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A Teologia do livro de Sofonias

Sofonias ministrou durante um período de recuperação política e social para Judá. A Assíria, que havia devastado o reino do Norte em 722 a.C., agora enfrentava problemas internos e externos em sua fronteira oriental, onde os caldeus e medos haviam declarado sua independência e ameaçavam as fronteiras do outrora poderoso império. Josias havia arrancado Judá da fossa religiosa para onde Manassés e Amom haviam empurrado o povo de Deus. Reforma era a palavra oficial desde 628 a.C., com impulso significativo em 622 a.C., quando o Livro da Lei foi encontrado no templo.

No entanto, apesar das realizações militares e religiosas de Josias, apenas um pequeno remanescente seguiu com plena dedicação ao rei em seu retorno a uma fé centrada em Yahweh. Por isso, Sofonias (e Jeremias depois dele) denunciou o pecado e anunciou a iminência e severidade do julgamento por vir. Sofonias tem mais referências ao Dia do Senhor do que qualquer outro profeta. Seu tema predominante é julgamento, manifesto tanto na versão histórica iminente do Dia do Senhor quanto em sua plenitude escatológica. Sua percepção da proximidade do ֹוםֹי יהוה) yôm yhwh, ―Dia do Senhor‖) é um bom resumo do livro. ―Cale-te diante do Senhor Deus, porque Dia do Senhor está perto; pois o Senhor tem preparado um sacrifício, e tem santificado os seus convidados.‖ (Sf 1.7). Esta ênfase no julgamento é complementada pelas promessas de proteção divina e preservação do verdadeiro remanescente. Após o sobrescrito (1.1), Sofonias descreve o iminente Dia do Senhor como uma época de terror para Judá e as arrogantes nações ao seu redor (1.1 − 3.8). O julgamento por Yahweh é apresentado como uma catástrofe aterradora que engolfará toda a terra (1.2,3). A natureza, como um todo, sofrerá quando o Senhor julgar o pecado da humanidade.

O profeta, a seguir, descreve como o julgamento cairá sobre Judá por sua idolatria e complacência espiritual (1.4–2.3). Juízo alcançará todas as camadas da sociedade contaminadas pelo pecado (1.4-13). Apesar dos esforços reais, o baalismo sobrevivera e encontrara refúgio na própria Jerusalém (1.4). Um misto de idolatria e astrologia (também denunciado em Jeremias [19.13]) revela influência da Mesopotâmia, enquanto a influência amonita é denunciada na adoração de Milcom, com seus bárbaros sacrifícios humanos. O sincretismo religioso tornara-se normal em Judá. As conexões de Sofonias com a família real não o impediram de denunciar os príncipes de Judá por seu amor à roupa importada, o que indicava aceitação interior dos valores morais e espirituais pagãos. Suas acusações estendem-se por todos os segmentos da sociedade, o rico e o pobre, que acreditavam ser Yahweh indiferente quanto ao certo ou errado (1.12). Esta parte também inclui uma promessa específica de exílio e cativeiro (1.13). Após descrever as razões do castigo, Sofonias anuncia a natureza abrangente da intervenção divina (1.14-18). Será tempo de guerra sem precedentes (1.14,16), destruição (1.15), distúrbios atmosféricos (1.15) e perda de vidas humanas (1.17). Todas as coisas preciosas e importantes para os homens serão inúteis para livrá-los da ira do Deus que abrangerá toda a terra. Quanto a isso, o juízo iminente de Judá é apenas uma amostra do julgamento escatológico maior que ainda há de vir. O parágrafo final desse texto é uma exortação ao remanescente fiel para separá-lo da nação desavergonhada (2.1-3). O tempo se esvaía rapidamente para Judá e em breve a ira de Yahweh consumiria a nação. Aqueles que haviam humildemente buscado Sua justiça, receberiam uma promessa especial de preservação do violento ataque provocado pela ira divina (2.3).

O segundo grande texto desta divisão (2.4–3.8) apresenta os juízos de Yahweh contra as nações arrogantes em torno de Judá. A primeira nação mencionada por Sofonias é a Filístia, cujas cidades mais importantes serão devastadas e cujos pastos e casas serão conquistados pelo remanescente de Judá (2.4-7). Moabe e Amom vêm a seguir na lista dos atacados pelo juízo de Yahweh (2.8-11). Apesar de algumas vezes, durante o período dos juízes, Moabe e Amom terem conseguido subjugar Israel, seus crimes aqui denunciados são o orgulho e a arrogância, que os levara a desprezar e insultar Israel (2.8), bem como as escaramuças fronteiriças ocasionais (cf. Is 25.10,11; Jr 48.29,30). Essas nações gêmeas são ameaçadas com desolação completa (2.9) em um forte juramento. Mais uma vez, o remanescente é o único beneficiado nesse julgamento. A referência à fome dos deuses provavelmente diz respeito aos sacrifícios humanos oferecidos a Quemós e Milcom. É uma referência sombria ao modo como o Senhor afirmará Sua superioridade sobre os deuses dessas orgulhosas nações. Os etíopes recebem apenas uma breve menção nessa profecia (2.12) . Eles tiveram contato com Israel e Judá durante a 25ª dinastia, durante a qual governaram o Egito. Quando Sofonias escreveu, no entanto, a 26ª dinastia assumira o poder (os verdadeiros egípcios), e a menção aos etíopes, ou cusitas, explica-se apenas com base geográfica, já que poderia indicar nações ao sul de Israel. Seu destino seria o mesmo da Filístia e das nações gêmeas − extinção nacional pela guerra, que possivelmente aconteceu durante a invasão do Egito por Nabucodonozor (cf. Ez 30.4, em que ―espada‖ também é encontrada).

O último ponto cardeal, o Norte, recebe sua parte na promessa de julgamento divino (2.13-15). A Assíria, cujo poder já fora grandemente reduzido no tempo de Sofonias, recebe a promessa de desolação permanente com seu espaço transformado em ֹץֵבְּ רַ מ הָטַחַל) m rbēṣ l ḥ yy , ―covil de feras‖, 2.15). Aves de rapina e animais selvagens substituirão a população autoconfiante, e o desprezo será a única maneira pela qual a Assíria será lembrada. Sofonias pode ter tido acesso às profecias de Naum e Isaías quanto ao destino de Nínive. Depois de focalizar o norte, Sofonias volta sua atenção uma vez mais para Judá. A mesma técnica empregada por Amós é encontrada aqui. Jerusalém é acusada de rebelião e perfídia ou deslealdade pactual (3.1,2), um pecado que permeia todas as camadas da sociedade. Autoridades civis aproveitam-se do povo que deveriam proteger (3.3), profetas e sacerdotes pervertem os padrões espirituais e morais que eles deveriam promover entre o povo. Os pecados de Jerusalém são ainda mais hediondos à luz das demonstrações constantes da justiça e fidelidade de Yahweh. Seus justos decretos são anunciados pelos profetas (3.5); Seu amor fiel se manifestara em Seus muitos livramentos das nações inimigas (3.6), e, no entanto, Judá permanecera irredutível em sua obstinada desobediência (יתוִׁ חְּ שִׁ הֹימוִׁ כְּ שִׁ ה ,iš îmû išḥîṯû, ―Mas eles ainda estavam ávidos por fazer todo tipo de maldade‖, 3.7; NVI). Um espírito de ávida inclinação para o mal se apossara de Judá à medida que ela tomava o mesmo rumo de seus vizinhos. Essa segunda divisão maior termina com uma revisão do seu maior tema. Nações se ajuntarão e participarão dos ardentes julgamentos da ira divina (3.8). Sofonias 1.2,3 e 3.8 formam um inclusio3 terrível de juízo a ser derramado sobre o pecado do homem; o julgamento histórico tanto garante quanto prevê o derramamento escatológico da ira de Deus.

A terceira divisão do livro diz respeito ao trato amoroso de Deus com a humanidade após Seu julgamento. Gentios recebem a promessa de renovação espiritual e a possibilidade de servir ao Senhor em harmonia (3.9,10). Israel será o recipiente das bênçãos pactuais: a nação será purificada e reunida (3.11), à medida que o remanescente buscar ao Senhor e nEle achar refúgio do pecado e de suas temíveis conseqüências (3.12,13). Jerusalém se regozijará no perdão divino (3.14,15) e na presença do Senhor em seu meio (3.16,17). Finalmente, de acordo com as promessas pactuais em Deuteronômio 26.18,19, Israel será restaurada a um lugar de honra e reputação entre as nações (3.19,20).

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