“Onde estiver a arca, ali Javé sempre estará presente”.
Em que sentido, porém, deve ser entendida a presença de Deus?
Qual destas opções você foi ensinado que a arca era?
(1) testemunha daquela presença;
(2) uma garantia da presença de Javé;
(3) um sinal ou penhor da Sua presença;
(4) um domicílio da Divindade;
(5) idêntica com Javé;
(6) uma extensão e representação da Sua presença.
Basicamente, a arca era um penhor da presença de Deus, porque aquela presença não era automática nem mecânica. Somente existia quando aquela presença era “agarrada pela fé” conforme Israel logo aprendeu em 1 Samuel 4:1-7:2. Não se tratava, tampouco, da mera “santidade de objetos”. O Senhor não se contentava somente com mera exterioridade de coisas, nem com mera interioridade. Ambos os aspectos eram importantes: o interno e o externo.
No início de 1Samuel, vemos que a religião de Israel se encontrava no nível mais baixo que já se registrara, nos dias de Eli. Ele falhou, não ensinando seus próprios filhos a reverenciarem a Deus: “ … não se importavam com o Senhor” (1Sm 2:12). Sob sua jurisdição, eles assumiram responsabilidades sacerdotais, abusando das pessoas que vinham oferecer sacrifícios e adorar. Não somente furtavam de Deus, exigindo a porção sacerdotal antes dos sacrifícios serem feitos, mas também se comportavam de tal modo que o povo abominou a ideia de levar seus sacrifícios a Silo. Também profanaram o santuário com a vileza e o deboche comuns à religião dos’ cananeus. Conforme já seria de esperar, recusavam-se a dar ouvidos às reprimendas amargas de seu pai contra a conduta deles. Não é de surpreender que Israel tivesse continuado a degenerar-se, caindo em práticas religiosas crescentemente corruptas.
Foi nessa atmosfera abominável que Samuel foi criado na infância, sob os cuidados de Eli como fora entregue. Consagrado a Deus e encorajado por sua piedosa mãe, Samuel cresceu no meio ambiente do tabernáculo, impermeável para a ímpia influências dos filhos de Eli. Um profeta cujo nome não ê dado repreendeu a Eli porque ele honrava mais a seus filhos do que a Deus (veja 1Sm 2:27 ss). Sua lassidão provocara o juízo de Deus; por conseguinte, seus filhos perderiam a vida e um sacerdote fiel haveria de ministrar em lugar deles. A reiteração desse decreto foi revelada a Samuel, quando Deus falou com ele durante anoite (veja 1Sm3:1-18).
Súbita e rapidamente essas palavras proféticas tiveram cumprimento. Quando os assustados israelitas perceberam que estavam sendo derrotados em um encontro com os filisteus, conseguiram convencer os filhos de Eli para que trouxessem a arca da aliança, objeto mais sagrado de Israel, ao campo de batalha. A religião chegara a um nível tão baixo que o povo acreditava que a arca que representava a própria presença de Deus, poderia salvá-los da derrota. Contudo, não puderam forçar Deus a servi-los. A derrota dos israelitas foi esmagadora. O inimigo capturou a arca, matando os filhos de Eli. Não admira que quando Eli ouviu as chocantes notícias de que a arca caíra em mãos filisteias tivesse desmaiado e morrido!
1 Samuel 7 traça um contraste entre o modo que os filhos de Eli foram lutar contra os filisteus e o modo que Samuel conduziu o povo. Não há indicação em 1 Samuel 4 de uma preparação espiritual. Eles tão-somente entraram em batalha e perderam. Então levaram a Arca na batalha como um tipo de talismã, e em resultado disso, a batalha e a Arca foram perdidas (Roy B. Zuck – Teologia do Antigo Testamento, 139).
Aquele foi um dia fatal para Israel. Embora a Bíblia nada diga sobre a destruição de Silo, a outras evidências que dão a entender que, nessa ocasião, os filisteus reduziram a ruínas o santuário central que havia conservado as tribos unidas. Quatro séculos mais tarde Jeremias advertiu os moradores de Jerusalém para que não pusessem sua confiança no templo (veja Jr 7:12-24 e 26:6-9). Assim como os israelitas haviam confiado na arca para sua segurança, por semelhante modo, a geração de Jeremias supôs que Jerusalém na qualidade de lugar da habitação de Deus, não poderia cair nas mãos das nações gentílicas. Jeremias sugeriu que considerassem as ruínas de Silo e tirassem proveito desse exemplo histórico. As escavações arqueológicas mostram que Silo fora reduzida a ruínas no século XI a. C. Sua destruição, nesse tempo, explica o fato de que pouco depois os sacerdotes oficiavam em Nobe (veja 1Sm 21:1). Também é digno de nota, nessa conexão, que Israel em ocasião alguma, tentou trazer a arca de volta para Silo.
A vitória dos Filisteus desmoralizou eficazmente os israelitas. Quando a nora de Eli deu à luz a um filho, mui apropriadamente lhe deu o nome de “Icabode’’, porquanto ela sentia profundamente que a bênção divina fora retirada de Israel (veja 1 Sm 4:19-22). O nome dessa criança significa “ Onde está a glória?” , ao mesmo tempo que talvez demonstre que a religião cananeia já conseguira penetrar no pensamento israelita, porque para os devotos de Baal, tal nome seria uma alusão à morte do deus da fertilidade.
O lugar de Samuel, na história de Israel, é singular. Sendo o último dos juízes, ele exercia jurisdição civil por toda a terra de Israel. Outrossim, ele obteve o reconhecimento de ser o maior profeta de Israel desde os tempos mosaicos. E ele também oficiava como principal sacerdote, embora não fosse da linhagem de Arão, à qual pertenciam as responsabilidades do sumo sacerdócio.
A Bíblia preserva comparativamente pouco acerca do ministério real desse grande líder. Quando Eli faleceu e a ameaça da opressão filisteia tornou-se mais pronunciada, mui naturalmente os israelitas se voltaram para Samuel esperando liderança. Depois de haver escapado do despojamento do santuário de Silo, Samuel estabeleceu morada em Ramá, onde erigiu um altar. Não há qualquer indicação, todavia, de que Ramá se tenha tornado o centro religioso ou civil da nação. O tabernáculo, que de acordo com SI 78:60 fora abandonado por Deus, não é jamais mencionado em conexão com Samuel. Israel retomou a arca das mãos dos filisteus (veja 1Sm 5:1 – 7:2), mas esta foi conservada em Quiriate-Jearim, na casa particular de Abinadabe, até aos dias de Davi. Aparentemente não esteve em uso público durante esse período. Samuel, não obstante, cumpria deveres religiosos oferecendo sacrifícios em Mispa, Ramá, Gilgal, Belém e onde quer que visse necessidade disso por toda a terra. Continuou desincumbindo-se dessa função, mesmo após ter entregue as questões civis a Saul. Com a passagem dos anos, Samuel reuniu ao seu redor um grupo de profetas, sobre os quais ele exercia considerável influência (veja 1Sm 19:18-24). É muito provável que Natã, Gade e outros profetas, ativos na época de Davi, tivessem recebido seu estímulo da parte de Samuel.
A fim de executar suas responsabilidades judiciais, Samuel dirigia-se anualmente a Betei, Gilgal e Mispa (veja 1 Sm 7:15-17). Poder-se-ia inferir que, nos primeiros anos antes que houvesse delegado responsabilidades a seus filhos, Joel e Abias (veja 1 Sm 8:1-5), ele teria incluído localidades distantes como Beerseba, nos seus circuitos por toda a nação. Deve se lançar no crédito de Samuel que ele se impôs sobre os israelitas para que expurgassem a adoração nos moldes do culto cananeu, em suas fileiras (veja 1 Sm 7:3 ss.). Em Mispa, o povo se reuniu penitente para orar, jejuar e oferecer sacrifícios. A palavra de convocação chegou aos ouvidos dos filisteus, que em vista disso se aproveitaram da situação para lançar um ataque. Em meio à refrega, severa tempestade lançou o termo nos corações dos mercenários filisteus, provocando confusão e pondo-os em fuga. Evidentemente a trovoada adquiriu significado portentoso para os filisteus, pois nunca mais tentou engajar os israelitas em batalha, enquanto Samuel esteve no comando das tribos. Eventualmente, os líderes tribais sentiram que deveriam fomentar sua resistência à agressão dos filisteus; de acordo com isso, clamavam por um rei.
Agora, é importantíssimo que você separe um momento, pegue sua Bíblia e leia o capítulo de 1Samuel 8, ou você não vai compreender profundamente o que significava, da perspectiva de Deus, o povo israelita pedir para ser um Estado!
——- Retirado de Samuel J. Schultz – A Historia de Israel no Antigo Testamento.
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