Após nove pragas sucessivas, o faraó ainda resiste às demandas de Moisés. Quando Deus anteriormente havia chamado Israel de seu filho primogênito, ele ameaçou matar o primogênito do faraó caso este não libertasse Israel (Êx 4.22,23). Nenhuma das pragas anteriores havia realmente atingido os israelitas, que estavam vivendo separadamente da grande maioria dos egípcios. Agora eles e toda a nação egípcia sofrem o golpe final, pois todos os primogênitos no Egito morrerão (11.4,5).
O envolvimento dos israelitas na décima praga é uma parte importante da revelação divina do reino (12.1-13). A não ser que eles creiam em Deus e sigam as suas instruções, todo primogênito de Israel também morrerá. Em um dia específico, cada família israelita deverá tomar para si um cordeiro macho de um ano de idade e sem defeito. Quatro dias depois, o cordeiro será morto e parte do sangue deverá ser colocado no batente de cada casa. A carne será assada e então comida com ervas e pão sem fermento. Cada pessoa deverá estar vestida e pronta para uma jornada. Naquela noite, Deus diz, “… executarei juízo sobre todos os deuses do Egito…” (v.12). Na casa em que o sangue for visto, o Senhor passará adiante e nenhuma morte afligirá os que nela se abrigam.
Deus também instrui Moisés a estabelecer a festa da Páscoa como um memorial perpétuo (12.14-20). Isso mostra quão importante a Páscoa é no estabelecimento do padrão da obra redentora de Deus, embora não seja dada praticamente nenhuma razão teológica para a forma que ela adota. Podemos inferir seguramente que os israelitas que creram e, portanto, obedeceram foram de algum modo cobertos pelo sangue do cordeiro, para que não sofressem juízo algum. O princípio da aliança opera por família, de modo que a fé do chefe da família tem significado salvífico para todos nela. Outros aspectos do simbolismo da Páscoa se tornam mais claros à medida que o evento salvador avança para sua conclusão na história de Israel.
• A Páscoa mostra que a redenção envolve não somente a libertação da escravidão, mas também o derramamento de sangue como o meio de escapar do juízo.
REDENÇÃO
As dez pragas causaram suficiente sofrimento para os egípcios, mas Deus ainda terá de lidar com eles. A própria travessia do mar que ele realizará para os israelitas significa desastre para os exércitos do faraó. Mais uma vez, há um endurecimento do coração do faraó, a fim de que o poder de Deus seja demonstrado (Êx 14.4,8). O mar também servirá para incutir nos israelitas que o Êxodo do Egito não é uma caminhada comum de um lugar para outro. Assim, em vez de conduzir o povo pelas estradas familiares para fora do Egito, Deus os leva a um aparente beco sem saída diante do mar de Juncos, onde o exército egípcio os encurrala (13.17,18; 14.1-4). Nessa situação desesperadora, a palavra de Deus por meio de Moisés faz soar as boas notícias de salvação: “… Não temais. Acalmai-vos e vede o livramento que o SENHOR vos trará hoje […] O SENHOR guerreará por vós. Por isso, acalmai-vos” (14.13,14). E isso é o que acontece. As águas são divididas e os israelitas caminham para a liberdade, ao passo que as águas se fecham novamente sobre os seus perseguidores.
Ao refletirmos sobre os elementos de redenção revelados no acontecimento do Êxodo, conseguimos perceber por que Deus levou José e seus irmãos ao Egito. A posse da Terra Prometida e a liberdade para ser o povo de Deus não é simplesmente uma questão de atravessar a fronteira para o reino de Deus, e muito menos é algo em que nascemos. Os israelitas, mesmo como o povo escolhido, são por natureza estranhos e estrangeiros para o reino de Deus por serem filhos de Adão fora do Éden. Deus escolheu revelar o seu propósito redentor no contexto da história de Israel. Assim, o cativeiro no Egito e o Êxodo demonstram o cativeiro da raça humana aos poderes do mal e a necessária obra poderosa do próprio Deus para resgatar o seu povo dessa escravidão terrível. Quando Deus, o guerreiro, luta pelo seu povo contra o inimigo, a vitória é certa (14.14; 15.1-3).
Agora podemos resumir as dimensões de redenção que são reveladas na história do Êxodo. A escravidão de Israel é uma contradição às promessas da aliança feitas aos pais da nação: Abraão, Isaque e Jacó. Com base nessas promessas, Deus anuncia que mostrará a sua fidelidade tirando Israel de seu cativeiro (2.23-25; 6.1-6). Ao fazer isso, ele está revelando o seu caráter como o Deus que é absolutamente fiel ao seu compromisso da aliança. O nome “O SENHOR” para sempre expressará a sua fidelidade da aliança (3.13- 15; 6.2-5). A redenção é o ato de juízo de Deus sobre seus inimigos pelo qual ele recupera o seu povo perdido e o torna seu no lugar que prepara para ele (6.6-8). Ela é, portanto, um ato sobrenatural de salvação operado por Deus para um povo incapaz de ajudar a si mesmo (3.19,20; 7.3-5; 10.1,2; 14.13,14). Entrelaçada com esses acontecimentos está uma oferta sacrificial, a morte de um cordeiro da Páscoa, que liberta Israel do juízo a fim de que possa ir livremente.
O fim do Êxodo é liberdade, fé e celebração. Obviamente, a fé estava ativa ao longo de todos os acontecimentos de Êxodo 1—14. Mas de um modo especial, quando o povo é liberto, percebe o que Deus fez e passa a temê-lo e a acreditar nele (14.31). Uma admiração reverente para com Deus e confiança nele são evocadas pelo próprio evento redentor. Em seguida, eles celebram! No cântico de Moisés e do povo, vemos o ato espontâneo de adoração que se torna uma espécie de modelo para a adoração dali em diante (15.1-18). Deus se revela pelas suas ações e por meio de sua palavra sobre essas ações. A adoração precisa, portanto, centrar-se em recontar o que Deus fez. O cântico de Moisés não é um regozijo vingativo sobre os egípcios; antes, é um relato do que Deus fez para mostrar a sua fidelidade da aliança (hebraico: hesed, Êx 15.13).2 O outro ato de adoração já foi prescrito para eles na celebração da refeição da Páscoa e na festa dos pães sem fermento. Nessa refeição sagrada, eles não repetirão a redenção do Êxodo todo ano, mas celebrarão o ato concluído e único de Deus em seu favor
A redenção como uma libertação da escravidão ou de um estado de infortúnio agora se torna um dos temas mais importantes na Bíblia. A esse respeito, o livro de Rute fornece uma ilustração quando Boaz age com bondade a fim de cumprir o dever de um parente próximo para redimir a terra de Rute (Rt 4.1-11). A última parte do livro de Isaías se refere frequentemente a Deus como o redentor de Israel à luz da libertação iminente do povo de Deus de seu cativeiro na Babilônia. Também veremos a repetição da ideia do Êxodo como um padrão da redenção. Há o primeiro Êxodo do Egito, um segundo que envolve a volta dos cativos da Babilônia no sexto século a.C. e, então, o verdadeiro Êxodo, em que Jesus tira o seu povo do cativeiro de pecado e morte.
O Êxodo é o fim do cativeiro, mas é somente o início da liberdade. Deus tem ainda muito a fazer para mostrar ao seu povo o que significa viver livremente como o seu povo.
• A redenção é o ato de Deus de libertar seu povo de um poder estrangeiro ou estranho e de o conduzir à liberdade para que possa viver como seu povo de acordo com as promessas da aliança.
—- Retirado de Graeme Goldsworthy – Introdução à teologia bíblica
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