A principal mensagem da Bíblia acerca de Jesus pode facilmente se confundir com toda sorte de assuntos relacionados a ela. Percebemos isso no modo que as pessoas definem ou pregam o evangelho. Contudo, é importante manter o evangelho em si claramente distinto de nossa resposta a ele ou das consequências dele em nossa vida e no mundo. Se a nossa resposta apropriada ao evangelho é a fé, não devemos tornar a fé parte do próprio evangelho. Seria absurdo chamar as pessoas a terem fé na fé! Embora o novo nascimento tenha uma relação estreita com a fé em Cristo, é um erro falar do novo nascimento como se ele mesmo fosse o evangelho. A fé no novo nascimento em si não nos salva.
É importante, portanto, entender o que o evangelho é, para incluirmos aquilo em que se deve crer, e o que o evangelho não é, para não exigirmos que as pessoas creiam em mais do que o necessário para a salvação. A Bíblia contém uma série de declarações do evangelho, das quais uma das mais claras está em Romanos 1.1-4. Com ela aprendemos quatro informações importantes sobre o evangelho:
1. O evangelho de Deus,
2. que ele antes havia prometido pelos seus profetas […]
3. acerca de seu Filho, que […] nasceu da descendência de Davi […]
4. e com poder foi declarado Filho de Deus […] pela ressurreição […]
Em primeiro lugar, trata-se do evangelho de Deus. Ele é o seu autor e quem o põe em ação. O evangelho realiza o que Deus quer que realize e do modo que ele determina. Trata dos problemas que Deus percebe e expõe. Não trata principalmente de nossas necessidades como as percebemos — como posso viver uma vida melhor, superar meus problemas emocionais, dar sentido a minha existência —, embora essas necessidades sejam contempladas. O evangelho é o meio de Deus lidar com seu “problema” de como ele, um Deus santo e justo, pode justificar e aceitar o pecador. Somente a sabedoria de Deus é suficientemente grandiosa para conceber um plano capaz de realizar isso.
Em segundo lugar, trata-se do evangelho do Antigo Testamento. Uma parte importante da teologia bíblica é entender como as promessas feitas no Antigo Testamento são efetivamente cumpridas no Novo. Em outras palavras, o uso que nós cristãos fazemos do Antigo Testamento é orientado pelo modo que enxergamos a mensagem veterotestamentária referente a Cristo e, por intermédio dele, a nós. Porque Jesus é a nossa autoridade final e definitiva, nosso interesse essencial é em como ele e os apóstolos pregavam o evangelho usando o Antigo Testamento como as Escrituras que eles seguiam.
Em terceiro lugar, há o tema claro do evangelho. Ele diz respeito ao Filho, de modo que não é a respeito do Pai nem do Espírito, tampouco do crente. O Filho é identificado claramente. Ele não é só Deus Filho, a segunda pessoa da Trindade eterna. Ele é Jesus de Nazaré, descendente de Davi, o rei de Israel. Isso define os limites do evangelho em relação ao Jesus histórico e seu nascimento em uma família importante, sua vida, morte, ressurreição e ascensão. Para pregar o evangelho, temos de falar sobre essas coisas e o significado delas para a nossa salvação.
Em quarto lugar está o fato central do evangelho, que é a ressurreição de Jesus dentre os mortos. Paulo diz que a ressurreição identifica Jesus como o Filho de Deus. A ressurreição não é percebida claramente no Antigo Testamento por razões que observaremos mais adiante. Todavia, há alguma menção do Filho de Deus como título do povo de Deus. Agora temos de perguntar como a ressurreição demonstra que Jesus é esse Filho de Deus.
—- Retirado de Graeme Goldsworthy – Introdução à teologia bíblica
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