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A Teologia do livro dos Provérbios

O livro de Provérbios dá ao leitor uma estrutura básica para a vida, isto é, o conceito que a sabedoria deriva de um relacionamento adequado com Yahweh, o Deus pessoal da aliança (1.7; cf. 9.10). Assim, qualquer que seja a origem de cada provérbio, sua abordagem última com a vida é teológica, estendendo-se do relacionamento vertical necessário em direção a padrões comportamentais desejáveis que tornam significativos os relacionamentos horizontais. Bullock tem muita razão quando afirma que ―a função dos tipos de provérbios preservados nesse livro era basicamente aquela de moldar homens e mulheres para serem membros, social e religiosamente, úteis da sociedade‖.6 Embora este seja o mesmo objetivo básico dos profetas, a diferença entre profecia e sabedoria é que a primeira visava o indivíduo buscando alcançá-lo por meio da nação à medida que esta era exortada com fundamento na revelação especial, enquanto a outra visava mudar a sociedade de baixo para cima, por meio dos indivíduos que ela exortava primariamente com fundamento na revelação teocêntrica geral. Além do mais, é preciso dizer que embora Provérbios seja universal em sua abordagem da vida e geral em sua estrutura de revelação, ele foi oferecido ao povo da aliança, visando instilar o temor de Yahweh, não um mero Criador, mas o Deus pessoal e relacional da aliança.

O livro contém uma introdução (1.1-7) que define os alvos do livro e sua proposta básica (1.7). Ela é seguida por uma série de discursos sobre sabedoria, que visam motivar o discípulo moralmente indeciso ou ingênuo (―inexperiente‖, NVI) a escolher a sabedoria como seu padrão para a vida (9.1-18). O discípulo é confrontado com duas escolhas básicas (1.18-33) e é exposto aos felizes resultados de escolher a sabedoria (2.1–3.12). A sabedoria é louvada por seu grande valor (3.13-20) e pelo cativante estilo de vida que ela produz (3.21-35). Depois, a sabedoria aparece em seu valor prático ao ser implicitamente apresentada como o caminho para evitar problemas como luxúria, problemas financeiros, perversidade e arrogância e a sedução da mulher imoral (4.1–7.27). O capítulo 8 contém um elogio à sabedoria, que tem inúmeras recompensas para aqueles que a abraçam como o padrão divino de vida em um universo moldado segundo a sabedoria (8.1-36). A escolha entre sabedoria e loucura, que foi inicialmente apresentada ao discípulo, encerra esta seção do livro (9.1-18). O restante do livro fornecerá amplas ilustrações de como estes dois caminhos opostos se chocam no dia-adia da vida. Os capítulos 10.1–22.16 contêm 375 dos três mil provérbios de Salomão. Estes são seguidos pelos provérbios dos sábios (22.17–24.34), que incluem preceitos e avisos (22.22–23.14), discurso didático (23.15–24.22) e princípios morais (24.23-34). Isso é seguido por uma segunda coleção de provérbios salomônicos, compilados no tempo de Ezequias (25.1– 29.27), pelos provérbios de Agur filho Jaqué (30.1-33), que constituem uma série de observações sensatas da vida, e pelas palavras do rei Lemuel (31.1-9) que são, na verdade, exortações da rainha-mãe ao seu jovem filho governante (cf. 6.20).

O livro encerra com um poema acróstico sobre a mulher virtuosa ou piedosa (31.10- 31). Ela aparece como a personificação da sabedoria, conforme anteriormente descrita no livro, e como um contraste à mulher imoral e destrutiva dos capítulos 5.3-14 e 7.5-27 (que é também, em certo sentido, uma personificação). No esboço sintético que se segue, o autor levou em consideração a natureza elíptica do material, bem como a existência de pressupostos (muitas vezes, não expressos em provérbios individuais).8 Se, por exemplo, a riqueza é contrastada com a justiça (cf. 11.4), isto implica que tal riqueza é resultado de perversidade. Semelhantemente, quando o justo é contrastado com aquele que confia nas riquezas (11.28), confiar em riquezas será considerado como uma indicação de perversidade moral. Assim, em uma antítese não-absoluta, o elemento moral avalia o amoral. O formato de sentença completa para a interpretação busca extrair o sentido completo original de cada um dos aforismos, muitas vezes fazendo generalizações quando o provérbio é mais específico.9 Assim, contrastes entre o justo e o ímpio serão indicados pela frase: ―O caráter moral do indivíduo‖; contrastes entre o sábio, ou prudente, ou homem de discernimento e o louco, ou tolo, ou escarnecedor são refletidos pela expressão: ―A postura do indivíduo em relação à sabedoria‖. Além disso, ocasionalmente o autor de Provérbios age como mero repórter, sem passar julgamento moral sobre o que observa na vida. Tais aforismos são refletidos no esboço abaixo por meio de afirmações simples, sem avaliação ou gradação de valor ético ou religioso.

Visto que Provérbios é o produto de muitas mentes e o dobro de mãos, pode parecer ridículo tentar estabelecer uma mensagem para o livro. Este escritor crê, contudo, que o Espírito de Deus, que supervisionou todo o processo de inspiração, deu ao livro sua forma final com uma mensagem que pode ser subentendida de forma proposicional. O plano moral de Deus para uma vida regrada (הָמְ כָח) precisa ser abraçado em atitude de reverente obediência a Yahweh por aqueles que aspiram a uma vida significativa como indivíduos e como membros de uma sociedade pactual.

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