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A Teologia do livro de Obadias

Devido a essa absoluta falta de informação em que basear um contexto histórico, a questão mais debatida sobre este livro é a determinação de sua data. Três teorias mais importantes são propostas: a teoria da data mais antiga colocaria o livro no reino de Jeorão (848-841 a.C.), sob cujo reinado os edomitas escaparam ao controle de Israel em uma rebelião registrada em 2 Reis 8.20-22. A data pré-exílica mais recente colocaria a agressão mencionada por Obadias no reinado de Acaz (731-715 a.C.), quando o enfraquecido reino de Judá foi atacado por uma coalizão de nações palestinas (cf. 2 Cr 28.16-19, em que a expressão ―Pois de novo os edomeus‖ no versículo 16 deveria ser notada). O ponto de vista pós-exílico situa o livro por volta de 585 a.C., logo após a queda de Jerusalém diante de Nabucodonozor, a quem uma vaga referência é feita no salmo 137.7. Variações desse ponto de vista colocam a agressão edomita logo antes do tempo de Neemias, na época da revolta de Megabizo, o general persa (c. 450 a.C.).

Alguns estudiosos apontam para uma suposta dependência de Joel 2.32 para com Obadias 17 como prova para datar este último no século 9. No entanto, já que a data de Joel é mais incerta ainda, tal argumento não chega a ter peso significativo. Embora tanto a data no século 9 quanto a data no século 8 a.C. sejam aceitáveis, este autor é mais inclinado a relacionar o livro de Obadias aos sofrimentos do tempo de Jeorão, quando a própria Jerusalém foi atacada pelos exércitos combinados dos filisteus, vindo do Oeste, e árabes, vindos do Leste. Forças edomitas podem ter se juntado mais tarde à luta [apesar de não termos registro de sua presença contra Jerusalém]. O fato de ter havido uma rebelião nessa época torna essa ocasião preferível ao tempo de Acaz, quando nenhum ataque a Jerusalém é registrado. A frase: ―Pois de novo os edomeus, tendo invadido Judá‖, em 2 Crônicas 28.17 [com relação ao reinado de Acaz], encontraria explicação natural se um primeiro ataque tivesse ocorrido 100 anos antes, no reinado de Jeorão.

PROBLEMA INTERPRETATIVO

Os últimos sete versículos do oráculo de Obadias referem-se ao estabelecimento do reino messiânico e ao julgamento contemporâneo de Edom. No entanto, Edom, como nação, deixou de existir muito tempo atrás, quando os idumeus – edomitas que haviam sido expulsos de seu território por árabes nabateus e mais tarde foram forçados a assumir a cultura judia por João Hircano – se aliaram aos judeus contra Roma e foram dizimados pelas legiões de Tito. Será que esses dois fatos da história, futura e passada, podem ser harmonizados? Este autor vê como única alternativa viável uma dupla referência ao termo Edom; julgamentos históricos vieram contra Edom como nação em várias fases de sua história até seu aniquilamento final. O julgamento escatológico, de outro lado, virá a todos os inimigos de Israel, dos quais Edom [no que diz respeito a Obadias] é o arquétipo, fundamentado na inimizade milenar entre Esaú e Jacó. Apoio para este ponto de vista é encontrado em Isaías 34.2-5, em que o julgamento escatológico é uma vez mais o objeto da profecia.

ARGUMENTO BÁSICO

O livro de Obadias é dividido em quatro partes, cada qual relacionada a um aspecto da ruína prometida a Edom. Na primeira parte, o profeta descreve tal ruína como certa e completa. Nações serão reunidas por Deus para a batalha e os inacessíveis palácios de Edom serão pilhados, enquanto seus motivos de orgulho, seus valentes guerreiros e sábios veneráveis, serão destruídos. Mesmo que outras nações sejam poupadas da total destruição, Edom será saqueada pelas próprias nações em quem ela confiava como aliadas. A segunda divisão do livro descreve as causas do castigo de Edom. A violência injustificada contra o indefeso Judá traria a eliminação nacional (v. 10). O desprezo e falta de compaixão de Edom contra Israel em seu dia de infortúnio são a segunda acusação (v. 11,12). O tema de injustificada violência contra os refugiados indefesos reaparece nos versículos 13 e 14. A seguir, Obadias utiliza o constante tema do Dia do Senhor e o relaciona ao castigo retributivo de Deus contra Edom e todas as nações que se opõem a Israel. A taça de prazer de Edom, bebida às custas do sofrimento de Jerusalém, será substituída pela taça da punição de Edom no tempo em que Jerusalém for abençoada. Nisso, Edom serve como arquétipo para todos os inimigos de Yahweh (v. 15,16). A mensagem final relaciona a ruína de Edom com a restauração final de Israel (v. 17- 21). Os ingredientes básicos de tais passagens são aqui encontrados: a santidade de Sião (v. 17), a possessão da terra por Israel (v. 17,19, 20), a função judicial de Israel (v. 18), a reunião dos exilados israelitas (v. 20), e o estabelecimento de uma teocracia direta centralizada em Sião (v. 21). Obadias é, de certa forma, um microcosmo da visão e conteúdo proféticos do Antigo Testamento. Ele extrai das promessas abraâmica e davídica para pintar seu sucinto, porém vívido, quadro da justiça divina em ação

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