Por Lucas Rosalem
A Igreja de Cristo tem sido atacada de várias maneiras e por vários grupos: ateus, comunistas, outros religiosos e até algumas classes de crentes (desviados e desigrejados). A maneira com que as pessoas pensam na Igreja Invisível e na igreja local parece divergir um pouco, provavelmente por falta de esclarecimento dos líderes sobre algumas questões bíblicas realmente muito claras.
Sem leitura da Palavra não há conhecimento de Deus, nem crescimento, mas sobra confusão.
Antes de tudo, gostaríamos de apresentar uma definição prática do que é a igreja e por que ela existe: Deus escolhe e preserva para si uma comunidade eleita para a vida eterna unida pela fé que, em conjunto, ama, segue, aprende e o adora.
Deus envia essa comunidade para proclamar o Evangelho e prefigurar o Reino de Cristo pela qualidade de sua vida em conjunto e seu amor uns para com os outros. A vida em comunidade, portanto, diz tudo sobre nossa comunhão com Cristo.
Congregar nos é ordenado, mas é impossível reunir todos os cristãos do mundo em um só lugar. Então, a Igreja Local se trata das pessoas que se reúnem em um lugar específico. Quem está unido a Cristo, está unido a todos os cristãos. Porém, essa existência universal precisa ser viva e atuante. A solução, desde os tempos bíblicos, foram as igrejas locais, porque o Senhor espera que seus filhos se relacionem, se edifiquem e se organizem para que a nossa missão seja menos penosa.
Pergunta: Se Cristo só tem 1 Igreja, quem é a Igreja de Cristo?
Na Bíblia, inúmeras passagens falam de “igrejas”, no plural. Então, os desigrejados não podem dizer que não haja igrejas ou que cada parte da igreja espalhada pelo mundo não possa ser chamada por si só de igreja. Alguns desigrejados usam o problema da institucionalização para fazer suas acusações, mas isso também não faz sentido.
No Brasil, uma igreja local precisa ser registrada como um tipo de empresa, e isso tem sido usado de pretexto por muitos que simplesmente não querem compromisso, não querem ser instruídos, repreendidos, corrigidos, nem servir de bênção para outros irmãos.
Ninguém tem dúvidas de que para ser igreja, localmente, não precisamos de CNPJ, mas na maioria dos casos isso não é uma opção, pois essa é uma burocracia imposta de cima para qualquer entidade com movimentação financeira, mesmo filantrópicas.
O governo vê a igreja como empresa e nós não negamos que muitos líderes também a vejam dessa forma, mas isso não nos dá justificativa para acusar todos os cristãos, todas as igrejas e todos os pastores, rejeitando o próprio projeto da igreja local, que foi iniciado pelos apóstolos e sustentado pelo Espírito Santo.
Pergunta: A Igreja tem culpa do estado tratá-la como empresa?
A COMUNHÃO
Vamos começar pelo óbvio, pelo que a Palavra inspirada pelo Espírito Santo diz:
“Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho no qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha partida, aparecerão no meio de vocês lobos vorazes, que não pouparão o rebanho” (Atos 20:28-29).
É fato que Deus ordenou sua Igreja a eleger pastores, mas pastores tementes a Deus.
“Aos presbíteros que há entre vocês, eu, presbítero como eles, testemunha dos sofrimentos de Cristo e, ainda, coparticipante da glória que há de ser revelada, peço que pastoreiem o rebanho de Deus que há entre vocês, não por obrigação, mas espontaneamente, como Deus quer; não por ganância, mas de boa vontade; não como dominadores dos que lhes foram confiados, mas sendo exemplos para o rebanho. E, quando o Supremo Pastor se manifestar, vocês receberão a coroa da glória, que nunca perde o seu brilho” (1 Pedro 5:1-4)
Se há especificações para que um pastor seja biblicamente aprovado, é porque há falsos pastores. E, sem dúvida, há mesmo, aos montes!
Quem foge do pastoreio bíblico, ou é lobo ou está correndo direto para a boca de um.
É possível congregar nos reunindo na casa de um irmão, assim como em um salão alugado ou comprado. O importante é que nos reunamos, inclusive porque há algumas coisas que não são possíveis de obedecer a Cristo sem uma igreja local (seja com prédio próprio ou não), como o batismo e a ceia; além do fato óbvio de que a comunhão é o meio que o próprio Deus escolheu para nos abençoar de várias formas que Ele não fará de outra maneira.
Entenda: Deus sabe o que iremos pedir muito antes que as palavras nos venham aos lábios, mesmo assim Ele espera que oremos. Ele poderia falar conosco direto em nossa mente, mas espera que leiamos sua Palavra.
Ele poderia nos santificar e moldar nosso caráter simplesmente estalando os dedos, mas espera que isso aconteça a partir dos relacionamentos entre irmãos, e é por saber também que somos insuficientes em nós mesmos que nos concede dons a fim de edificarmos uns aos outros em comunidade.
Quando Deus nos chamou à comunhão do seu Filho (1Co 1:9), Ele também nos chamou à comunhão com toda a sua família (1Co 5:2).
Não é uma comunhão fria e burocrática, medida numericamente (frequência nos cultos, constância nos dízimos, etc.). É uma comunhão verdadeira, mantida por nossas decisões individuais e por algo que está muito além da decisão humana: a Obra e a Pessoa de Cristo.
Para um cristão verdadeiro, consciente de quem Cristo é e do que Ele fez, não há sentido algum em dizer que não faz parte ou não quer fazer parte da família de Cristo. Isso seria tão insensato quanto arrancar a própria mão ou o nariz. “Não podem os olhos dizerem à mão: ‘não precisamos de ti’, nem ainda a cabeça aos pés: ‘não preciso de vós'” (1Co 12:21).
Ninguém é Igreja sozinho, porque a Igreja é o corpo de Cristo. Um dedo fora do corpo não é mais corpo, é apenas uma parte morta.
Além disso, Cristo tem apenas uma noiva, uma igreja. Ou nós somos parte dela (nos relacionando, edificando e corrigindo uns aos outros, cuidando para que todos se tornem mais conscientes de Cristo) ou a rejeitamos (quando desprezamos o convívio com aqueles pecadores que o próprio Espírito Santo tem agido para transformar).
Sem essa noção de igreja como um grupo que se reúne, é impossível até mesmo mantermos as metáforas usadas por Cristo e os apóstolos: uma família, uma comunhão, um corpo, uma noiva, um povo, um templo, uma senhora e seus filhos, etc. Aliás, o NT nunca retrata o cristão como alguém que vive fora dessa comunhão por muito tempo.
AMANDO O PRÓXIMO
Alguns “aceitam Jesus” e acham que isso é tudo. “Já me converti, agora quero uma vida na minha“. Mas Isso é o contrário de amar o próximo, é se esconder atrás do nome de Jesus para adorar a si mesmo.
“Bom, eu já entendi o Evangelho… cada um que se vire!” Esse parece ser o pensamento de alguns que dizem amar a Cristo, mas odeiam a igreja.
Será que é preciso explicar que essa não é uma demonstração legítima de fé?
Dentro da igreja existe uma ideia parecida: “o que importa mesmo é que já sou evangélico, que estou aqui”.
Ora, e a missão da Igreja? Como crerão se não há quem pregue? Para os que odeiam a comunhão, a pergunta é: como caminharão se não houver nenhum imitador de Cristo para lhes dar a mão?
É fácil dizer que amamos “o próximo” quando isso só tem valor abstrato e impessoal. Se você quer realmente amar o próximo, permita-nos sugerir que comece amando primeiramente aqueles que compõem a noiva de Cristo. Não diga que ama a Cristo e ao próximo se não consegue amar um grupo concreto e próximo.
Pergunta: Pode alguém amar o próximo se rejeita seus irmãos?
ODIAR A IGREJA É ODIAR DIRETAMENTE A CRISTO
Odiar o convívio com os irmãos e tudo o que fazemos reunidos em nome de Cristo, mais parece uma declaração de apostasia do que de mera preguiça de ir aos cultos. Por que digo isso?
É simples: se o centro do culto cristão deve ser a Pessoa e a Obra de Cristo, então todos os elementos desse deveriam apontar para Ele, nos tornar mais conscientes dele e nos fazer mais semelhante a Ele. Não estou dizendo que todas as igrejas sejam cristocêntricas (e isso é realmente um problema!), mas deixar de congregar ao invés de pelo menos procurar por uma igreja cristocêntrica é rejeitar tudo que o culto cristão simboliza.
E o que ele simboliza?
O Evangelho!
Os sacramentos (ou ordenanças), por exemplo, foram instituídos por Jesus e são sinais e selos visíveis de que estamos unidos a Ele e uns com os outros em uma comunidade de adoradores por sua morte e ressurreição. Gostem alguns ou não, é pelo uso que fazemos desses sinais que o Espírito Santo declara plenamente e sela as promessas do Evangelho para nós.
- Batismo. É um selo visível que acontece uma só vez na vida do cristão, onde ele declara que também faz parte da família da Aliança. É uma porta de entrada na comunidade local.
- Ceia. É um selo repetido regularmente em memória do que Cristo fez, onde declaramos que estamos conscientes de sua obra e participamos juntamente com Ele.
- Você pode não entender para que esses sinais servem, mas para um discípulo de Jesus basta saber que eles foram ordenados, e isso é irrevogável.
O mais natural é que aqueles que foram regenerados pelo Espírito participem desses sinais com prazer, sabendo que eles apontam para Cristo.
Assim também, quando lemos a Escritura, oramos, cantamos e somos instruídos pela Palavra juntos, estamos certos de que esses são instrumentos de Deus para nos tornar mais semelhantes ao seu Filho e a manifestar nosso desejo de conhecer mais dele e sermos preparados para falar a outras pessoas o que Ele fez a fim de reconciliar o homem com Deus.
Discussão: O que é a Igreja? Qual a diferença entre Igreja Visível e Invisível, e Universal e Local? O que significa Comunhão e como ela acontece na prática? Como demonstramos que seguimos a Cristo? Por que não é possível amar a Cristo e desprezar seus seguidores?