Menu fechado

A Revelação de Deus

a autorrevelação de Deus, revelação verbal, revelação especial, revelação natural

O que é a Revelação Natural? A questão é a seguinte: biblicamente falando, o próprio Universo é uma pregação. Isso porque o cosmos, de certa forma, proclama muita coisa sobre a pessoa e a obra de Deus. Leia Salmos 19:1-4 e Romanos 1:18-22.

Esses textos não são os únicos que falam sobre isso, mas geralmente esses são os que todo mundo cita porque eles são suficientes pra gente entender o seguinte: as pessoas podem até recusar esse conhecimento, mas elas já têm o suficiente pra saber que Deus existe. E tem mais: além de saber que Deus existe, as pessoas naturalmente também sabem que existe uma forma correta de viver, porque o próprio Deus garantiu isso colocando no coração de todo mundo a noção de certo e errado, através da sua lei. Veja o texto:

De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações. Disso dão testemunho também a consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os. ) Isso acontecerá no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo, conforme o declara o meu evangelho. Romanos 2:14-16

Tá. E qual é o problema? O problema é que essa revelação natural não é suficiente pra que a gente possa saber como reverter essa situação. Ou seja, a humanidade, por si só, não é capaz de se aproximar de Deus. Em outras palavras, ainda que a lei de Deus no coração humano e as obras da natureza manifestem a grandeza, bondade, a sabedoria e o poder de Deus, elas não são suficientes para nos dar conhecimento de Deus e da sua vontade suficientes para a salvação (Rm 1:19-20; 1Co 2:9-14).

Resumindo o problema: a revelação natural é suficiente pra condenar, mas não para salvar. O motivo é que ela apenas prova que Deus existe e que somos pecadores (Rm 1:19-21,32). Só com a revelação natural, o que acontece é que o homem, além de não conseguir conhecer a Deus, ainda pode confundir o Criador com a criação (panteísmo), isolar o Criador da criação (deísmo), dar-se por satisfeito com a criação (naturalismo) ou só rejeitar o Criador (ateísmo). Todas as outras nomenclaturas que você conhece são variantes dessas.

Enfim, sem que o próprio Deus revele de si pro homem, o homem sempre acaba atribuindo ao Criador traços de corrupção, desordem e conflito que ele percebe na criação. É assim que o homem acaba fazendo imagens distorcidas da divindade e, muitas vezes, adora essas divindades que ele mesmo idealizou assim mesmo. E é daí que surgem as religiões, as filosofias e as ideologias que a gente vê por aí. O fato é que todo homem, por mais que rejeite a divindade, sempre acaba tendo os seus próprios ídolos.

Por causa do pecado do homem, a revelação natural é suficiente apenas para gerar uma religião natural, moldada de acordo com o homem natural. E agora, veja o que a Bíblia diz sobre o homem natural: “O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2:14).

Basicamente, se você prestou atenção, a questão é que o conhecimento de Deus na natureza não é suficiente para salvar porque ele mostra o problema sem mostrar a solução. Qual é esse problema? Que o homem natural já está em rebelião contra Deus. E não há nada nas informações da criação que possa reverter isso. Entretanto, não sendo suficiente o que de Deus há na natureza pra reconciliar o homem consigo, Ele mesmo veio até nós. Em várias épocas diferentes, Deus se revelou o seu povo, declarou sua vontade, deu direção e contou os seus planos para redimir os homens através do Messias que Ele enviaria (1Co 1:21; Rm 10:13-14,17). E essa revelação nós chamamos de Revelação Especial.

Essa revelação especial foi sendo passada adiante, de geração a geração, pela tradição oral, ou seja, com pais ensinando aos filhos, mestres ensinando a alunos e assim por diante, e posteriormente essa revelação foi também registrada, até chegar no que a gente chama hoje de Bíblia. Mas até aí foi muito, muito chão.

A revelação natural não consegue comunicar de forma clara pra gente as informações, porque ela comunica as coisas de uma forma subjetiva. Por outro lado, a linguagem por meio de palavras, essa sim, embora possa ser imperfeita, é capaz de comunicar a vontade de Deus, mesmo com toda a limitação do intelecto humano. Mas como? Como é que simples palavras podem fazer justiça à majestade de Deus? Como as palavras podem atravessar o enorme abismo que há entre Deus e a humanidade pecadora? Essas perguntas fazem certo sentido, mas basta que a gente admita os atributos bíblicos de Deus pra gente saber a resposta: Deus é onipotente.

Deus, sendo Todo-poderoso, se adaptou pra suprir as necessidades dessa situação em que a raça humana chegou. E na Teologia a gente chama isso de Princípio da Acomodação. Ou seja, na revelação especial, Deus adapta a sua mensagem às capacidades da mente e do coração humano. Em outras palavras, a revelação divina é um ato de boa vontade de Deus pra com a humanidade. É por esse mesmo princípio da acomodação também que, na Bíblia, com frequência a gente vê textos representando Deus como tendo boca, olhos, mãos e pés. Deus é incorpóreo e não está limitado a um espaço físico ou a uma forma. Então, ao falar de si mesmo assim, o que Deus tá fazendo é se adaptar a uma linguagem mais simples e fácil de compreender. E é dessa forma que Deus garante que não existam barreiras intelectuais contra a pregação do Evangelho.

Todos, mesmo sem instrução nenhuma ou com muita dificuldade de raciocínio, podem aprender sobre Deus e vir a crer nele.

A revelação que Deus fez de si mesmo aos homens não foi dada completa de uma vez só. Ela foi dada aos poucos, de forma gradual, progressiva. Mas tem vários detalhes importantes pra gente entender sobre isso. Por exemplo, o fato de que o único caminho para a reconciliação com Deus sempre foi Cristo. Mas as pessoas da época do Antigo Testamento não sabiam que o próprio Filho de Deus seria o Messias. Veja, elas não sabiam que o próprio Deus, na pessoa do Filho, encarnaria nascendo de uma virgem e morreria numa cruz, e isso tudo pra levar sobre si a ira justa do Pai que era contra os nossos pecados, pra que a gente pudesse ser salvo. Aquelas pessoas, do AT, apenas confiavam em Deus e eram salvas pela fé (Rm 4).

Então, Deus salvou aquelas pessoas com base em sua resposta ao conhecimento que elas tinham em cada época. A fé delas aguardava algo que elas não podiam ver, diferente de nós, que já sabemos como o Plano de Redenção foi concretizado na História – que é tanto o motivo quanto o conteúdo de toda a revelação que foi registrada na Bíblia. Então, só pra garantir, uma outra perguntinha aqui: Como as pessoas no AT eram salvas?

Enfim, este vídeo aqui é sobre o Princípio da Acomodação e sobre a revelação progressiva, certo? Até aqui você já deve ter entendido, mas eu vou explicar isso de uma outra forma. Depois que o homem foi afastado de Deus pelo pecado, a situação só mudou quando o próprio Deus foi até ele.

O pecado danificou o intelecto humano de um jeito que ele a única forma de conhecer a vontade do Senhor novamente veio realmente como uma providência de Deus. Então, a gente chama de Princípio da Acomodação o fato de Deus ter se adaptado para se fazer entendido pelos homens. Entendeu? Deus se adaptou pra se fazer conhecido. Deus se comunicou de uma forma que, agora, a humanidade pode responder a essa revelação, e essa resposta envolve tanto aspectos cognitivos quanto afetivos (raciocínio e sentimentos). Ao fazer isso, Deus foi condescendente com a gente. Ou seja, Ele cedeu de boa vontade à dificuldade da mente humana, porque de outra forma não teria como a gente entender nada.

A Revelação, então, nada mais é do que Deus se ajustando à necessidade da situação humana pra ensinar pra gente a sua vontade e revelar os seus planos. E é por esse mesmo motivo que a revelação sobre a redenção através de Cristo foi dada progressivamente, ou seja, foi dada aos poucos. Era necessário que a humanidade compreendesse aos poucos, ou então ela não compreenderia nada. Deus usou tradições humanas, se adaptou à mentalidade humana e ainda por cima deu regras bem simples, tudo pra que a gente pudesse entender.

Bom, resumindo, é o seguinte: pra que houvesse salvação, Deus se revelou à humanidade se acomodando aos limites da linguagem humana. Pra transmitir o seu plano de redenção, Ele usou os meios que a humanidade podia compreender. E isso não foi feito tudo de uma vez só. Foi feito de forma progressiva, de forma gradual. Mas como é que foi isso na prática? Por que a revelação progressiva não significa só que Deus foi falando um pouquinho de cada vez. É muito mais que isso.

Entenda o seguinte: desde o início da humanidade houve revelação. Ela não é uma coisa somente pós-queda, ou pós-pecado. Deus falava com Adão e Eva já no Jardim do Éden, não é? E lá no jardim mesmo eles não só conheceram muito sobre Deus quanto receberam também uma lei. Quando eles quebraram essa lei, Deus também foi atrás deles e conversou com os dois. Ou seja, eles ficaram sabendo ainda mais sobre Deus. Essa foi a primeira fase da revelação especial, com o próprio Deus conversando pessoal e diretamente com a humanidade. Já fora do jardim, depois do pecado, tudo o que Adão e Eva sabiam de Deus foi passado aos seus filhos, e uma prova disso é que Caim e Abel ofereciam sacrifícios a Deus (Gn 4:4,5). Ou seja, eles contaram aos filhos sobre quem Deus era, o pacto entre eles, a quebra do pacto e como Deus consertou temporariamente a situação. Isso é o que a gente chama de Tradição Oral, e foi a segunda fase da revelação especial por um bom tempo. E nessa segunda fase, a revelação direta de Deus não parou. Por exemplo, Deus falou pessoal e diretamente com Noé. Porém, era o próprio Noé que tinha que anunciar as coisas que Deus falava pra ele ao povo. Noé era um representante de Deus, assim como, depois dele, foi com Abraão, com quem Deus também falava diretamente. Mas todo o conhecimento que Deus passava era transmitido ao povo pela tradição oral. E foi assim por um tempo até que chegar a terceira fase, que começou com Moisés. Com Moisés, teve uma mudança muito importante, que foi quando o próprio Deus, depois de já ter revelado um monte de coisa pra ele, lá no monte Sinai, Ele mesmo escreveu os 10 Mandamentos em pedras. Ou seja, a gente teve a primeira revelação formal de Deus, o primeiro documento de Deus ao seu povo.

Deixa eu só fazer um adendo aqui. Antes de Moisés, já tinha acontecido toda a história do livro de Gênesis inteiro. Então, os hebreus, pela tradição oral, já sabiam de muita coisa. Obviamente não tudo que tá em Gênesis, porque o livro mesmo só foi escrito nos tempos de Moisés. E esse processo todo é muito mais complexo e tem muito mais implicações teológicas do que você imagina. É por isso que eu sugiro que você dê uma pesquisada aí depois em 2 livros bem pequenininhos, de 60 páginas cada, que são os livros que eu mesmo estou usando aqui como base desse post, que são os livros: O Mundo Antes da Lei e Quem é Esse Deus?. Os links estão lá embaixo pra você adquirir e é importante que você faça isso se quiser realmente se aprofundar nesse assunto.

Bom, então Deus revelou sua Lei e o plano da redenção gravando informações em tábuas de pedra; Ele confirmou a autoridade concedida a profetas por meio de sinais e maravilhas; veio até o seu povo através de teofanias, anjos, e ainda falou através de sonhos e visões até a conclusão do AT, que foi sendo registrado conforme a revelação caminhava. Como talvez você já saiba, há um intervalo de mais ou menos 400 anos entre o AT e o NT, onde não houve revelação nenhuma. Mas aí, nessa época, o anjo Gabriel desceu e anunciou aos pais de João Batista e de Jesus que o Messias ia nascer. Depois então, voltou a falar com o seu povo por meio de um profeta, que foi João Batista, depois pelo seu próprio Filho Jesus, e por último falou através dos apóstolos, exatamente do mesmo jeito que acontecia com os apóstolos no AT. Muitas décadas depois Deus levantou algumas pessoas pra registrar os evangelhos e escrever cartas às igrejas e, por fim, veio a última fase de todas, que foi uma última visão, que foi dada ao apóstolo João, pra que ele registrasse o livro do Apocalipse. Resumindo então, as fases da revelação foram as seguintes: Deus se revelou diretamente com algumas pessoas; conforme essa revelação era passada, ia também sendo transmitida por tradição oral ao povo; o próprio Deus registrou os 10 Mandamentos, levantou profetas, concedeu visões e sonhos; enviou anúncios por anjos; falou a nós em sua forma encarnada, na pessoa de Jesus; autorizou e inspirou o grupo apostólico; e garantiu que tudo isso fosse registrado, fechando todo o processo de revelação.

E a primeira coisa que a gente já pode pensar aqui é no fato de Deus, desde o início dos tempos, ter programado todo esse plano dele que a gente chama de Redenção. Se você entende que Deus é onipotente e que o pecado de Adão não pegou a Trindade de surpresa, então é realmente muito simples de presumir que a forma como Deus entregaria e preservaria a revelação seriam obviamente infalíveis. A segunda coisa é que desde o início o Espírito Santo foi quem separou, chamou e capacitou pessoas pra sua obra. E aqui eu nem estou falando do registro da revelação. Estou falando de tudo. Por exemplo, a primeira vez que a gente vê na Bíblia uma pessoa sendo tomada pelo Espírito pra uma causa de Deus, foi pra um trabalho estético, um trabalho artístico, lá na confecção das coisas do tabernáculo. Veja aí o que diz o texto:

Disse então o Senhor a Moisés: “Eu escolhi a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, dando-lhes destreza, habilidade e plena capacidade artística para desenhar e executar trabalhos em ouro, prata e bronze, para talhar e esculpir pedras, para entalhar madeira e executar todo tipo de obra artesanal. Êxodo 31:1-5

Até pra esse tipo de coisa era o próprio Deus que escolhia a dedo não só as pessoas, mas como tudo seria executado, porque Ele queria exatidão, queria tudo feito certinho. Imagina então pra registrar a revelação, que foi algo muito mais importante. Foi com o propósito de preservar todas as verdades sobre a salvação, a santificação, o culto, o serviço a Deus e a maneira correta de viver, que o próprio Deus, na pessoa do Espírito Santo, inspirou os autores pessoas pra que o registro foi sem erro nenhum. Inclusive, os próprios escritores foram motivados a ter esse mesmo propósito (2Pedro 1:15-16; Judas 1:3).

Além disso, os escritores sabiam que esses registros eram especificamente necessários para a direção espiritual do povo de Deus (1João 1:3-4; 2Pedro 1:19). Lendo Hebreus, por exemplo, você vê que ele deixa claro que sabia que aquilo que ele estava fazendo era justamente registrar essa última etapa da Revelação Especial (Hebreus 1:1-2). Os escritores bíblicos também sabiam que tudo o que estavam registrando tinha que ser levado muito a sério pela Igreja, pois era o próprio Deus que estava guiando os registros (2Timóteo 3:16; 2Pedro 1:20-21; 1 Tessalonicenses 2:13).

É claro que em 2Tm 3:16, quando Paulo diz “toda a escritura é inspirada”, ele podia muito bem estar pensando só no AT. Até porque, quando ele escreveu isso, a Revelação Escrita ainda não estava completa. Porém, essa foi a última carta do apóstolo Paulo, quando também três dos evangelhos já haviam sido registrados. Sabe por que isso é importante? Porque Paulo chegou a citar uma do evangelho de Lucas chamando o texto de “Escritura”, sendo que esse termo era usado somente pra se referir à Palavra de Deus. Entende o que isso significa? Que Paulo estava plenamente consciente de que o evangelho de Lucas estava em pé de igualdade com o AT. Ele sabia que o texto do NT era parte da Escritura. Se você quiser conferir a citação e o texto que ele cita, essas aí são as referências: • 1Timóteo 5:18 • Lucas 10:7.

Agora, veja bem. O mais importante é que nenhum livro do NT foi escrito às escondidas. Todos os apóstolos, os demais líderes cristãos e as comunidades cristãs estavam cientes do que estava sendo registrado. Os escritores dos evangelhos eram conhecidos nas comunidades cristãs tanto quanto Paulo, inclusive porque estavam sempre com ele (Cl 4:11,14; Fl 1:24; 2Tm 4:11; At 12:25). No mais, nós chamamos os outros livros do NT de “cartas” justamente porque foram textos escritos e enviados diretamente às comunidades cristãs (1Pedro 1:1; Tiago 1:1; Judas 1:1; Apocalipse 1:4).

Realmente, os escritores bíblicos não eram mais do que meros homens falhos como eu e você, e a inspiração para o registro da revelação não tornou nenhum deles perfeitos. Na verdade, até mesmo os apóstolos, que receberam autoridade do próprio Cristo para entregar à Igreja a continuidade da Revelação Especial depois de Jesus, mesmo nesse período não eram perfeitos. Leia o caso de Pedro, que precisou ser repreendido publicamente por Paulo em Gálatas 2:8,10-12. Outro exemplo é o da contenda entre Paulo e Barbané por causa de Marcos, em Atos 15:36-41.

É por isso que nós entendemos que apenas pra fazer o registro da revelação é que eles agiram sob inspiração, e assim a mensagem de Deus ao seu povo foi grafada de forma inerrante e infalível. E não, a inspiração divina para o registro da Escritura não foi uma perda de consciência, como uma psicografia, nem foi o conteúdo citado no ouvido dos apóstolos palavra por palavra. Os escritores estavam todos bem conscientes do que escreviam. Uma prova disso é que cada escritor escreveu de um jeito muito particular, usando palavras e expressões que estava acostumado a usar no dia a dia, mantendo também traços de sua personalidade. Pedro mesmo, ainda que fosse um apóstolo, deixou isso tão claro que admitiu dificuldade pra entender alguns escritos de Paulo. Ou seja, cada um manteve seu estilo e foi usado por Deus a partir do seu conhecimento intelectual (2Pedro 3:15-16).

Esse texto de Pedro é interessante porque ele também ensina que, apesar de inspirado, o texto bíblico nem sempre é claro e autoexplicativo, ele exige paciência, análise do texto, reflexão, estudo. Isso torna ainda mais importante aquele monte de passagens que nos chamam ao estudo da Palavra e do conhecimento de Deus (Oséias 4:6; Atos 17:11; 1Tm 4:13; 2Pe 3:17-18).

Bom, com tudo isso, ainda pode ficar a seguinte pergunta: quem garante que esse texto inspirado se manteve sem adulteração até chegar no que a gente chama hoje de Bíblia? Pra isso você só precisa entender como foi o processo do registro das Escrituras.

O primeiro texto a compor o cânon bíblico foi registrado pelo próprio Deus. Você lembra qual foi? Foi o texto dos Dez Mandamentos que Deus gravou em duas tábuas de pedra pra Moisés.  Essa então foi a primeira coleção de palavras de autoridade de Deu. Mas ela não demorou nada pra a aumentar, pra receber adições. A primeira grande adição foi feita pelo próprio Moisés que adicionou vários livros que foram inclusive depositados ao lado da arca da aliança (Dt 31:24-26). Ou seja, o povo hebreu não tinha nenhuma dúvida de que aquilo era realmente sagrado, tanto quanto os 10 Mandamentos. Aquilo era nitidamente um cânon sendo construído aos poucos. Depois Moisés, aconteceu o mesmo com Josué, que também acrescentou texto (Js 24:26). Mas veja, essas adições não eram da própria pessoa que escrevia. Eram de Deus, que era quem os inspirava. Eles faziam isso autorizados por Deus, e ainda num período que Deus não fazia nenhum rodeio pra abrir um buraco no chão e engolir falso profeta. Ninguém estava autorizado a acrescentar de si mesmo alguma coisa (Dt 4:2).

O que acontecia era que a Palavra de Deus muitas vezes era passada ao povo primeiro pela boca de profetas. Mas todos eles depois também as registravam (1Sm 10:25; 1Cr 29:29-30; 2Cr 20:34; 32:32; Jr 30:3). Esse processo foi sempre acompanhado e reconhecido pelo povo de Israel e ele simplesmente parou de acontecer lá por volta de 435 a.C., com o livro de Malaquias. Outro detalhe é que a revelação acontecia principalmente conectada a grandes atos de Deus na história da redenção. Então ninguém tinha dúvida quando isso acontecia. Por exemplo, o AT registra e interpreta pra gente o chamado de Abraão e da sua descendência, o êxodo do Egito, a viagem no deserto, o estabelecimento do povo de Deus em Canaã, sua história monárquica, o cativeiro e o retorno de lá, e aí termina com a expectativa da vinda do Messias (Ml 3:1-4; 4:1-6). E assim como no AT o Espírito Santo usou os profetas para transmitir a revelação, no NT Ele usou os apóstolos. Jesus mesmo foi quem disse aos apóstolos que o Espírito Santo os capacitaria pra recordar com precisão seus atos e palavras, tanto quanto pra interpretar corretamente isso tudo pras próximas gerações (Jo 14:26). Além disso, Jesus também prometeu uma nova revelação que completaria o cânon (Jo 16:13-14). E como foi que o Espírito os guiou por toda a verdade? Levando os discípulos a entenderem a pessoa e obra de Jesus, e entendendo como todo o AT era sobre Ele. E foi isso que eles depois registraram.

Agora, veja como é fácil entender que essas teorias da conspiração não fazem nenhum sentido. Todos os livros do Novo Testamento foram reconhecidos pela Igreja primitiva, a começar pelas cartas apostólicas, porque as igrejas sabiam da procedência do material, já que elas tinham até sido plantadas pelos próprios apóstolos. E outra coisa: se as cartas eram os meios pelos quais os apóstolos e seus associados instruíam essas igrejas, então havia plena harmonia doutrinária entre o que era ensinado pelas cartas e o que havia sido ensinado às igrejas pessoalmente. A mesma coisa aconteceu com os evangelhos, que inclusive também foram escritas pra ensinar e em defesa da fé. Todos os livros do NT, então, foram um meio pelo qual a verdade foi preservada e difundida, e se tornou a regra de fé e prática da comunidade cristã desde a igreja primitiva. Um fator importante é que os apóstolos já entendiam que o que estavam escrevendo era a Escritura e que teria peso de autoridade ao lado do AT (2Pe 3:2,15-16; Jd 1:17-18; 1Co 2:13; 14:37; 15:3; Rm 2:16; 1Ts 2:13; Gl 1:8-9). Em 2 Pedro 3:16, as cartas de Paulo são chamadas de “Escritura”, e o termo grego usado (grafe), ocorre outras 50 vezes no  NT, todas as vezes se referindo às Escrituras do AT. Da mesma forma, exatamente o que Paulo pensava também do evangelho de Lucas (10:7) chamando-o também de Escritura, ao passo que cita juntamente outros textos do AT (Dt 25:4). A gente viu isso no vídeo passado.

Não há dúvida alguma de que desde muito cedo a igreja começou a aceitar os escritos do NT como parte do cânon. Nem todas as comunidades cristãs tinham todos os textos no início, mas com a morte dos apóstolos, houve um interesse por reunir esses textos a fim de catalogá-los, encontrando aqueles escritos que já eram de reconhecida autoridade. O esforço da igreja jamais foi de conferir autoridade a certos livros ou fazer deles poderosos ou qualquer coisa do tipo, mas simplesmente encontrar quais textos sabidamente já eram Palavra de Deus e já deveriam ser adicionados ao cânon. Era só a igreja procurar pelos sinais de apostolicidade nas cartas já conhecidas pelas comunidades cristãs, que vinham do círculo dos apóstolos e eram de uso comum do povo cristão.

Entenda isso aqui: nunca aconteceu de um texto desconhecido surgir do nada e ser enfiado junto com o resto. Por isso a igreja não precisou definir quais eram os textos apostólicos, muito menos foi a igreja que conferiu autoridade a texto algum. Ela apenas encontrou os texto que já tinham autoridade reconhecida. O cânon foi entregue à Igreja, e não definido por ela. O processo de canonicidade não foi arbitrário, decidido por algum líder ou instituição, com alguém dizendo quais seriam os livros do cristianismo. O processo foi totalmente orgânico, de adaptação, percepção e debate para que fosse possível perceber quais eram os livros apostólicos; e percebendo, recebê-los.

infográfico - a revelação de deus
infográfico – a revelação de deus

A última pergunta então seria: mas e depois disso tudo, será que não houve adulteração? Será que a igreja católica, o imperador Constantino ou sabe-se lá quem mais não poderia ter corrompido a Bíblia? Então, isso é muita ingenuidade. Muita mesmo. Nem a igreja católica, nem Constantino, nem ninguém nunca teve controle sobre toda a cristandade. A igreja católica cresceu por causa do poder concentrado em Roma, e o império romano só dominava uma região específica, e não todo o planeta. O cristianismo, por outro lado, muito antes dessa época já tinha se espalhado pra todas as partes do mundo, com cartas apostólicas e tudo. Quem fala essas bobagens aí de alteração na Bíblia parece que nunca parou pra pensar que a Bíblia que a gente tem hoje não veio de uma única fonte. Não veio da tradução de um único texto. Pelo contrário! A tradução e a manuscritologia é uma ciência muito séria e trabalha com milhares de manuscritos antigos de origens totalmente diferentes.

O que você acha que acontece quando um manuscrito tem uma adulteração? Você acha que uma adulteração pula pra outro manuscrito, tipo uma doença? Essas coisas são muito fáceis de detectar. Eu podia ficar horas aqui só falando sobre arqueologia, manuscritologia e tradução. Mas a questão toda se resume a algo muito, muito simples: se você crê em um Deus Todo-poderoso, criador dos céus e da Terra, que desde a eternidade preparou os meios pra salvar o seu povo, e ainda garantiu que isso tudo fosse registrado pra posteridade, qual a dificuldade em confiar que Deus também fez o mais simples de tudo, que é preservar esse texto?

Gostem ou não os desigrejados e os seguidores do Caio Fábio, a Bíblia é a única fonte de autoridade em matéria de fé e prática; a única revelação registrada pelo povo de Deus e para o povo de Deus. A Bíblia é o único lugar onde a gente encontra a verdade sobre Jesus, que é o único meio de salvação pra mim e pra você. E você não precisa, nem deve, confiar no que eu tô dizendo. Abre aí a sua Bíblia e comece a ler. Leia toda ela. Leia todo dia. Leia tentando realmente entender o sentido original e o impacto que o escritor queria causar com o texto nos primeiros leitores, depois veja como isso se aplica à sua vida, pro nosso contexto na Nova Aliança.

Se você ficar com dúvidas sobre os manuscritos ou o processo de tradução, não tem problema, é só pesquisar. Faça um curso de Grego bíblico se quiser. Só não deixa o seu ceticismo te privar da Palavra do Espírito. Certo?

Tem um livro bem pequeno muito bom sobre a Bíblia que se chama A Espada do Espírito, caso você queira se aprofundar. O link pra você adquirir vai tá aqui embaixo. Se você ficar com qualquer dúvida, envie por email ou lá no nosso canal no Youtube.

O Mundo Antes da Lei

Quem é Esse Deus?

A Espada do Espírito

Artigos relacionados