As excelentes verdades iniciadas com Abraão são confirmadas e progridem a cada geração. O processo continua com José (Gn 37—50). Ele é o décimo primeiro filho de Jacó e o primeiro nascido de Raquel. Quando tinha dezessete anos, os seus irmãos o venderam, por inveja, a comerciantes ismaelitas. Estes, por sua vez, venderam-no a um alto funcionário do Egito. Por motivo de falsas acusações, José é preso, mas é libertado um tempo depois porque interpretou os sonhos do faraó. Aos trinta anos de idade, ele recebe um posto elevado na administração do Egito. Quando seus irmãos vêm ao Egito comprar trigo por causa da grave fome em Canaã, José acaba deixando que eles o reconheçam, e todos se reconciliam. Finalmente, os irmãos são persuadidos a trazer Jacó e as famílias deles para se estabelecerem no Egito.
No fim da narrativa, as palavras de José nos ensinam o significado do episódio: “Certamente planejastes o mal contra mim. Porém Deus o transformou em bem, para fazer o que se vê neste dia, ou seja, conservar muita gente com vida” (50.20). Podemos nos perguntar por que Deus não salvou a vida deles mandando chuva e produzindo boas colheitas em Canaã. Segundo tudo o que aprendemos sobre a aliança, o Egito não era o lugar certo para o povo de Deus se assentar. A intenção de Deus não era que essas pessoas fossem servas de um rei estranho em uma terra estrangeria. Só vamos ficar sabendo a razão disso à medida que a narrativa se desenvolve.
Uma observação final de Gênesis. Depois do reencontro de José com sua família, chegamos ao momento da morte de Jacó. Antes de morrer, ele faz duas coisas significativas. Reconhece os dois filhos de José, Efraim e Manassés, como seus próprios filhos (48.5). Isso os torna cabeças das meias-tribos, que sempre são contadas entre as tribos de Israel. Jacó deixa claro que essa adoção faz parte do cumprimento da aliança (48.3-6). Ele também abençoa os dois jovens, mas cruza as mãos, de modo que a sua destra da bênção fique sobre a cabeça de Efraim, o mais novo (48.8-14). Depois reúne os doze filhos e pronuncia bênçãos proféticas sobre cada um deles. Dessas doze bênçãos, a que deve ser observada com mais atenção é a dirigida a Judá, pois, ao abençoá-lo, Jacó assevera: “O cetro não se afastará de Judá, nem o bastão de autoridade de entre seus pés…” (49.10). De Judá (os judeus) viria Davi e a sua linhagem real, que acabaria levando a Jesus de Nazaré.
Essa função de liderança da tribo de Judá será muito ressaltada na revelação posterior. Como veremos no capítulo 17, a linhagem real de Davi recebe as promessas divinas que concentram todos os planos de Deus para seu povo no rei, como representante do povo de Deus. Por essa razão é preciso distinguir os judeus (de Judá) de Israel como um todo. Com essa distinção, podemos entender o que Jesus quis dizer quando falou à mulher samaritana que “… a salvação vem dos judeus” (Jo 4.22). A profecia de Jacó a respeito de Judá também explica a história do reino dividido (após a morte de Salomão), em que Judá, o reino do sul, é governado ininterruptamente pela dinastia de Davi de, aproximadamente, 925 a.C. a 586 a.C., enquanto o reino do norte, Israel, teve cerca de treze dinastias ao longo de um período de dois séculos (925 a.C. a 722 a.C.).
• A estada no Egito, de José, e depois de toda a família de Jacó, parece contradizer as promessas da aliança de Deus. No entanto, vê-se que Deus abençoou o seu povo no Egito, e as promessas da aliança são transmitidas aos filhos de Jacó.
—- Retirado de Graeme Goldsworthy – Introdução à teologia bíblica
Leia também os posts:
• O EVANGELHO DE JESUS CRISTO.
• VERDADE FUNDAMENTAL, MAS QUE NÃO É EVANGELHO.