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O Debate Histórico sobre a Ceia

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INTRODUÇÃO

Na lição 3, vimos que o centro do culto cristão deve ser a Pessoa e a Obra de Cristo. Infelizmente, não é isso o que acontece em muitas igrejas evangélicas. De qualquer forma, o fato do culto cristão ser cristocêntrico significa que todos os elementos do culto devem apontar para Cristo, nos tornando mais conscientes dele e nos fazendo mais semelhantes a Ele.

Uma excelente prova disso são os dois sinais que Cristo ordenou à sua igreja: o batismo e a ceia.

Os sacramentos (ou ordenanças) foram instituídos por Jesus como sinais (selos visíveis) de que estamos unidos a Ele e uns com os outros em uma comunidade de adoradores, por sua morte e ressurreição. É pelo uso que fazemos desses sinais que o Espírito Santo declara plenamente e sela as promessas do Evangelho a nós.

Na lição passada, vimos que o significado do batismo está inteiramente ligado à nossa comunhão com Jesus por meio de sua morte e ressurreição. Nesta lição, veremos o que é a ceia do Senhor, por que ela é importante e por que é tão essencial no culto cristão.

O DEBATE HISTÓRICO

A discussão em torno da Ceia do Senhor foi intensa, não só entre Lutero e Roma, mas até mesmo entre os reformadores. Lutero e Zwínglio discordavam de Roma, mas também entre si. Enquanto a Igreja Católica dizia que na ceia o pão e o vinho se transformavam literalmente no corpo e sangue de Cristo (transubstanciação), Lutero afirmava que não, que a substância do pão e do vinho era unida à substância do corpo e do sangue de Cristo. Em contrapartida, Zwínglio dizia que nem uma e nem outra coisa, mas que a Ceia do Senhor era meramente uma cerimônia em memória da obra salvadora de Cristo.

Calvino, por sua vez, encontrou uma solução para o problema que perdura até hoje: a presença de Cristo na ceia não era física, mas também não era meramente uma memória: a presença de Cristo na ceia é espiritual. Cristo de fato se faz presente, porém, espiritualmente.

Os elementos em si não nos salvam. Tampouco são por eles que cremos – nossa fé está na promessa de Cristo. Mas, quando os comemos e bebemos em fé, podemos ter certeza de que recebemos perdão de pecados e vida eterna. Confiando na promessa, podemos confiar que participando da ceia receberemos fortalecimento na fé, conforto e consolo nas aflições, esperança, alegria da salvação, amor a Deus e ao próximo.

O QUE A BÍBLIA DIZ

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A ceia é um memorial instituído para ser celebrado continuamente, até a volta de Jesus.

• 1Coríntios 11:15-26

Cristo nos deixou esse elemento litúrgico (que no início era feito num momento de refeição) para celebrar o que Ele fez por nós na cruz. A forma não é mais idêntica à da igreja primitiva, o que se mantém é o símbolo.

Como memorial, a ceia nos recorda incessantemente do maior evento da história da humanidade: a morte e a ressurreição do Filho de Deus por nossa causa.

Em resumo, a ceia é uma celebração repetida regularmente em memória do que Cristo fez, onde nós declaramos que estamos conscientes de sua obra e participamos juntamente com Ele.

• Lucas 22:17, 19-20

Quando participamos da Comunhão do Corpo e do Sangue do Senhor, nos é dada uma prévia, uma amostra e uma garantia do grande banquete que nos aguarda, quando Cristo finalmente vier buscar sua Noiva, que é a Igreja.

• Apocalipse 19:9

A celebração da Santa Ceia, é um testemunho visível, palpável e (por que não?) saboreável do mistério da nossa fé, de que Cristo morreu e ressuscitou, e voltará na glória do seu reino eterno. Eis o motivo da nossa esperança!

• 1Pedro 3:15

A ceia é um símbolo não apenas da nossa identidade em Cristo, mas também do elo que temos uns com os outros.

Na passagem abaixo, ao dizer “a todos nós foi dado de beber de um só Espírito”, Paulo relaciona tanto o batismo quanto a ceia à comunhão dos irmãos, que é o “corpo de Cristo”:

• 1Coríntios 12:13,27

A Bíblia mostra que a ceia tem relação tanto com a comunhão com Cristo, quanto com a comunhão com a Igreja, pois esta é o seu corpo na Terra.

Tal como o batismo, a ceia é um símbolo diretamente ligado tanto à obra de Jesus por nós quanto à própria comunhão.

• João 6:54-56

• 1Coríntios 10:16

Diferente do batismo, que inclui na comunhão até crianças que serão cuidadas e crescerão aos cuidados da comunidade da fé, a ceia exige que os que participam tenham discernimento do que estão fazendo.

• 1Coríntios 11:27-29

Discernir o corpo de Cristo não é apenas entender o símbolo da ceia, mas entender o motivo pelo qual Cristo quis nos unir através dela como um corpo, uma unidade.

O contexto nos ajuda a entender. Leia este trecho:

• 1Coríntios 11:18-22

A acusação de Paulo é que eles não estavam se reunindo para a ceia do Senhor, mas apenas para jantar, pensando em si mesmos.

Alguns passavam fome, ao passo que alguns até mesmo conseguiam ficar bêbados com o vinho da ceia. Porém, note que o alerta de Paulo não é apenas para uma autoreflexão, mas para o discernimento do corpo de Cristo.

Eles não estavam discernindo o corpo de Cristo, que simboliza justamente a comunhão dos irmãos e a únião mística da Igreja com Jesus, sendo a Igreja o próprio corpo de Cristo. Dito de outra forma: os irmãos em Corinto não estavam exercendo o verdadeiro discipulado, que consiste em repreender e corrigir, fazendo frente aos problemas que o diabo facilita a inundar a igreja local.

Celebrar o que Cristo fez por nós é tão importante quanto entender o motivo pelo qual nós congregamos e a importância da nossa comunhão entre os irmãos.

A NOSSA CONFISSÃO

O CMW pergunta:

O que é a Ceia do Senhor?

A Ceia do Senhor é um sacramento do Novo Testamento no qual, dando-se e recebendo-se pão e vinho, conforme a instituição de Jesus Cristo, é anunciada a sua morte; e os que dignamente participam dele, alimentam-se do corpo e do sangue de Cristo para sua nutrição espiritual e crescimento na graça; têm a sua união e comunhão com ele confirmadas; testemunham e renovam a sua gratidão e consagração a Deus e o seu mútuo amor uns para com os outros, como membros do mesmo corpo místico.

Os que recebem o sacramento da Ceia do Senhor, como devem preparar-se para o receber?

Os que recebem o sacramento da Ceia do Senhor devem preparar-se para o receber, examinando-se a si mesmos, se estão em Cristo, a respeito de seus pecados e necessidades, da verdade e medida de seu conhecimento, fé, arrependimento e amor para com Deus e para com os irmãos; da caridade para com todos os homens, perdoando aos que lhes têm feito mal; de seus desejos de ter Cristo e de sua nova obediência, renovando o exercício destas graças pela meditação séria e pela oração fervorosa.

A CFW completa:

Na noite em que foi traído, nosso Senhor Jesus instituiu o sacramento do seu corpo e sangue, chamado Ceia do Senhor, para ser observado em sua Igreja até ao Fim do mundo, a fim de lembrar perpetuamente o sacrifício que em sua morte Ele fez de si mesmo; selar aos verdadeiros crentes os benefícios provenientes. desse sacrifício para o seu nutrimento espiritual e crescimento nele e a sua obrigação de cumprir todos os seus deveres para com Ele; e ser um vínculo e penhor da sua comunhão com Ele e de uns com os outros, como membros do seu corpo místico.

Neste sacramento não se oferece Cristo a seu Pai, nem de modo algum se faz um sacrifício pela remissão dos pecados dos vivos ou dos mortos, mas se faz uma comemoração daquele único sacrifício que Ele fez de si mesmo na cruz, uma só vez, e por meio dele uma oblação de todo o louvor a Deus; assim o chamado sacrifício papal da missa é sobremodo ofensivo ao único sacrifício de Cristo, o qual é a única propiciação por todos os pecados dos eleitos.

OUTRAS CONFISSÕES

• Confissão Belga:

Cremos e confessamos que nosso Salvador Jesus Cristo ordenou e instituiu o sacramento da santa ceia, a fim de alimentar e sustentar aqueles que Ele já fez nascer de novo e incorporou à sua família, que é a sua igreja.

Agora, há certeza absoluta de que Jesus Cristo não nos ordenou seus sacramentos a toa. Então, Ele realiza em nós tudo o que nos apresenta por estes santos sinais, embora de maneira além da nossa compreensão, como também a ação do Espírito Santo é oculta e incompreensível. Em resumo, somos movidos, pelo uso deste santo sacramento, a um ardente amor para com Deus e nosso próximo.

• Segunda Confissão Helvética:

Na Ceia do Senhor, o sinal externo é o pão e o vinho, tomados do uso comum do comer e do beber; a coisa significada é o corpo do Senhor que foi entregue, e seu sangue vertido por nós, ou a comunhão do corpo e do sangue do Senhor. Além do mais, na celebração da Ceia do Senhor, somos admoestados a estarmos conscientes de cujo corpo nos tornamos membros, e, portanto, a sermos uma só mente com todos os irmãos; a viver uma vida santa e a não nos corrompermos com a iniquidade e com religiões estranhas; mas, perseverando na verdadeira fé até o fim da vida, esforçarmo-nos para alcançar a excelência da santidade de vida.

APLICAÇÃO PESSOAL

Discernir o corpo tem a ver com duas questões: a consciência do que Cristo fez pela sua Igreja, entregando seu corpo por ela, e a consciência da própria Igreja, que é o seu corpo aqui na terra.

A ceia nos lembra de que o nosso Senhor permitiu que seu corpo fosse dilacerado em nosso favor. Cristo se entregou por nós em propiciação e mandou que celebrássemos a ceia em memória disso, pois sempre que o fazemos, anunciamos sua morte.

E o sangue derramado não foi por mim, mas pela Igreja. Como um cristão consciente do que isso significa pode não querer repartir esse mesmo pão com um irmão?

E como essa consciência pode ficar restrita às reuniões oficiais?

Não há como fazermos parte do corpo de Cristo se, assim como Ele, não entregamos os nossos corpos pelo Corpo. Use a ceia para se lembrar e a sua vida para praticar.

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