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O PROFETA JOEL

Não se pode determinar com precisão a data do ministério do profeta Joel, portanto, nem a data da autoria de seu livro canônico, mas o tom do livro no todo parece mais condizente com o período do exílio ou logo depois dele.13 Joel descreve o desnudamento da terra por causa da conquista estrangeira, uma devastação tão completa do campo como se tivessem pululado gafanhotos sobre ela, comendo tudo por onde passavam (J1 1.1-7). O profeta, depois de convocar seus ouvintes a lamentar (w. 8-12), chama-os a se arrepender para o iminente “dia do Senhor”, um tempo de julgamento tão severo que a recente devastação da terra não seria nada em comparação com ele (1.13-20). O refrão: “O dia do Senhor” é uma marca do livro, havendo cerca de nove ocorrências dele nessa forma ou similar (1.15; 2.1,2,11,31; 3.14,18).14 Conforme já observamos, esse é um termo técnico que, na verdade, refere-se ao julgamento de Deus na época escatológica.15 Aqui, Joel vê a destruição da nação por exércitos humanos como um presságio do julgamento do Senhor que, com certeza, viria, e ainda com maior fúria.

Nesse dia final, o Senhor, como guerreiro celestial, lideraria seus exércitos contra seus inimigos, incluindo seu próprio povo escolhido. Nunca um exército como esse fora reunido antes nem jamais haveria outro semelhante de novo (Jl 2.2). A imagem de nuvens, escuridão, fogo e terremoto fala claramente da presença divina, de uma demonstração extraordinária de glória e de poder associada ao Senhor transcendente da criação e da consumação. À luz desse iminente dia de ajuste de contas, o povo de Deus só podia se voltar para ele em sincero arrependimento, rasgando o coração, não as vestes (v. 13). Uma vez que eles fizessem isso, o Senhor expulsaria os invasores da terra (da época; w. 18-24) e restauraria seu povo de tal modo que eles reconheceriam que ele estava entre eles como seu Deus (com a exclusão de todos os outros deuses) e que jamais enfrentariam humilhação de novo (nos dias por vir; w. 25-27). O dia do Senhor também se caracterizaria por profunda renovação espiritual (w. 28,29), cataclismo cósmico (w. 30,31) e salvação de todos, judeus e gentios, que invocassem o nome do Senhor (v. 32). As nações, por sua vez, seriam julgadas por sua perversidade com o povo escolhido (J13.1 -3), maldição intrínseca à aliança abraâmica para quem amaldiçoasse a semente de Abraão (Gn 12.3). Quanto a Israel, embora eles pudessem vivenciar invasão das nações inimigas circunvizinhas, o Senhor os libertaria. A seguir, seria introduzida uma era de paz e de prosperidade (w. 17,18), um tempo infindável na presença do Senhor, que habita no Sião (w. 20,21).

A teologia do relato de Joel é simples.16 Ela gira em torno da ideia de que as nações, até mesmo a escolhida de Deus, têm de prestar contas ao Senhor e devem ser julgadas quando ficam aquém da justa expectativa dele. Contudo, se elas se arrependerem podem ser perdoadas, no caso de Israel, pode ser restabelecida como seu povo servo. O que não for resolvido na história pode ser resolvido, e será, no dia do Senhor, no qual ele endireitará tudo.

—- Retirado de: Eugene Merrill – Teologia do Antigo Testamento

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