O livro de Zacarias consiste de oito visões, quatro mensagens, e dois oráculos ou ―pesos‖. Esta combinação de formas literárias tem como objetivo básico: Encorajar a comunidade pós-exílica a permanecer fiel à aliança lembrada por Yahweh1 e por Ele eventualmente usada como base para estabelecer Seu governo sobre Israel e as nações por meio de Seu Servo, o Renovo, Messias. Na introdução (1.1-6), o profeta desafia o remanescente a voltar-se para Yahweh à luz da certeza da mesma disciplina divina que receberam seus pais por sua recusa a responder aos alertas proféticos anteriores. Diante da situação descrita em Ageu 1, a exortação era bem fundada e muito necessária. O propósito de encorajar a nação renascida é posteriormente alcançado por meio das oito visões, todas recebidas em uma noite (15 de fevereiro, 519 a.C.). Essas oito visões encorajam a comunidade pós-exílica ao descreverem o controle de Yahweh sobre as nações e relembrar Sua promessa de julgar as nações quando o Renovo restaurar completamente o templo e suas atividades religiosas e unir os papéis de rei e sacerdote (1.7–6.8).
A primeira visão (o homem entre as murtas e a patrulha de cavalos, 1.7-17) indica que apesar de as esperanças de uma divina reorganização dos reinos ainda não ter se materializado (cf. Ag 2.6,7), Yahweh continuava no controle e cuidava de Jerusalém com tal zelo que garantiria a reconstrução da cidade e do templo. A segunda visão (quatro chifres e quatro artesãos, 1.18-21) registra as intervenções providenciais de Yahweh na História, levantando nações como instrumentos dos Seus juízos e determinando sua queda por meio de novos instrumentos utilizados para alcançar Seus propósitos para Seu povo.
A terceira visão (o homem com um cordel de medir, 2.1-13) encorajava o povo, ao prometer que o próprio Yahweh habitará com Seu povo em uma Jerusalém renovada e repovoada após Seu julgamento contra os inimigos de Israel. A quarta visão (as vestes de Josué, o Sumo Sacerdote, 3.1-10) encoraja a nação, ao demonstrar que a purificação de Israel (representada por Josué, o representante autorizado da nação) é uma ação misericordiosa de Yahweh. Ele, no futuro, purificará completamente a nação de seu pecado por intermédio do Renovo, trazendo uma época de paz sem precedente para Israel. A quinta visão (o castiçal e as duas oliveiras, 4.1-14) tem como objetivo encorajar o povo mostrando que apesar de alguns considerarem o esforço para a reconstrução do templo sem importância, Deus estava envolvido nisso e Sua capacitação pelo Espírito era a ajuda necessária para a complementação do projeto que os dois agentes de Deus, sacerdócio e realeza, haviam iniciado. A sexta visão (o pergaminho volante, 5.1-4) encoraja a conformidade à aliança ao relembrar Israel das maldições impostas àqueles que quebram a vontade revelada de Deus. Os dois mandamentos mencionados provavelmente representam as duas tábuas da Lei e demonstram a inerente incapacidade de Israel em obedecer a Deus. A sétima visão (a mulher dentro da vasilha, 5.5-11) foi dada como lembrete de que o mal estava ligado à Babilônia e para desencorajar qualquer esperança política ou econômica que Israel pudesse ter com respeito ao lugar que eles haviam sido instruídos a abandonar (cf. 2.7).
A oitava e última visão (as quatro carruagens, 6.1-8) relaciona-se tematicamente à primeira; portanto, ela fala do controle de Deus sobre a terra, com a diferença de que aqui a ira de Deus (espírito) parece se acalmar, o que sugere que seu povo foi vingado. A propósito, essa idéia é seguida pela ação simbólica da coroação de Josué, o sumo sacerdote, por meio da qual Yahweh indica a unificação dos dois cargos na pessoa do Renovo, o qual Josué tipifica (6.9-15). Essa seção termina com uma promessa condicionada à obediência de Israel. Na segunda divisão do livro, o encorajamento se mistura a uma exortação divina contra a religiosidade superficial da nação, enquanto o desafio à obediência se baseia no fato de que a decisão de Yahweh pela restauração é tão forte quanto Sua decisão de disciplinar Israel no passado (7.1–8.23). A primeira das quatro mensagens repreende o povo pela sua motivação religiosa insincera, fingindo tristeza pelas conseqüências do pecado sem, no entanto, se preocupar com o próprio pecado (7.1-7). A segunda mensagem relembra as ordens de Deus que, ao serem ignoradas, provocaram o julgamento da geração pré-exílica de Israel, motivando assim a presente geração à obediência (7.8-14). A terceira mensagem pinta uma visão idílica das condições do Israel restaurado, com paz, prosperidade e longevidade para o povo em virtude da presença de Yahweh entre os israelitas (8.1-13). As promessas e a manifestação de Yahweh são condicionais à obediência do remanescente às ordens expressas na aliança (8.14-17). A quarta e última mensagem (8.18-23) é extremamente encorajadora, ao prometer que as razões para os jejuns seriam removidas e os jejuns seriam transformados em júbilo. Tal será a grandeza de Israel que as nações estrangeiras, agora opressoras, se converterão à fé e ao Deus de Israel.
A terceira parte do livro (9.1–14.21) contém dois oráculos ou ―pesos‖, com respeito às duas vindas do Messias, indicando que mesmo Sua rejeição pelo povo e a disciplina que se seguiu a essa rejeição – a dispersão entre as nações e o sofrimento sob o domínio de um pastor falso e ganancioso (9.1–11.17) seriam vencidas por ocasião de Sua segunda vinda, quando Jerusalém se arrependerá de sua loucura de rejeitar o Messias, será libertada do ódio que lhe votam as nações e receberá grandiosidade e santidade inauditas no reino messiânico (12.1–14.21).