Por Lucas Rosalem
Nas discussões políticas pela Internet, inclusive entre evangélicos, é impressionante como essa gente toda não percebe que o problema está nos meios mais do que nos fins. Especialmente, um cristão deveria compreender que fins não justificam meios e, por isso, passar a analisar essencialmente os meios que usa para militar por suas causas.
Antes de continuar a leitura, tente imaginar como é que se explica o que é o oceano para um peixe das profundezas do oceano. Ou ainda, um exemplo quase contrário: como explicar o que é uma cor para alguém que não é apenas cego, mas nasceu sem globos oculares?
Eis uma aplicação prática um pouco diferente: você já conheceu pessoas que por terem passado por uma experiência terrível de engano em uma denominação neopentecostal resolveu simplesmente nunca mais congregar e ainda fazer militância antidenominacional na Internet? Os desigrejados, em geral, só conheceram a realidade de uma igreja (aquela que eles frequentavam e onde foram feitos de trouxa) e não conseguem compreender que aquela não é a realidade única e que existem outras opções completamente distintas.
Ok, o que isso tem a ver com as discussões políticas e o uso de meios imorais para fins que acredita-se serem corretos? É muito simples:
Apenas para fins didáticos, pense na distinção simplista entre direita e esquerda nas discussões políticas. Por mais que encontremos uma infinidade pontos discordantes entre os dois grupos, eles têm em comum a única coisa que irrita ambos os lados: o meio pelo qual querem alcançar os fins. Qual é esse meio? Reivindicando direitos e exigindo leis que garantam suas ideias, que devem ser impostas contra toda a sociedade pela força estatal.
O Estado é o deus a quem ambos os grupos dirigem suas orações.
E, pelo amor de Deus, pare de fingir que não é.
Ambos os grupos querem que o Estado faça isso e aquilo via canetada, pois cada grupo considera ter as melhores ideias, as melhores opiniões e a melhor moralidade. “Logo”, concluem, “isso deve ser aceito pelos outros”. Ou seja, cada grupo que se mete a tentar decidir politicamente as coisas está apenas expondo o desejo de um coração arrogante, presunçoso e autoritário, com síndrome de ditador, repetindo sempre e sempre a ideia de que a saída é escravizar (eu sei que é uma palavra forte) o outro com suas regras.
Esqueça, por um instante, o lado ateísta e incrédulo dessa discussão. Pense apenas do ponto e vista da fé cristã: a missão cristã é essa? É impor sua moralidade à força na sociedade caída?
Ou será que é anunciar o Evangelho e chamá-la ao arrependimento?
Paulo diz algo sobre isso em Romanos 1.
“A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Romanos 1:7).
É claro que um verso não mostra tudo o que a Bíblia diz, mas você não encontrará passagem alguma que resuma de outra forma a ação cristã no mundo: fomos chamados para o bom testemunho pessoal de Cristo em nós.
O verso seguinte também é importante:
“Primeiramente, dou graças a meu Deus, mediante Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque, em todo o mundo, é proclamada a vossa fé” (Romanos 1:8).
Apenas pense nisto: é a imposição e as reivindicações autoritárias de movimentos evangélicos que devem mudar a sociedade ou será que devemos influenciar as pessoas através de um testemunho fiel?
Eu sei que para nos defendermos às vezes parece mais fácil usar as mesmas ferramentas que as do inimigo, ou o que estiver mais fácil. Mas antes de imitar um grupo adversário com a mesma estratégia que te agride, tente enxergar se é esse o caminho que a Bíblia nos dá. E pare de tentar justificar o ditadorzinho que há no seu coração. Confie na missão que Deus deu a nós como meios eficazes para os fins corretos.