INTRODUÇÃO
Nesta última lição em João, daremos atenção especial aos sinais registrados no livro e às declarações que Jesus fez sobre si mesmo.
I. O PONTO DE VISTA DE JOÃO
• João é o único que nos relata que, muito antes dos apóstolos, o primeiro trabalho de evangelismo bem sucedido foi o de uma mulher samaritana (Jo 4:27-30, 39-42).
• João é o evangelho menos simpático aos judeus. Enquanto Mateus, Marcos e Lucas preferem usar o nome do grupo dos fariseus e dos saduceus na disputa com Jesus, João muitas vezes trata-os apenas como “judeus”, mostrando que o problema era generalizado entre o povo da Aliança.
Ele até chega a dizer isso: “os judeus não se dão com os samaritanos” (Jo 4:9).
Sendo ele mesmo judeu, João é o único a enfatizar como os judeus haviam se tornado impiedosos e sem nenhuma compaixão, desprezando seus próprios irmãos. Lembre-se de que os samaritanos eram uma mistura de Israel (menos as tribos Judá e Benjamim) e povos pagãos.
Ele é o único que registra o que os judeus pensavam sobre os samaritanos, num episódio em que eles tentam insultar a Jesus:
“Responderam, pois, os judeus e lhe disseram: Porventura, não temos razão em dizer que és samaritano e tens demônio?” (Jo 8:48).
Além disso, João é o único que mostra um fariseu indo ter com Jesus (3:1), saindo em sua defesa (7:50-52) e ajudando na preparação do corpo de Jesus após sua morte (19:39).
II. OS SINAIS EM JOÃO
João registra nove sinais. Sete deles são durante o ministério de Jesus. O oitavo é a ressurreição e o nono é a grande pesca (21:6).
Os sete primeiros foram escolhidos com propósito muito claro, seguindo o objetivo maior do livro.
Vejamos cada um deles:
1 – Água em vinho.
No cap.2, depois de dizer que ainda não havia chegado a sua hora (v.4), Jesus transforma água em vinho em secreto, na frente apenas dos discípulos, sua mãe e os servos (v.9). Mais à frente, o texto relata: “estando em Jerusalém […] muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome” (v.23).
João está enfatizando o propósito dos sinais que Jesus fazia.
2 – Cura do filho do oficial.
Antes da cura, Jesus havia conversado com a samaritana no poço. Nessa passagem, há um sinal que não numeramos: o conhecimento de Jesus sobre a vida da mulher.
Esse sinal, unido ao restante do diálogo, foi suficiente para que ela cresse nele como Messias. Essa foi a primeira missionária, tendo testemunhado em sua cidade, na qual, sem nenhum sinal, muitos vieram a crer que Jesus era “o Salvador do mundo” (4:39-42).
Em seguida, o texto diz que Jesus foi para a Galileia, onde muitos sabiam dos seus sinais (v.45). Quando o oficial do rei aparece suplicando pela cura do filho, as palavras de Jesus reforçam o propósito dos sinais, dizendo que sem os sinais o oficial não creria (4:50).
Vamos abrir um parêntese aqui, antes de continuarmos com a sequência dos sinais. Para completar a informação do relato anterior, leia Mc 6:4-6 e Mt 13:56-58.
Os sinais eram dados apenas àqueles que já estavam prontos para ver e crer. Os sinais não serviam para gerar fé. Eles eram apenas para confirmar a fé de algumas pessoas (nem todas precisavam) que estavam sendo preparadas por Deus para aguardar o Messias.
Tomé precisou ver. Mas ele não foi inferior aos demais apóstolos nesse sentido, pois o que ele pediu era justamente o que se havia dado aos demais.
Veja João 20:20,24-25.
O fato é que os sinais apenas atestavam a realidade da qual os judeus já tanto haviam sido avisados. Tomé, muito mais do que aquele que duvidou, foi o maior confessor de todos os discípulos em todos os evangelhos; o único dos discípulos a declarar Jesus como Senhor e Deus (20:28).
3 – Cura do paralítico.
A cura aconteceu no sábado (5:9,10). Jesus fez isso tanto para confrontar a crença legalista dos judeus quanto para colocar-se como Filho de Deus, o que os judeus entenderam perfeitamente, e por isso, quiseram matá-lo (5:16-19).
Se Jesus não falava da parte de Deus, como Ele poderia fazer milagres no sábado, se isso era proibido segundo a tradição rabínica?
Esse foi o ponto desse sinal.
4 – Multiplicação dos pães.
Multiplicar comida para o povo no deserto, por si só, já era um ato que lembrava a provisão de Deus ao seu povo depois da saída do Egito. Mas o que se segue ao sinal é um sermão ainda mais específico, no qual Jesus diz ser Ele mesmo o Pão da Vida (6:35-51).
É também nesse discurso que muitos discípulos se afastam de Jesus depois de ouvirem de sua boca: “ninguém pode vir a mim se pelo Pai lhe não for concedido” (v.65).
5 – Andando sobre o mar.
Depois de andar sobre o mar, Jesus repreende a multidão por segui-lo apenas por causa dos sinais. Diante disso, a multidão pergunta o que se haveria de fazer para praticarem as obras de Deus (v.28), ao que Jesus responde mais uma vez provando a tese de João: “A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” (6:29).
6 – Cura de um cego.
Veja a declaração do homem curado: “Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença. Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer” (9:32,33).
A cura foi tal que os judeus não podiam questionar a autoridade daquele que curava.
7 – Ressurreição de Lázaro.
Nas crenças rabínicas, um morto poderia ser ressuscitado pela instrumentalidade de um homem de Deus até o terceiro dia. Como base para isso, eles usavam casos do AT de ressurreições realizadas por Elias e Eliseu.
Na crença dos rabinos, depois do terceiro dia, ninguém teria condições de realizar esse feito, mesmo sendo profeta de Deus.
Ao ressuscitar Lázaro apenas no quarto dia, Jesus estava confrontando a teologia dos rabinos: eles precisavam admitir que Jesus era Deus ou abandonar suas crenças. Até mesmo pelos fariseus, aqueles sinais eram esperados apenas do Messias que viria. Então, segundo a própria ideia dos rabinos, ou Jesus era Deus ou suas crenças estavam erradas.
Os judeus, diante dos sinais, eram totalmente indesculpáveis.
Perceba que os sinais estão postos numa sequência crescente até seu ápice: a ressurreição de Lázaro. Mas eles ainda seriam superados pela ressurreição de Jesus, mostrando seu poder sobre a morte.
Isso já havia sido anunciado por ele aos seus opositores. Veja como Jesus respondeu aos judeus que pediam a Ele um sinal: “Destruam este templo, e em três dias eu o levantarei” (2:19). Ele estava falando de sua ressurreição, e isso foi lembrado pelos discípulos (2:21,22).
III. O NOME DO SENHOR
Qual era a expressão máxima para provar que o Deus de Israel era o único verdadeiro?
No AT, Deus muitas vezes dava ordens e direção a Israel apenas depois de dizer “Eu sou”. Veja algumas dessas passagens: Gn 15:1,7; 26:24; 35:11; Ex 3:14; 6:29; 29:46.
O próprio nome pactual de Deus, entregue aos hebreus a Moisés na libertação do povo do Egito, dava a ideia de “Eu sou”.
Em Hebraico, isso fica bastante evidente, pois a grafia do nome de Deus (הוהי) é parecida com a da expressão “eu sou” (היהא).
Dizer “Eu sou”, além de ser uma afirmação soberana de identidade, era a marca da apresentação de Deus aos hebreus.
João mostra Jesus como Messias, como servo e como homem. Mas as declarações mais importantes de Jesus em João são as que começam com “Eu sou”.
Ao todo são 10 declarações, e todas elas constam apenas em João.
Jesus diz “Eu sou”:
• O Messias (4:25-26);
• O Pão da vida (6:35,48,51);
• A Luz do mundo (8:12);
• A Porta das ovelhas (10:7,9);
• O Bom Pastor (10:11,14);
• A Ressurreição e a Vida (11:25);
• O Caminho, a Verdade e a Vida
(14:6);
• A Videira Verdadeira (15:1,5).
As outras duas estão em João 8:24-28 e 58. Leia os versos.
A última referência mostra que o significado das palavras de Jesus foi uma declaração tão óbvia de divindade aos ouvintes que eles imediatamente “pegaram em pedras para atirarem nele” (v.59).
Jesus estava dizendo, sem deixar dúvidas, que era o próprio Iavé: o mesmo Deus que criou o mundo; o mesmo Deus que se revelou a Moisés no passado e que salvou Israel tantas vezes.
IV. O DEUS PESSOAL
As declarações mais conhecidas de Jesus estão no evangelho de João. Duas delas, talvez as mais importantes, não foram ditas às multidões, mas a pessoas em particular, em privado.
É à mulher samaritana que Jesus confessa, em privado e pela primeira vez, ser Ele o Messias. Além disso, é para ela que Jesus faz uma das declarações mais fortes sobre a mudança das alianças (4:21-26).
A outra declaração, definitivamente a mais importante e impactante de toda a Bíblia, considerada o texto central da revelação, está em João 3.
Não é difícil imaginar que boa parte dos evangélicos, por falta de leitura bíblica, pense que essa declaração tenha sido feita às multidões, tal como muitas outras.
Porém, ela foi feita em particular, apenas ao fariseu Nicodemos (3:1,2). É a Nicodemos que Jesus declara a necessidade de nascer de novo para ser salvo (v.3) e nascer da água e do Espírito (v.5); diz que o Espírito atua apenas em quem Ele quer (v.8); declara também sua divindade (vv.13,17); e diz ser Ele a vida eterna (v.15).
Obviamente, o verso central de toda a passagem é o 16.
Pode ser interessante ver a passagem inteira olhando cada verso, percebendo que tais declarações foram feitas especificamente a Nicodemos: João 3:1-21.
Agora, deixe que a próxima curiosidade impacte o seu coração.
O autor do evangelho havia andado com Jesus. Ele também havia lido todas as cartas de Paulo. Paulo, por sua vez, escreveu suas primeiras cartas antes de qualquer evangelho ter sido escrito, andou com os evangelistas e terminou seus escritos por volta do ano 67 d.C., quando foi decapitado em Roma.
Em outras palavras, o apóstolo Paulo, assim como Pedro, Tiago e todos os demais apóstolos jamais chegaram a ler João 3:16.
Já pensou nisso? O verso central das Escrituras nunca foi lido pelos grandes homens escolhidos por Jesus, mas foi entregue a mim e a você. Paulo nunca leu, por exemplo, “no princípio era o Verbo”.
Tendo isso em mente, vamos encerrar as lições em João lendo novamente João 1:1-14. Esse texto foi escrito para mim e pra você.