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O Renascentismo, Eramos e a Reforma

O Renascentismo, Eramos de Roterdã e a Reforma

A partir de meados do século XI, surgiram vários papas reformadores, que procuraram moralizar a administração da igreja, lutando contra diversos males que a assolavam. O mais notável foi Hildebrando ou Gregório VII (1073-1085), que notabilizou-se por sua luta contra a simonia, ou seja, o comércio de cargos eclesiásticos, e ficou célebre por sua confrontação com o imperador alemão Henrique IV. Ele escolheu como lema do seu pontificado o texto de Jeremias 48.10: “Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente”. Todavia, o ápice do poder papal ocorreu no pontificado de Inocêncio III (1198-1216), considerado o papa mais poderoso de todos os tempos, aquele que, mais do que qualquer outro, concretizou o ideal da “cristandade”, ou seja, uma sociedade plenamente integrada sob a autoridade dos reis e especialmente dos papas. Ele foi o primeiro a usar o título “vigário de Cristo”, ou seja, o papa era não somente o representante de Pedro, mas do próprio Senhor. Seus sucessores continuaram por algum tempo a fazer ousadas reivindicações de autoridade sobre toda a sociedade, sem contudo transformá-las em realidade como o fizera Inocêncio.

A redescoberta renascentista do grego, juntamente com o ad fontes dirigido para as fontes do Cristianismo, resultou na edição impressa de Erasmo do Novo Testamento grego, em 1516. Essa foi uma ponte através da qual muitos estudantes foram guiados do renascimento para a Reforma.

O Renascentismo e Eramos de Roterdã

Vemos esse fato nas duas primeiras das noventa e cinco teses de Martinho Lutero: Quando nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo disse: “Arrependei-vos”, ele quis dizer que toda a vida dos crentes deveria ser uma vida de arrependimento. A palavra não pode ser entendida como referindo-se ao sacramento da penitência — ou seja, confissão e satisfação — como administrado pelos sacerdotes.

Aqui, Lutero apela à palavra grega para “arrependimento”, a qual, devido à tradução da Vulgata latina poenitentiam agite, “fazer penitência”, anteriormente era entendida como referindo-se ao sacramento da penitência.

A devoção de Erasmo ao Novo Testamento grego é bem conhecida. É talvez menos conhecido que ele era quase tão dedicado, tanto nos caminhos eruditos quanto nos espirituais, aos pais da igreja primitiva. Ele editou e reimprimiu muitos escritos dos pais, convidando os leitores a encontrarem neles um Cristianismo mais puro do que o que estava disponível nas fontes medievais. O próprio modelo de Erasmo foi o grande Jerônimo: o erudito celibatário que consagrou os seus dons intelectuais para promover a causa da verdadeira fé.

Erasmo também alimentou o fogo da reforma. Seu desagrado com os desvios do catolicismo romano medieval, articulado frequentemente em sátiras devastadoras, ajudou a criar na mente das pessoas uma prontidão para remédios drásticos. Seu “Elogio da loucura” é geralmente considerado como o exemplo supremo de escritos de Erasmo nesse gênero. Para mim, muito mais cômico é o seu “Júlio excluído do céu”, no qual a alma do Papa Júlio II (1503-1513) chega às portas do céu, apenas para descobrir que São Pedro não o reconhece e nega-lhe a entrada, pelo que Júlio ameaça excomungar o apóstolo.

O final do século XV e início do XVI testemunhou o pontificado dos chamados “papas do Renascimento”, os quais, ao contrário de muitos de seus predecessores ou sucessores, tiveram escassas preocupações espirituais e pastorais. Como papa Alexandre VI (1492-1503), o espanhol Rodrigo Borja dedicou-se prioritariamente a promover as artes e a embelezar a cidade de Roma; Júlio II (1503-1513) foi um papa guerreiro, comandando pessoalmente o seu exército; e Leão X (1513-1521) teria dito ao ser eleito: “Agora que Deus nos deu o papado, vamos desfrutá-lo”. Foi ele quem despertou a indignação do monge agostiniano Martinho Lutero ao autorizar a venda de indulgências para concluir as obras da Catedral de São Pedro. O resultado dessa indignação é conhecido de todos.

Até o início da década de 1530, o trono pontifício continuou a ser ocupado por homens excessivamente envolvidos em questões seculares e políticas. Essa situação mudou quando Alessandro Farnese tornou-se o papa Paulo III (1534-1549). Farnese nomeou uma comissão de cardeais que avaliou a situação da igreja e propôs medidas saneadoras, entre elas que o papado se concentrasse nas suas tarefas espirituais e deixasse em segundo plano a preocupação com o poder, a opulência e a dignidade terrena. Outras duas grandes realizações de Paulo III foram a aprovação formal da nova ordem dos jesuítas ou Companhia de Jesus (1540) e a convocação do Concílio de Trento (1545-1563).

Esse famoso concílio afastou definitivamente qualquer possibilidade de conciliação com os protestantes. Desde então, o catolicismo conservador e militante tem sido designado como “tridentino” (de Trento). Entre as suas muitas e importantes resoluções, o concílio reafirmou o papel dominante dos papas na vida da igreja.

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