Vamos começar pelo último: Crônicas cobre, aproximadamente, o mesmo território que 2 Samuel, enquanto 2 Crônicas cobre, aproximadamente, o mesmo período de tempo que I e 2 Reis. A maior distinção entre eles é que 2 Crônicas não inclui o relato do Reino do Norte. Seu foco está totalmente em Judá. Ê interessante notar que a primeira tradução grega do Antigo Testamento chamou esses livros de Paraleipomenon, cuja tradução é “assuntos omitidos”, ou “coisas deixadas de fora”. Crônicas deixa de fora mais que o relato do Reino do Norte. Em I Crônicas, por exemplo, a reapresentação da vida do rei Davi não conta nada de sua vida pessoal, nem os episódios relacionados com Bate-Seba nem os que dizem respeito a Absalão. Por outro lado, I Crônicas inclui coisas que não encontramos em outros livros, como as listas genealógicas que compreendem os capítulos de I — 9.
Contudo, por que há essa aparente repetição nas Escrituras? Por que a Bíblia inclui um terceiro par de livros que reconta o material histórico já tratado nos livros de Samuel e de Reis? Hoje, à hora do almoço, você pode conceber suas próprias ideias para isso, mas deixe-me lhe dizer o que aprendi quando estudei e meditei a respeito dessas questões. Os livros de Samuel e os de Reis, escritos logo após a queda dos dois reinos, funcionam como uma história de bolso para as tribos do norte, de Israel, e as do sul, de Judá. Eles tentam apresentar um registro mais completo do passado e também responder às perguntas: O que aconteceu?! Como terminamos no exílio? Primeiro e Segundo Crônicas também lidam com essas questões, mas têm um propósito geral distinto em mente. Eles parecem ter surgido no fim do exílio, ou logo após o fim dele, e ter sido escritos para estar nas mãos dos exilados no caminho de volta, ou logo após o retorno a Judá. Esses exilados que retornavam precisavam de uma ligação com seu passado a fim de orientá-los em seu retorno à terra. Por isso, I e 2 Crônicas não fornecem uma história abrangente de Israel. Antes, o material escolhido é mais seletivo, pois visa a orientá-los na recolonização da terra e na reconstrução do Templo, a encorajá-los com a fidelidade de Deus às promessas feitas a Abraão, e a Jacó, e a Davi e a lembrá-los de que as bênçãos do Senhor exigem obediência aos caminhos dEle.
Dito isso, a história apresentada por I Crônicas é ambiciosa. Observe o primeiro versículo: ‘Adão, Sete, Enos” (I.I). O cronista inicia com o primeiro homem! Se você prosseguir na lista verá que o cronista sempre segue a lmha da promessa — de Abraão para Isaque, para Jacó, e assim por diante. Assim, os versículos de 5 a 16, do capítulo I, concentram-se nos descendentes dos dois filhos de Noé, que não são antepassados de Abraão. Depois, no versículo 17, o relato muda para a linhagem de Sem, o filho de Noé que leva a Abraão. A partir desse ponto, tudo o mais nas listas parte dessa linhagem, enquanto não dá continuidade às linhagens dos dois outros filhos de Noé por mais de três gerações. Afinal, o cronista não está interessado em registrar a terra toda. Ele apresenta apenas uma geração da linhagem do filho de Abraão, Ismael (1.29-31).Todavia, a linhagem de Isaque continua indefinidamente (I.34ss). Ela inicia-se com seus dois filhos, Esaú e Israel (originalmente, chamado de Jacó). Primeiro, enumera os descendentes de Esaú, como os de Ismael. Contudo, segue os descendentes de Israel por um longo tempo, como os de Isaque. Esse é o padrão básico do cronista. Ele menciona todos os filhos de um homem com a finalidade de completar a tarefa e de mencionar a linhagem de descendentes que, eventualmente, levem a alguns dos inimigos da nação — como os filhos de Esaú, que se tornaram os edomitas. Depois, ele retorna à linhagem da promessa e a apresenta de forma mais detalhada. Fica claro que o foco é a linhagem da promessa e onde ela lidera.
Nesses capítulos iniciais do livro, o registro amplia-se para incorporar toda a raça humana como descendente de Adão e, depois, de Noé. Todavia, ele estreita-se em Abraão e segue com seu descendente, Israel, e os doze filhos de Israel. O registro amplia-se, mais uma vez, com os descendentes de Judá, filho de Israel, que é notoriamente apresentado em primeiro lugar, embora não seja o mais velho dos doze filhos (2.3ss). Por que Judá é o primeiro? Porque a linha de Judá aponta para a vinda do rei Davi, e para além de Davi, em um futuro ainda bem distante, indica a vinda de outro dessa linha real de descendentes — o Senhor Jesus.
Assim, a história termina com multidões de filhos de Adão na presença do Senhor, deleitando-se com seu Rei —- esse descendente de Abraão, de Judá, de Davi segundo a carne — e o glorificando.
——– Retirado de: Mark Dever – A Mensagem do Antigo Testamento, 342.
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