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Rute – Introdução

Questões introdutórias:

O título desse breve livro é o nome de seu personagem principal, uma mulher moabita chamada Rute. A etimologia desse nome é incerta, embora esteja freqüentemente ligado à palavra hebraica que significa ―amizade, companheirismo.

A tradição judaica atribui a autoria do livro a Samuel.1 Embora isso seja possível, pois Samuel e Davi foram parcialmente contemporâneos, não é muito provável, pois exigiria uma data de composição durante os anos em que Davi viveu como fugitivo. Tal ocasião era extremamente imprópria para incluir uma mulher moabita na genealogia de um aspirante ao trono. O mais provável é que o autor tenha sido um mestre-narrador, comissionado pela família real, para registrar a soberana intervenção de Deus na constituição da árvore genealógica real. Eruditos de linha mais radical defendem uma data bem mais recente para o livro, argumentando que o uso de tradições deuteronômicas aponta para uma data posterior ao reino de Josias (640-609 a.C.). Outros, engajados com o aspecto político da teologia da libertação, defendem uma data pós-exílica, argumentando que o autor usou a narrativa para combater o nacionalismo extremado de Esdras e Neemias e a exploração dos ―sem terra pelos nobres de Judá.2 Uns poucos autores têm defendido a data de composição no início da monarquia,3 o que é coerente com o conhecimento do período em que a história acontece, como também com a ausência do nome de Salomão na genealogia.

Um argumento significativo para uma data mais recuada é a atmosfera amistosa nas relações entre Israel e Moabe, algo impensável depois da cruel servidão imposta aos moabitas pelo reino do Norte.

CONTEXTO HISTÓRICO

A narrativa tem como pano de fundo o período dos juízes (1.1), um tempo de apostasia e, conseqüentemente, caos moral e social em Israel. Em consonância com as maldições da aliança, uma fome assolou a terra, forçando uma família efratita a migrar para a terra vizinha de Moabe. O livro relata os eventos que constituiriam o curso normal de uma família migrante. A segunda geração casa com membros da sociedade receptora e a migração dá lugar ao assentamento e à aculturação. Soberanamente, porém, Yahweh intervém e usa a tragédia para atingir alvos mais elevados na história, oferecendo um contraste notável de fé, lealdade e graça ao estado lastimável do povo escolhido durante aquela era

FORMA LITERÁRIA E MENSAGEM

FORMA LITERÁRIA E MENSAGEM O livro de Rute segue o gênero novela, uma história breve, altamente artística em estilo e estrutura. Nessa história, um enredo desenvolve-se em certo número de episódios até atingir um desfecho e assim comunicar uma lição que os leitores devem emular.4 O autor de Rute emprega de maneira notável o recurso da simetria, usando exatamente o mesmo número de palavras (71) nas cenas inicial e final. Igualmente eficaz é o uso do contraste (plenitude-esvaziamento, agradável-amarga, altruísmo-egoísmo) e do suspense, já que o desfecho antecipado e desejado pelo leitor permanece indeterminado até o último ato. Seja quem for, o autor de Rute conseguiu, com rara felicidade, combinar narrativa, história e Heilsgeschichte, exaltando as virtudes de lealdade pactual tanto em Yahweh quanto nos personagens principais, Rute e Boaz. Como já se disse, ―seus personagens vivem, amam e relacionam-se de modo a aparecer como a personificação do conceito hebraico de ―justiça‖, ―integridade‖, ilustrando em termos concretos a vida sob a aliança de Deus.

Com arte e sutileza, o autor mantém incógnito o ator principal do drama, o próprio Yahweh, que opera em coincidências e planos essencialmente humanos, como os passos incertos de uma moabita em terra estranha e o plano arriscado de uma viúva esperançosa. A mensagem do livro de Rute, conforme entendido por este autor, leva em conta os fatores mencionados e a inclusão da genealogia de Davi no final do livro, um final que seria inexplicável a não ser que o autor quisesse demonstrar a dimensão maior da intervenção divina na vida de indivíduos que são leais à aliança. Esta é a mensagem de Rute: A soberania e a bondade de Yahweh transformam a tragédia individual em bênção nacional por meio da fé pujante de uma mulher gentia e de um israelita compromissados com a aliança.

Leia também o post sobre A TEOLOGIA DO LIVRO DE RUTE.

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1 Comentário

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