Pr. William Silva (IPB São Carlos-SP).
Algumas pessoas tem nos perguntado: Por que algumas igrejas estão ministrando a Santa Ceia online, por transmissão ao vivo e nós não?
Não queremos julgar as Igrejas que estão agindo assim, muito menos condena-las por isso (não cabe a nós fazer isso). Cremos que nesse tempo singular que estamos vivendo muitos líderes, pastores e igrejas estão buscando fazer o melhor, e nenhuma resposta é fácil.
Mas, queremos explicar porque nós não estamos ministrando Santa Ceia de modo virtual. Vamos tentar fazer isso de forma simples e objetiva e nos colocar a disposição para mais esclarecimentos.
1. Aspectos Bíblicos da Santa Ceia
A Santa Ceia é um dos dois sacramentos instituídos por Jesus (sacramento é um símbolo visível, da graça invisível de Deus). O outro é o batismo. Tanto a Santa Ceia como o Batismo são atualizações de rituais sacramentais do Antigo Testamento (no caso o sacrifício do cordeiro pascal e a circuncisão). Mas, vamos focar na Santa Ceia:
Quando ela foi instituída por Cristo (nos evangelhos) e confirmada pelos apóstolos na Igreja (Cartas), foram dadas instruções específicas, exatas e precisas. (Mt 26.26-30; Mc 14.22-26; Lc 22.14-20; 1Co 10.16-17; 1Co 11.17-34)
Sendo assim, podemos extrair da Bíblia alguns aspectos essenciais para ministração da Santa Ceia:
A. Ela possuí elementos específicos com significações específicas (isso para trazer a memória e anunciar a morte de Cristo até que ele venha)
B. Ela é uma refeição compartilhada, pelos membros da Igreja que se reúnem, com a devida reverência e autoexame, para que traga bênção e não maldição.
Cremos que o aspecto A pode, com toda certeza, ser contemplado por uma transmissão ao vivo, sendo que seria muito fácil para cada família ou indivíduo conseguir os elementos, da mesma forma que um ministro poderia trazer as significações de maneira online ou virtual.
Porém, o difícil é o aspecto B. Uma reunião online ou virtual contemplaria o que Deus exige nas Sagradas Escrituras? De suas casas, seria possível para os cristãos manter a reverencia exigida e trazer a significação do sacramento em sua totalidade? E o que para nós, é o mais perigoso: Não estaríamos caindo no mesmo erro que a Igreja de Corinto, quando, ao se reunirem, cada família comia do seu próprio pão e bebiam do próprio vinho, com alguns se fartando e se embriagando, enquanto outros padeciam necessidade?
Paulo é duro e severo ao explanar da necessidade de ministrar e participar da Santa Ceia da forma como ela foi instituída. Isso protegeria os crentes de maldições terríveis.
Algumas pessoas, porém, podem dizer: Mas, parece que é possível dentro de uma interpretação mais ampla do que é reunir, do que é compartilhar, do que é que é mesmo pão e mesmo cálice. Não estaríamos sendo medrosos de mais? Ou deixando de experimentar uma benção maravilhosa por falta de coerência ou contextualização com a época atual que estamos vivendo?
Então queremos trazer um segundo ponto.
2. A história da Igreja e como aprendemos com ela
Em segundo lugar, precisamos admitir que somos uma Igreja Conservadora. Isso não significa que temos a Tradição histórica como um elemento de peso igual ao da revelação especial de Deus, porém, que levamos esse elemento em consideração para interpretar as Escrituras e pratica-las com a contextualização correta.
Nessa linha de pensamento, devemos nos lembrar que temos símbolos de fé como a Confissão de Fé, o Breve Catecismo e o Catecismo Maior de Westminster, bem como uma vasta compilação de livros que nos trazem o conhecimento produzido pelos pais da igreja (primeiros líderes cristãos) e reformadores como Calvino.
Olhando para esse conhecimento que temos a nossa disposição, em nenhum lugar encontramos uma direção segura para uma interpretação tão aberta dos aspectos bíblicos da Santa Ceia que contemple realiza-la de maneira online ou virtual.
Um dado importante nesse estudo, é que a Bíblia não nos indicou qual deveria ser a frequência da ministração, sendo que ela deu abertura para escolhermos essa frequência. Alguns cristãos sérios entenderam que ela deveria ser realizada diariamente, outros, semanalmente, outros mensalmente e João Calvino acreditava que era necessário apenas uma ministração anual da Santa Ceia. Ele não inventou essa informação, mas entendeu que assim como muitos judeus, no Antigo Testamento, realizavam seus sacrifícios no Templo de ano em ano (na páscoa), sua atualização no Novo Testamento com a Santa Ceia poderia ser realizada de igual forma. Chega-se a Conclusão que a frequência correta para a ministração da Ceia é: Sempre que se puder realiza-la como ela foi instituída, podendo o crente ficar até um ano ou mais sem esse sacramento não tendo nenhum prejuízo nisso.
Vemos na história, que em tempos de pestes (pandemias), em que a Igreja não poderia se reunir, a orientação foi sempre de interceder e ansiar pelo momento em que se reuniriam e compartilhariam do pão e do cálice manifestando a comunhão em sua totalidade.
Em toda a História, os cristãos sérios, tomaram os devidos cuidados quanto as instituições Bíblicas para não cometerem erros que transformariam a benção em maldição. Esses cuidados são necessários, bíblicos e atuais.
Vamos concluir esse estudo?
Conclusão
Encerramos essa explanação com outro dado que cremos ser de suma importância para nossa decisão de não ministrar Santa Ceia online.
Na Bíblia não temos nenhum relato de cristãos que tiveram algum prejuízo por não tomar a Ceia. O Ladrão da Cruz, por exemplo, não foi nem batizado e nem precisou participar da Santa Ceia para receber a promessa do paraíso pelo próprio Cristo. Bastou para ele crer (Fé essa produzida pelo Espírito Santo em sua vida e nas nossas).
O contrário, porém, está na Bíblia. Vejam o que está escrito em 1Coríntios 11.27-32. Paulo deixa muito claro que o fato de algumas pessoas estarem fracas, doentes e até morrendo era porque estavam participando da Santa Ceia de modo errado.
Não queremos de forma alguma pecar por esse excesso. Queremos promover a benção e não maldição.
Nossa oração e intercessão constante é para que as consequências dessa pandemia termine, e consigamos voltar a ter nossas reuniões, cultos, e comunhão completa.
Enquanto isso não acontece, usamos os meios virtuais da internet para trazer ao menos alguns aspectos da comunhão e do culto a Deus. Sabemos que não é o suficiente, mas de alguma maneira nos mantém conectados e unidos nesses tempos de tantas dificuldades.
Esperamos que todos tenham entendido nosso posicionamento quanto a esse assunto. Estamos a disposição para novos esclarecimentos se necessário.
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