Se o mundo durar o bastante para que se escrevam os livros de história, acho que não considerarão a mais importante revolução do século XX as ganhas com tanques e torpedos, balas e bombas. E quase certo que considerem a revolução sexual a mais importante. Essa revolução iniciou-se no Ocidente e espalhou-se rapidamente, por meio de viagens e pela mídia, para muitas cidades do mundo e para além das cidades.
Nessa revolução, mudanças simples provocaram efeitos profundos. A contracepção substituiu a concepção e, aparentemente, o “custo” da atividade sexual caiu de forma impressionante. Separou-se o prazer da responsabilidade. O artifício da contracepção e as clínicas de aborto substituíram as escolas e os orfanatos. Foi como se tivessem emitido uma licença que legitimava a subjugação de cada parte de nossa vida para servir a nós mesmos. Desde essa época, crescentes percentuais do povo aceitam o divórcio, o novo casamento, o aborto, o sexo extraconjugal e antes do casamento e, até mesmo, a homossexualidade. Agora, os limites que antes pareciam fixos, parecem menos seguros. O sadomasoquismo, a poligamia, a pederastia e a bestialidade estão representados nos grupos que trabalhavam para promover sua aceitação em nossa sociedade.
A pornografia também se tornou um grande negócio. Quantos vídeos de pornografia explícita você acha que os norte-americanos alugavam em 1986? Setenta e cinco milhões. Contudo, em 1996, os norte-americanos alugaram 665 milhões de vídeos, gerando negócios de mais de 6 bilhões de reais. Na verdade, estima-se que, hoje, toda a indústria pornográfica seja um negócio de 20 bilhões de reais por ano, e relata-se que esse negócio tem enriquecido os cofres de corporações como a AT&T e a Time Warner. Como um editor de pornografia observou em uma entrevista: “A grande vantagem do capitalismo é que a ganância ignora a moralidade e o puritanismo”.
Bem, eu não sugiro que a revolução sexual seja um assunto já resolvido. Na verdade, está longe de acabar. Nos últimos anos, igrejas importantes, como a episcopal e a presbiteriana, enfrentam disputas quanto a seu posicionamento institucional em relação a assuntos de sexualidade. Do lado mais conservador, a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos e a Convenção Batista do Sul (SBC) foram forçadas a pensar e a repensar a melhor forma de responder às companhias, às instituições e às grandes forças culturais que instigam — às vezes, explicitamente, outras, com sutileza — a licenciosidade sexual e o enfraquecimento de tradições bíblicas. Ê claro que essa revolução não afetou apenas a esfera pública. No fim, os pecados da carne abrigam-se na esfera privada, pessoal. A lascívia é celebrada publicamente, mas consuma-se a portas fechadas. Pergunto-me quantas pessoas hoje comentem pecados cibernéticos. Cobiça cibernética. Lascívia cibernética. Adultério cibernético. E quem sabe quais serão os efeitos do chamado “sexo virtual”.
Algumas pessoas veem as religiões do mundo, como o cristianismo, como seus principais rivais. Todavia, acho justo dizer que, hoje no Ocidente, os principais rivais do cristianismo não são o islamismo ou o judaísmo. Não são o ateísmo ou o hinduísmo. Mas sim o erotismo — a crescente busca desinibida para realizar nossa paixão sexual da forma que nos agrada. Na última metade do século passado, o sexo e nossa atitude em relação a ele, mais que qualquer outra coisa, remodelaram nossa cultura a ponto de ela estar quase irreconhecível para os mais velhos entre nós. Em um artigo recente de uma revista, uma pessoa lamenta o que ela chama de “a lenta e constante sexualização de nossa cultura”. Ela diz que tudo, “da sinceridade da rede de notícias ao grafismo dos vídeos musicais, à obscenidade dos programas de entrevistas, influencia, inevitavelmente, nossos hábitos”. Ficamos insensíveis em relação à vida em si mesma. Até “o desamparo está perdendo seu poder transformador”.
Para que não ouçamos essa ladainha das doenças sociais e, em razão disso, sintamos-nos, de forma excessiva e hipócrita, abrigados pela segurança moral da igreja, é melhor que nos lembremos que não permanecemos intocados. Esse não é apenas um problema da sociedade lã de fora. Muitas igrejas descobriram que seus membros estão contaminados pelo fracasso matrimonial e por casos ilícitos, pelos chamados pecados “privados” que se tornam desgraça pública, alguns dos quais vieram a público, e outros, ainda não. Um estudo da nossa Convenção Batista do Sul descobriu que a média de divórcio entre os membros das igrejas batistas do sul não está melhor — talvez até esteja pior — que entre a população em geral. E crescente a entrada furtiva de imagens pornográficas no campo de visão, até mesmo dos cristãos mais cuidadosos. Para encontrá-las, você não precisa entrar em lojas chinfrins e à beira da estrada. Você precisa apenas dar uma olhada na lateral dos ônibus municipais, nas prateleiras da fila do caixa do supermercado, nos anúncios no jornal, na contracapa de uma revista ou nos comerciais que passam na televisão para encontrar ilustrações em que criaturas, complexas moral e espiritualmente, feitas à imagem de Deus, para conhecer o Senhor e desfrutar dEle para sempre, são retratadas como nada mais que instrumentos carnais para o prazer e a satisfação momentâneos.
Como cristãos, como devemos responder à revolução sexual? Como nos encaixamos nessa investida a nossa sociedade, a nossas igrejas e a nós como indivíduos e que traz todos nós ao limite da desintegração total e da ruína final? Alguns dizem que deveríamos apenas seguir nossa cultura e render-nos aos nossos desejos, ser hedonistas, não ser ansiosos, descobrir o benefício da liberdade e acabar com a auto-repressão. Outros, que seguem mais o impulso estóico, sugerem que deveríamos negar esses desejos todos, reprimir a carne, pois não somos meros animais. Todavia, nenhuma dessas duas respostas se encaixa realmente ao que Deus nos fez para ser como seres humanos e, portanto, não são apropriadas a nós como cristãos.
——– Retirado de: Mark Dever – A Mensagem do Antigo Testamento.
Leia a continuação aqui:
• Introdução a Cantares
• Como Desfrutar da Intimidade Física
• A Celebração Bíblica do Prazer
• Construindo Intimidade Relacional