todas as esferas da vida humana: espiritual, nacional, internacional, econômica, geográfica, cósmica e do reino animal. A teologia divina de Isaías é a mais extensa e profunda de todos os livros do Antigo Testamento.

“SANTO DE ISRAEL” (14; 5:19; etc).

Isaías refere-se ao Senhor como o “Santo de Israel” vinte e cinco vezes em todo o livro, um termo raramente usado pelos outros escritores. A expressão vem de quando Isaías foi comissionado em 6:3, ocasião em que os serafins apresentaram o Senhor como “Santo, santo, santo”. No meio de um povo impuro, foi-lhe trazida à memória a inflexível santidade de Deus. Junto com a revelação da sua santidade, Isaías foi também lembrado de ser o Senhor o “Poderoso de Israel” (1:24) e o “Senhor dos Exércitos” (usado cinquenta e quatro vezes em Isaías 1-39, e somente seis vezes em 40-66). A santidade e o poder divinos sempre se complementam. Todas as subsequentes profecias de julgamento e livramento relacionam-se com essa definição de Deus, que é poderoso para salvar, mas jamais livra quem resolve viver em pecado. Essa descrição do Santo Deus, aclamado três vezes, é somente repetida pelas criaturas de seis asas em Apocalipse 4:8, no princípio do julgamento da tribulação. O mais importante enfoque dessa santidade e poder, entretanto, está no seu trabalho de redenção, onde “O Senhor desnudou o seu santo braço à vista de todas as nações” (52:10).

“REDENTOR” DE ISRAEL (41:14 — 63:16)

Esse nome divino é outro título singular usado por Isaías (treze vezes, mas somente na segunda metade do livro) e aparece nos outros livros do Antigo Testamento apenas cinco vezes. Jamais é empregado com referência ao Senhor no Novo Testamento, embora esteja subentendido em dezessete referências à obra redentora de Cristo nos evangelhos e epístolas. O termo deriva do verbo “gaal”, que quer dizer aquele que redime (“goel”) ou compra uma pessoa ou propriedade (Levítico 25, 27). O uso dessa palavra em Isaías refere- -se principalmente à libertação de Israel como uma nação de refugiados cegos e surdos, escravos de inimigos estrangeiros (41:14 e ss.; 44:24 e ss.; 54:5 e ss.). Significa também redenção espiritual para os que “se converterem” (59:20). O termo “Salvador” (Yasha) é também utilizado oito vezes em Isaías (43:3, 11 etc), um nome muito usado para Cristo no Novo Testamento.

SÓLIDAS CONFIRMAÇÕES PROFÉTICAS DE ISAÍAS

Apesar de os profetas da escrita não fazerem milagres como Moisés, Elias e Eliseu, o ministério de Isaías teve alguns milagres notáveis, tais como o oferecimento de um sinal a Acaz (7:11), a destruição do exército assírio em uma noite (37:36), o retrocesso de dez graus do sol (38:8) e a cura de Ezequias (38:21). Foram milagres que confirmaram a soberania de Deus sobre os deuses estrangeiros. Outra característica do longo ministério de Isaías foram as muitas profecias a curto prazo, cumpridas na sua época ou nos séculos seguintes. A seguir, alguns exemplos: captura do reino do norte de Israel pela Assíria (7:17); destruição da Assíria (10:12, 25); destruição da Babilônia pelas mãos dos medos (13:17 e ss.); julgamento da Filistia, Moabe, Damasco, Etiópia, Egito e Tiro (14- 23). Foram profecias cumpridas em todos os seus detalhes para que todos pudessem ver. A designação do nome de Ciro, o persa, 150 anos antes do seu nascimento, como o instrumento do Senhor para subjugar nações com a finalidade de restaurar os judeus sobreviventes e reconstruir o templo, demonstra dramaticamente a soberania do Senhor sobre o tempo e sobre todas as nações(44:28-25:6). O resultado de muitas dessas profecias permanece até mesmo nos dias de hoje. Babilônia, por exemplo, conforme predito pelo Senhor, jamais foi reconstruída (13:20). Esses milagres e as muitas profecias cumpridas comprovam as muitas profecias a longo prazo que ainda não foram cumpridas. Tais profecias a curto prazo tinham por finalidade autenticar um profeta, conforme observação de Moisés (Deuteronômio 18:21-22). As profecias a longo prazo sobre o Dia da vinda do Senhor com a grande ira contra todas as nações (34), a completa restauração da Palestina para santidade, paz e prosperidade (35, 60-62) e a nova criação dos céus e da terra com perene paz, prosperidade e santidade (65) cumprir-se-ão com o mesmo detalhe e certeza (34:16; 40:8; 41:23). O cumprimento detalhado das profecias a curto e longo prazo é considerado por Isaías como a prova e o direito exclusivo de Javé, o Deus da aliança de Israel.

NASCIMENTO VIRGINAL DO EMANUEL (7:14)

Essa profecia do nascimento virginal é a primeira das “profecias do Emanuel” (7-12), nas quais a vinda do Messias é detalhada. Apesar de a profecia ter sido muito debatida, o Novo Testamento declara a concepção e o nascimento virginal do Messias tanto gramatical quanto contextualmente em Mateus 1:23. A palavra usada no Novo Testamento, “virgem” (parthenos), pode ter outro significado. Mas, como na profecia foi prometido a Acaz um “sinal”, várias tentativas têm sido feitas para relacionar o nascimento virginal ao cumprimento no tempo de Acaz. Alguns eruditos acham que a profecia foi cumprida no nascimento do filho de Isaías (8:3) ou de Acaz. Alguns acham que são duas profecias com dois cumprimentos diferentes: num futuro próximo e num futuro distante. A fim de se examinar essa profecia adequadamente, devem- -se ter em mente diversos fatores referentes à gramática e ao contexto:

a. O contexto requer um cumprimento próximo: “um sinal” (ou censura) à “casa de Davi”, presumivelmente a Acaz, por ele ter recusado a libertação oferecida por Deus.

b. O termo “virgem” (almah) (bem como o termo do Novo Testamento “parthenos”) não se refere a uma mulher casada em quaisquer das referências do Antigo Testamento (Gênesis 24:43; Isaías 7:14), nem a Septuaginta traduz esse termo como tal.

c. Como a profecia não foi apresentada como um “protótipo”, mas como uma predição específica, seu duplo cumprimento exigiria que houvesse um genuíno nascimento virginal, tanto no cumprimento próximo quanto no distante. Supondo que a esposa de Isaías fosse virgem na ocasião da profecia, isso não faria dela uma “virgem com filho” ao conceber.

d. Nenhuma criança, além do Messias, foi jamais chamada de “Emanuel” em qualquer dos testamentos. O nome quer dizer “Deus conosco”, o que só poderia ser dito com referência ao próprio Messias.

e. Foi dito a Isaías que conduzisse consigo o seu filho chamado “Um Resto-Volverá” (Shear-Jashub) ao levar a mensagem a Acaz, porque o seu nome era um “sinal” ou mensagem para Israel (8:18). Esse nome significava que um julgamento dei- xaria poucos sobreviventes, e que haveria um pequeno re- torno (C. W. E. Nagelsbach, Langes Commentary of the Bible, Isaiah). O julgamento devia acontecer antes de o “menino” ter a idade de 12 anos (apto a recusar o mal e escolher o bem). As pessoas comendo “manteiga e mel” são identificadas no versículo 22 como os sobreviventes. Essas considerações sugerem que foram dadas duas profecias em 7:14-16, uma predizendo o nascimento virginal do Emanuel, conforme observado em 9:6, e outra predizendo que o rei da Assíria derrotaria o reino do norte antes de Um Resto-Volverá, filho de Isaías, chegar à idade da responsabilidade. Mas, por ter Acaz rejeitado a libertação oferecida por Deus, ele e o povo de Judá também sofreriam o julgamento dos assírios, que quase devastariam também Judá (7:16- 25).

Isso explica a necessidade de haver um sinal para Acaz como um cumprimento próximo, e também preserva o cumprimento único do nascimento virginal que, obviamente, seria de um rei. Para uma semelhante profecia dupla com dois cumprimentos diferentes encontramos um paralelo na profecia dirigida ao rei Jeroboão I, em que se predisse a vinda de Josias num futuro distante e a fenda do altar, a qual aconteceu imediatamente, como um “sinal” para o rei incrédulo (1 Reis 13:1-5).

O SERVO SOFREDOR (53)

Isaías 41-53 apresenta uma série de passagens sobre o “servo”, e termina retratando o Servo sofredor em 52:13-53:12. No auge da previsão do aparecimento desse servo, é dada uma descrição das mais reveladoras da pessoa de Jesus e a obra que ele realizaria na sua primeira vinda (Marcos 10:45). Algumas dessas características particulares não são nem apresentadas nos Evangelhos. Isaías observa que o relato não será acreditado (53:1). Descreve o Servo como não tendo beleza segundo o conceito humano, mas desprezado e rejeitado entre os homens (53:2-3). Foi considerado como desaprovado e afligido por Deus (53:4). Nas mãos dos homens ele é desfigurado além da aparência humana (52:14). Apesar de ferido pelos homens, não foi isso que trouxe a salvação, mas o fato de ter Deus colocado sobre ele as transgressões de todos nós (53:6, 10). Surpreendentemente, essa oferta “agradou” o Pai no sentido de lhe proporcionar satisfação completa com referência ao pecado. Tal coisa é comprovada pelo fato de que a única oferta do Filho proporcionou expiação absoluta do pecado e intercessão contínua em favor dos pecadores (53:10-12).

CRISTOLOGIA DE ISAÍAS

Nenhum outro livro do Antigo Testamento é tão integralmente messiânico como Isaías. Chamam- -no algumas vezes de “Quinto Evangelho” ou “Profeta Evangélico”, em virtude das muitas previsões sobre o Messias. Esse conteúdo messiânico pode ser observado em diversas categorias:

A Pessoa do Messias.

1. Ser genuinamente humano, nascido de mulher (7 :14;9:6; 53:2).
2. Ser nascido virginalmente, por concepção sobrenatural (7:14).
3. Ser Deus em carne humana (9:6).
4. Ser o Filho de Davi (9:7; 11:1, 10).
5. Ser Jeová (YHWH), o Criador de todas as coisas (44:24; 45:11-12).

O Caráter do Messias.

1. Ser humilde e sem atrativos (7:14-15; 53:2-3).
2. Ser manso, não barulhento nem rude (40:11; 42:2-3).
3. Ser justo em todas as suas ações (9:7; 11:5; 32:1).
4. Ser bondoso para com os fracos e aflitos (61:1).
5. Ser irado e vingativo para com os perversos impenitentes (11:4; 63:1-4).

A Obra do Messias.

1. Ser apresentado por um precursor no deserto (40:3).
2. Ser ungido para operar com o poder do Espírito Santo (11:2-4; 61:1).
3. Pregar e aconselhar como profeta (11:2-4).
4. Realizar muitos milagres, especialmente na Segunda Vinda (35:4-6).
5. Ser desacreditado pela sua própria geração (53:1).
6. Morrer com os perversos e ser enterrado com os ricos (53:9).
7. Ser traspassado e moído pelas nossas iniquidades (53:5).
8. Receber sobre si as iniquidades de todas as pessoas, por ordem de Deus (53:6).
9. Ser o vencedor da morte (25:8).
10. Esmagar com fúria os perversos na Segunda Vinda (34:2-9); 63:1-6).
11. Ser o Rei de Israel (9:7; 44:6).
12. Reinar, como o “Senhor dos Exércitos”, no monte Sião e em Jerusalém (24:23)

—– Retirado de: Stanley Ellisen – Conheça Melhor o Antigo Testamento.


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