Ageu, o primeiro dos profetas pós-exílio passível de datação, dedicou-se quase exclusivamente à tarefa de reconstrução do templo de Jerusalém, que, em sua época (520 a.C.), estava em ruínas havia sessenta e seis anos. Na verdade, a fundação do templo fora lançada quase vinte anos antes (Ed 3.8-13), mas a obra permanecera parada por causa de oposição externa (Ed 4.1 -5) e, mais revelador, por causa do egoísmo dos judeus. Eles tinham começado a se acomodar a uma rotina e estavam tão preocupados em atender às próprias necessidades e desejos que negligenciavam o templo e outros assuntos do culto (Ag 1.4,9). O fardo de Ageu era corrigir essa indiferença e fazer com que as prioridades do povo fossem postas na ordem correta.
A teologia do livro também é centrada no templo, mas mais de uma perspectiva escatológica que histórica.19 Claro que era importante para o povo edificar imediatamente um santuário no qual o Senhor pudesse habitar entre eles (Ag 1.8). Todavia, já havia a percepção de que o projeto em andamento era um pálido reflexo da habitação de Deus no futuro. Os que tinham visto o glorioso templo de Salomão ficaram especialmente abatidos pela comparativa pobreza do que estava sendo feito na época (Ag 2.3; cf. Ed 3.12). Contudo, o templo, independentemente de seu modesto início, transformar-se-ia no local de habitação do Senhor que ele encheria com sua glória (Ag 2.7). Essa glória superaria em muito toda a prata e ouro do mundo, assim, afinal, esse último templo superaria o esplendor do primeiro.
A expressão: “Dentro de pouco tempo” (v. 6), não sugere um evento histórico próximo, mas um que acontecerá no dia do Senhor.20 Isso fica claro a partir da imagem de distúrbios cósmicos típica de textos escatológicos: “Dentro de pouco tempo farei tremer o céu, a terra, o mar e o continente. Farei tremer todas as nações” (w. 6,7; cf. Is 2.19,21; 13.13; 24.18; Am 9.9). Assim, Ageu faz a transição do templo de seus contemporâneos, tão pequeno aos olhos deles, ao templo ainda por vir e que excederia em glória o de Salomão.
O Senhor, alinhado com a restauração do templo, “derrubar[á] tronos e destruir[á] o poder dos reinos estrangeiros” (Ag 2.22), tudo ligado ao tremor do céu e da terra que acompanhará a glorificação do templo (v. 21). E “naquele dia”, Zorobabel, governador de Israel e descendente de Davi, governaria em nome do Senhor, cujo poder derivativo é descrito metaforicamente como anel de selar do Senhor (v. 23). Ou seja, o que quer que ele fosse fazer, faria em nome do Senhor e investido da autoridade dele. Claro que o próprio Zorobabel não seria um governante messiânico no sentido literal, seria apenas uma ligação entre Davi e o último Filho de Davi, que estava em cena na época de Ageu
Assim, o dia do Senhor introduzirá uma nova residência permanente do Senhor entre seu povo e a descendência de Davi, que governará soberanamente em nome de Deus. O Novo Testamento entende isso em termos de um templo messiânico (Ap 21.22-25) e um trono messiânico (Ap 22.3), ambos a serem ocupados pelo Cordeiro do Senhor que expiou nossos pecados.
—- Retirado de: Eugene Merrill – Teologia do Antigo Testamento