Menu fechado

Pandemia: O Que Jesus Faria?

Por Lucas Rosalem.

“Jesus faria tal coisa”, andam dizendo por aí. Mas é só para tentar justificar (ou sacralizar?) sua posição/opinião ao invés de confrontar o próprio coração, que é o que deveria acontecer na tentativa de imitar a Cristo.

A tentativa de imitar Jesus deveria causar, assim como a Lei, uma sensação de pequenez, limitação, incapacidade e desconfiança de nós mesmos.

João abre o terceiro capítulo de sua primeira carta com uma declaração de identidade que une todos os cristãos – ou pelo menos deveria:

“Vejam como é grande o amor do Pai por nós, pois ele nos chama de filhos, o que de fato somos! Mas quem pertence a este mundo não reconhece que somos filhos de Deus, porque não o conhece”. (1João 3:1).

Nos últimos meses, ficou um pouco mais difícil (do que já é de costume) encontrar essa unidade entre os crentes, ainda que essa frase possa soar um pouco piegas. O fato é que aquilo que é secundário tornou-se essencial para muita gente, ao ponto de suprimir o que é primário; o que nos une está ficando de fora da luta atual: uma luta que, no grito, aparenta muita certeza, quando na verdade o maior “argumento” é o medo de estar errado. Sim: boa parte da polarização não é por maldade (“eles só ligam pra tal coisa [o que você não concorda] e não entendem tal coisa [o que você gosta], esses falsos crentes!”).

“Jesus faria tal coisa”, dizem os dois grupos.

Entenda: quanto a certas coisas é simplesmente impossível tentar prever o que Jesus faria. Isso é verdade para o caso atual, da pandemia. Em primeiro lugar, nenhum de nós sabe o que de fato está acontecendo ou irá acontecer: qual é a potência do vírus, quantos serão atingidos, qual será o real impacto na sociedade, etc. A discussão sobre Jesus já acaba aí, pois Ele não passaria por nada disso. Ele não teria nenhuma dúvida; Ele saberia com exatidão. Você não sabe. Na melhor das hipóteses, você tem um palpite. Você não sabe o que deveria ser feito.

E se disser que tem certeza sobre sua posição, sabe-se lá por que cargas d’água, é indício de algo ainda pior do que a primeira hipótese. Usar Jesus assim, como arma discursiva, é pensar em si mesmo com tanta razão e certeza, mas tanta, que a frase “Jesus faria assim” é especificamente uma maneira de mostrar que você está cheio de si ao ponto de pensar que Jesus é que certamente te imitaria.

Se nós percebêssemos que essa polarização não é, em grande parte, por “maldade do outro lado”, mas porque as pessoas foram convencidas por ideias de terceiros de que tal posição que tomaram é realmente necessária, o que muda? Bem, no mínimo, perceberíamos que se Jesus estivesse entre nós, Ele seria o único com certeza do problema e das consequências, ao contrário de nós, que não temos certeza alguma (daí as opiniões tão divergentes).

Será que cada lado não deveria ser mais caridoso, ao invés de tentar desmerecer o outro por causa do equívoco? Quanto tempo será que vai demorar para amadurecermos um pouco e proibirmos a nós mesmos de desfazer uma união conquistada com tão alto preço por questões das quais nem sequer temos como ter certeza?

Se você insistir que tem certeza, tudo bem: imite a Cristo amando os irmãos equivocados e carregando esse fardo.

É interessante como João, versos depois, detecta e rotula os falsos crentes:

“Assim, podemos identificar quem é filho de Deus e quem é filho do diabo. Quem não pratica a justiça e não ama seus irmãos não pertence a Deus” (1João 3:10).

Se você está cheio de razão e militando por um dos lados, seja mais cauteloso. Seja mais caridoso com os outros. Muitos deles estão apenas com medo e realmente convencidos de que a posição que escolheram é a única que pode “salvar o país”, assim como você e a sua posição escolhida. Há uma boa semelhança aí com a incredulidade e desconfiança na providência e soberania do Senhor.

Ore mais e seja fortalecido no Senhor. Acalme o seu coração. Depois, tente ir a público (redes sociais?) como cristão e não como partidário do lado que tem a ideia sagrada.

“Filhinhos, não nos limitemos a dizer que amamos uns aos outros; demonstremos a verdade por meio de nossas ações (1João 3:18).

Twitter Facebook Instagram

Artigos relacionados