É o próprio Espírito Santo que conduz o crescimento da Igreja, sem influência de pecado algum, sem interesses duvidosos, nem práticas duvidosas. Por outro lado, nenhuma denominação está isenta de pensamentos corrompidos, pois são organizadas a partir de decisões de pessoas comuns, imperfeitas, com seus próprios gostos, tendências pecaminosas e experiências (às vezes, traumáticas).
Claro que o Espírito Santo sempre usou pessoas, mas nem tudo que elas fazem coopera para a obra do Espírito. A igreja cristã sempre tentou tornar suas crenças bem claras e compreensíveis aos novos na fé. Para isso, a cristã sempre se reuniu para conversar sobre a Bíblia e estabelecer explicações sobre aquilo que cria, desde as suas crenças mais básicas. Isso serviu para defender a fé, mas também para que os novos convertidos não precisassem começar tudo do zero ou aprender tudo por conta própria. O fruto da reflexão e debate dos cristãos ao longo das épocas gerou credos e confissões de fé que ajudaram manter o alinhamento do pensamento cristão com a Bíblia.
Muitas passagens do NT são credos, ou seja, declarações de fé, onde o escritor declara a realidade e o conteúdo da sua fé. Credo significa “eu creio”. No NT, vemos evidências claras de que havia um corpo doutrinário fixo da Igreja (2Ts 2:15; At 2:42; Fp 1:27; 2:16; Rm 6:17; 16:25; Gl 6:6; 1Co 11:2; Cl 2:6; 1Ts 4:1; 2Ts 2:15 ; Hb 3:1; 4:14; 10:23). Os credos nada mais são do que declarações de fé com os pontos considerados essenciais.
Um relato interessante está em Atos 8: após Filipe explicar a fé cristã ao eunuco, este o perguntou o que o impedia de ser batizado, já que havia água perto deles; ao que Filipe respondeu: “Você pode, se crê de todo o coração“. A resposta do eunuco foi um credo firmado no que acabara de ouvir e entender: “Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus” (At 8:37). Nesta declaração, o eunuco confirmou compreender que o Messias profetizado pelo profeta Isaías 700 anos antes era Aquele que viria para perdoar pecados, e que se tratava do próprio Deus encarnado. “Filho de Deus” pode parecer muito diferente de “o próprio Deus encarnado”, mas isso será explicado na lição 8 com mais profundidade. A questão importante aqui é que a explicação do Evangelho ao eunuco foi tão clara que ele pôde dizer com categoria em que consistia a base da fé que havia assumido.
Depois do fechamento do cânon bíblico, os cristãos continuaram elaborando credos e confissões de fé que tanto combatiam erros e heresias quanto ajudavam a explicar e confirmar aspectos das suas crenças. O primeiro documento histórico nesse sentido é o “Credo dos Apóstolos”, que foi uma elaboração sucinta definindo a doutrina base da Igreja. Originalmente, foi elaborado justamente para ser uma confissão de fé para o batismo dos que iam se tornando cristãos, semelhante ao caso do eunuco. Pessoas novas só eram inseridas na comunidade cristã (ou seja, reconhecidas como parte da Igreja) mediante confissão da sua fé e batismo. O uso constante da confissão causou algumas modificações com detalhamentos, até chegar ao registro que temos hoje. O texto em Português do Credo dos Apóstolos é assim:
Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra.
Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Católica; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém.
Os católicos usam esse credo como uma reza, por isso, os evangélicos talvez se sintam desconfortáveis com partes como “concebido da virgem Maria” e “Santa Igreja Católica”. No entanto, as duas afirmações são bíblicas e verdadeiras. Maria era virgem ao conceber Jesus, e a Igreja de Cristo é católica, ou seja, universal: composta por todos os salvos, de todas as eras e nações, quer estejam vivos ou aguardando a ressurreição.
Cada item do credo apostólico é uma afirmação importante na fé cristã, ainda que algumas denominações evangélicas não manifestem seu interesse em estudar a história da Igreja Cristã. Quanto a ser usado como reza, sem dúvida é um mau uso do credo. Mas a repetição, sim, faz sentido.

O CREDO DOS CRISTÃOS
“A Bíblia é a Palavra de Deus ao homem; o credo é a resposta do homem a Deus. A Bíblia revela a verdade em forma popular de vida e fato; o credo declara a mesma verdade em forma lógica de doutrina. A Bíblia é para ser crida e obedecida; o credo é para ser professado e ensinado” (Philip Schaff – teólogo protestante e historiador da Igreja Cristã).
Pregar o Evangelho, como o caso de Filipe e o eunuco nos prova, não é um convite a uma mudança de vida, pois a vida cristã não é uma lista de regras. O que explica a mudança de vida que acontece naqueles que são regenerados pelo Espírito Santo, em primeiro lugar, é a própria ação santificadora do Espírito, mas há um fator determinante também na própria mensagem. Por quê? Porque evangelizar é explicar verdades que modificam a percepção do mundo e da realidade. É a partir da crença que emerge toda a vida cristã. A fé cristã dá sentido à vida, dá propósito porque ela responde o maior dilema do Universo: Deus existe? – E se Deus existe, há um jeito certo de viver, não se pode viver de qualquer jeito. É por essas e outras que todos os cristãos precisam se dedicar a entender melhor sua fé.
