O Evangelho não era apenas para Israel.
Em Marcos, bem como em Paulo, falar sobre o evangelho implica essencialmente que a mensagem de Jesus se destina a todos, judeus e gentios; o evangelho tem sentido mundial, universal. Isso baseia-se no fato seguinte: a paixão, morte e ressurreição de Jesus, que para Paulo constituem o núcleo do evangelho, estão em Marcos intrinsecamente ligadas ao evangelho, que o próprio Jesus trouxe: em sua pessoa, atuação, pregação e praxe. Evangelho, portanto, abrange não somente a boa mensagem que o próprio Jesus anunciou, mas ao mesmo tempo, e não menos essencialmente, a mensagem cristã a respeito da paixão e morte de Jesus abrange a convicção cristã de que Jesus está vivo, porque ressuscitou.
Precisamos de Igreja?
Antigamente insistia-se especialmente sobre “a igreja”.
Hoje em dia, a linguagem costumeira eclesiástica e ecumênica costuma insistir de modo especial sobre “o evangelho”. Isso denota certa mudança na mentalidade cristã. Nos quatro evangelhos a palavra “igreja” quase não se encontra (além disso, apenas em textos secundários), ao passo que “eu-angélion” (evangelho ou “boa nova”, novidade que alegra, e também o verbo “levar o evangelho”) é uma noção central; é até a primeiríssima palavra do evangelho mais antigo, cujo título diz:
“Início do evangelho de Jesus Cristo” (Mc 1,1).
Por isso, a volta atual para “o evangelho” merece o nosso aplauso. Por outro lado, esse apelo para a inspiração evangélica não pode tornar-se um slogan vago, criticando com razão, isto sim, a forma em que as igrejas empiricamente se apresentam; ao invés de insistir sobre a igreja, agora insiste sobre orientações vagamente evangélicas e já muito selecionadas.
– Edward Schillebeeckx
– Apenas o Evangelho