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A Teologia do livro de Ezequiel

O propósito do livro é demonstrar à nação exilada que a glória de Yahweh não fora de nenhuma maneira ameaçada pela captura e destruição de Jerusalém e do Templo, mas que tais eventos eram parte do plano de Yahweh para revelar Sua glória não só ao Seu povo, mas para todas as nações, enquanto Ele julgava o pecado em Israel e além.

Para esse fim, o profeta faz repetida menção à glória de Deus (doze vezes no livro todo) e do compromisso de Deus de fazer Seu nome (i.e., Ele próprio em Seu caráter, Seu plano e Seu poder) notório (mais de sessenta ocorrências em Ezequiel) a todos. Ezequiel realiza seu propósito a princípio ao demonstrar como a glória de Deus será revelada na humilhação, na destruição e no cativeiro de Jerusalém em razão de sua rebelião idólatra contra o Soberano Senhor (1.1–24.27). A primeira divisão aqui descreve a preparação de Ezequiel para ser o mensageiro de Yahweh a uma nação rebelde (1.4–3.27). Sua visão da glória de Yahweh incluía querubins (1.4-14), que são um tipo de guarda de honra para a presença santa de Yahweh, as rodas (1.15-21), que falam de maneira material da onipresença de Yahweh, o firmamento e o próprio trono (1.22-25, 26-28) que retratam o resplendor e a glória de Yahweh. Essa presença assombrosa será sentida ao longo do livro, por sua manifestação, sua partida (caps. 8–11), sua ausência e seu retorno (cap. 43). Depois da visão, Ezequiel é comissionado (2.1–3.27) para proclamar destemidamente a mensagem do juízo de Yahweh a uma nação rebelde. A comissão vem quando Deus manda que o profeta coma um rolo de livro, uma figura freqüente da revelação de Deus de Seu plano. Ao levita-profeta são prometidas proteção e força de Yahweh (3.4-9). Ele deverá ser atalaia com uma mensagem de juízo (3.16-27). O versículo 3.26 indica que Ezequiel foi emudecido exceto pelos tempos em que ele atuava em sua capacidade oficial como mensageiro de Yahweh à casa rebelde. A segunda visão (4.1–24.27) contém mensagens de reprovação e juízo. Essas contêm algumas ações simbólicas indicando a punição de Israel (cerco, profanação, fome e dispersão; 4.1–5.17). Essas ações são seguidas por dois discursos proféticos que apresentam as causas para o juízo divino, os ídolos de Israel, altos e altares (6.1-14), e a natureza do juízo – total desalento, a chegada do dia, um tempo de caos social e econômico, de fome, doença e correntes das quais as riquezas de Israel não o poderão livrar (7.1-27).

Seguindo com sua mensagem de juízo, Ezequiel descreve alguns dos grandes pecados que haviam provocado a disciplina de Yahweh contra Israel e a partida da Sua glória divina de sua habitação no templo (8.1–11.25). A visão das abominações no templo mostra quão profundamente o pecado penetrara na vida de Israel (8.1-18), ao passo que a visão do escriba e dos destruidores iguala tal profundidade de pecado com a intensidade do juízo resultante (9.1-11). Os capítulos 10 e 11 revelam a maneira em que Israel será julgado, com a partida da glória e a remoção dos líderes. Contudo, no meio do juízo, a promessa de restauração para um remanescente humilde brilha como uma pequena luz em meio a uma crescente escuridão. A esmagadora mensagem de juízo é depois retratada por meio de dramatização (12.1- 28) e mensagem (13.1–19.14). Dois incidentes do cotidiano do profeta lidam com as circunstâncias do cerco vindouro: o carregar sua bagagem por um buraco na parede (12.1-16) retratava a futilidade da tentativa do rei de fugir de Jerusalém, enquanto a dramatização de Ezequiel no momento da refeição revelou os sentimentos de medo e ansiedade que os israelitas certamente provariam em breve (12.17-28). Algumas das causas do juízo vindouro são esboçadas nas sete mensagens que se seguem. Os falsos profetas que negavam juízo iminente e diluíam os pecados da nação pereceriam com ela (13.1-23). A liderança idólatra seria indubitavelmente julgada com uma nação pela qual a intercessão era fútil (14.1-23).

Ezequiel, por intermédio de três parábolas, demonstra outros pecados pelos quais Israel se fez culpado. A parábola da vinha acentua a infidelidade e a inutilidade de Israel para Yahweh (15.1-8); a parábola da adolescente desviada (16.1-63) revela a ingratidão e a prostituição espiritual de Israel. A parábola das duas águias, mais uma vez, menciona a volubilidade política de Israel misturada com restauração, pois há a promessa da saída de um remanescente dentre os exilados na Babilônia (17.1-24). As duas últimas mensagens nessa seção apontam para o cinismo histórico de Israel (18.1-32) com base no qual desejava culpar as gerações passadas e, em última análise, Yahweh por sua situação futura. Em 19.1-14, um canto fúnebre para os últimos e ineptos reis expõe a falta de liderança espiritualmente qualificada de Israel que poderia ter evitado a punição agora inevitável (19.1-14). A seção de juízo do livro termina com o contraste entre o implacável juízo vindouro (20.1-32) e a indestrutível esperança de uma restauração pactual futura (20.33-44), seguido por um retrato do papel da Babilônia como instrumento de vingança de Deus, uma espada para punir nações de toda espécie (20.45–21.32). A isso se segue uma recapitulação do desrespeito histórico de Judá pelas estipulações da aliança e do expurgo nacional que ele finalmente ocasionará (22.1-31). A infidelidade de Israel é destacada na parábola das duas irmãs, em que a ingratidão e as alianças idólatras determinam o destino de Aolá – Samária (já selado em 722 a.C.) – e de Aolibá – Jerusalém (que viria em breve), a destruição nas mãos daqueles cuja proteção e provisão elas haviam preferido à de Yahweh (23.1-49). Enquanto o profeta ilustra o cerco e a destruição da cidade por meio da comparação com a panela (24.1-14), ele recebe a notícia de que a sua esposa morrerá, mas que ele não poderá fazer luto por ela. Isso retrata a destruição do templo, o orgulho e a alegria de Israel e centro da vida na aliança. O mensageiro de juízo cumpriu sua obra de acusação, e uma mensagem mais doce se encontrará em seus lábios daqui em diante. Seguindo o padrão também encontrado em Isaías e Jeremias, Ezequiel dedica a segunda parte de sua profecia a oráculos de destruição contra as nações vizinhas. A maioria destes está ligada à política babilônica do século 6 a.C., mas Ezequiel faz questão de que todo o cenário seja visto: Yahweh é o verdadeiro instigador e ator no drama.

Assim, Amom será julgado por sua insolência (25.1-7), Moabe por seu orgulho e desprezo por Yahweh (25.8-11). O oportunismo egoísta de Edom é aqui assinalado para juízo (25.12-14), enquanto os filisteus serão destruídos por sua maliciosa vingança contra Israel (25.15-17). Ezequiel dedica uma quantidade incomum do texto a Tiro. Muito possivelmente, a autoconfiança arrogante da cidade retratava alguém cujo espírito energizava o rei de Tiro (caps. 26 e 28). O rei da Babilônia será o instrumento de Yahweh para afundar o poderoso navio do estado tiriano (27), disseminando luto e dor entre aqueles que comerciavam com Tiro e partilhavam na sua adoração idólatra. Sidom (28.20-26) também será submersa pela maré caldéia, e o Egito, apesar de sua história, não será capaz de evitar pesados ataques projetados contra ele por Nabucodonozor. O Egito, fonte indigna da confiança para Israel, finalmente é julgado por meio de acusação divina (v. 29), da proclamação do juízo (v. 30), da demonstração de quão inúteis se provariam suas tentativas de fuga, como tinham sido para a Assíria (v. 31), e de um canto fúnebre para o Egito (v. 32).

A terceira e última parte da profecia (33.1–48.35) diz respeito à restauração final de Israel (caps. 33–39) e ao glorioso estabelecimento do reino de Yahweh entre os homens, centrado em uma nova Jerusalém na qual Ele habita (caps. 40– 48). Ezequiel mais uma vez é comissionado como atalaia, compartilhando as boas novas da restauração, mas novamente indicando a necessidade de uma reação individual ao alerta divino contra o pecado (cap. 33). A mensagem de esperança, ilustrada pela cura da mudez de Ezequiel, coincide com a confirmação de sua mensagem de destruição (33.21- 33). A fonte de esperança para Israel não seriam mais os pastores indignos de confiança que a nação tivera durante as últimas gerações, mas seu genuíno Pastor, que realmente guiará e alimentará Seu povo (cap. 34). Edom, sempre o arquétipo dos inimigos de Israel, será destruído (cap. 35), e os montes de Israel, outrora amaldiçoados (cap. 6) agora partilharão a bênção de uma nação renovada (cap. 36), não mais usados como centros de idolatria, mas fornecendo eloqüente testemunho da fidelidade de Yahweh à aliança e o Seu zelo pelo próprio nome. Israel passará por uma renovação espiritual de acordo com a restauração física da sua terra (36.24-38). O capítulo 37 descreve a renovação espiritual e a reunificação política que compõem a restauração escatológica de Israel, um evento sobrenatural que acontecerá no contexto de uma conflagração mundial na qual os adversários escatológicos de Israel serão afugentados pela intervenção direta de Yahweh (caps. 38 e 39), um evento que será seguido pelo derramar do Espírito de Deus sobre toda a nação arrependida.

Essa renovação espiritual será expressa em uma religião renovada, em que não se permitirá nenhuma impureza, com um novo e glorioso templo ao qual a glória de Yahweh retornará para nunca mais partir (43.1-12) e onde sacerdotes justos ministrarão segundo a instrução de Yahweh (43.13–46.24). A abundância de detalhes tanto no templo quanto em seu culto se iguala às mesmas características de revelação divina, quando Israel recebeu o tabernáculo, que era a visível manifestação da presença de Yahweh com Seu povo durante a Antiga Aliança.1 As características físicas da Palestina serão alteradas de modo a manifestar a natureza vivificadora do relacionamento entre Yahweh e Seu povo, com um rio fluindo do templo (47.1-12), uma nova divisão entre as tribos (47.13–48.29), a grandeza da cidade e suas portas (48.30-34) e a majestoso esplendor da Jerusalém renovada, onde Yahweh habita em glória (48.35).

A manifestação universal da glória de Yahweh virá quando Jerusalém for humilhada com destruição e cativeiro, e depois restaurada como habitação da glória de Yahweh quando Ele obtiver a vitória máxima contra Seus inimigos e julgar o pecado de todas as nações.

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