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A Teologia de 2Samuel

O estabelecimento da monarquia por Yahweh é operado conforme Sua lealdade pactual que castiga com justiça e sustenta com graça uma nação enfraquecida pelo pecado de seus líderes. À luz dessa mensagem e da apresentada na página 260 para o livro de 1 Samuel, propõe-se a seguinte mensagem para a obra completa: A vitalidade da teocracia depende da graça restauradora de Yahweh, concedida à nação e seus representantes depois de ser disciplinados por abandonar a fidelidade a Deus e à aliança deuteronômica.

O estudo de 2 Samuel demonstrou, até aqui, que um narrador magistral queria comunicar verdade espiritual a seus leitores e reforçar alguns conceitos teológicos. O fato de poucas de suas avaliações ser explícitas não diminui o impacto teológico de sua obra, desde que o leitor esteja alerta para técnicas literárias como as já mencionadas: insinuação, ambigüidade, recapitulação, quiasma e repetição.

A graça de Deus jamais é mencionada explicitamente no livro, mas permeia toda a narrativa. Ela é mais claramente demonstrada nos dois eventos-chave do livro: o estabelecimento da aliança davídica e o pecado de Davi com Bate-Seba. No primeiro evento (7.1–17), a graça fica evidenciada na maneira pela qual Deus assume o cuidado de Davi (e, por meio dele, de toda a nação). Em vez de permitir que Davi Lhe construa uma casa (que O tornaria, de alguma forma, devedor ao rei), Yahweh promete abençoar Davi de tal forma que tudo que seus descendentes pudessem oferecer a Ele seria apenas uma ínfima resposta àquela demonstração inicial do divino. O amor leal de Yahweh não é o fruto do amor leal do homem, mas a causa. A graça criativa de Yahweh também é vista na elevação de um humilde pastor à condição de grande rei (7.9), a quem vassalos prestarão homenagem. O próprio Davi demonstra sur presa diante de tal demonstração (7.19). A graça de Deus também brilha em perdão, pelo fato de que o hediondo crime de Davi, embora jamais tolerado, é perdoado. Adultério e homicídio premeditado são tratados não conforme a Lei Mosaica, que prescrevia a pena capital para ambos (Lv 20.10; Êx 21.14), mas de acordo com a graça que detecta o arrependimento e a confiança no caráter misericordioso de Yahweh. Essa mesma graça non ex opera é demonstrada no capítulo 24, quando o castigo divino é suspenso antes que o anjo exterminador chegue a Jerusalém. Embora haja envolvimento humano em intercessão, esta não é apresentada como a causa do ato divino de libertação, mas como seu mero (embora importante) instrumento.

A contrapartida da graça é a severidade (cf. Rm 11.22). Em Sua santidade, Deus não permite que se zombe de Sua pessoa ou de Seu caráter. Portanto, o desprezo de Saul pelo Senhor e Sua aliança (e.g. Arca, gibeonitas) é punido pela justiça divina sobre seus descendentes que, com a exceção de Mefibosete, morrem violentamente ou são submetidos à vergonha da esterilidade (cf. Mical, no capítulo 6). As mesmas conseqüências do pecado estão presentes, de maneira chocante, na vida de Davi. As ondas de choque de seu pecado fragmentam os sonhos de sua família de maneira quádrupla (de ―conformidade‖ com seu julgamento em 2 Sm 12.6): o filho de seu adultério morre, com Amnom, Absalão e Adonias. Pelo estupro de Bate-Seba (o leitor não é informado de como ela reagiu no incidente), não apenas sua bela filha é violada, mas suas concubinas tornam-se objeto do exibicionismo de Absalão, em sua ousada tentativa de tomar o trono de Israel. A vida de Davi é prova clara de que o perdão espiritual não garante isenção da vergonha, do sofrimento e da tristeza, que invariavelmente acompanham o pecado em suas muitas formas. Yahweh escolheu perdoar a culpa sem poupar-lhe as conseqüências. Um exemplo final da severidade de Yahweh se acha na narrativa da arca em 2 Samuel 6. Uzá, apesar de bem-intencionado, estava agindo fundamentado em uma mentalidade humana e supersticiosa. Davi e seus homens tinham instruções mosaicas bem claras sobre como transportar a arca. O método que escolheram sugere uma tentativa de duplicar o sucesso dos filisteus 70 anos antes. No entanto, para surpresa de Uzá, e consternação tardia de Davi, a presença santa de Yahweh e o respeito obediente devido a Ele não podem ser tratados com leviandade.

A maioria das referências à soberania de Yahweh está centralizada na pessoa de Davi. Pacientemente, ele espera que Yahweh torne realidade a promessa de ser o rei ungido de Israel, buscando a direção do Senhor (2.1,2) e esperando um pedido unificado das doze tribos. A soberania de Yahweh talvez apareça na esterilidade de Mical, depois de sua repulsa ao entusiasmo de Davi diante da arca do Senhor. A despeito das causas de tal esterilidade (uma intervenção sobrenatural ou a simples recusa, por parte de Davi, em manter relações sexuais com ela – o que certamente seria a sorte mais amarga), a soberana rejeição divina da linhagem de Saul foi assim efetuada. O respeito que Davi tinha pela soberania de Yahweh transpira no relato da barragem de ofensas que Simei dispara contra o rei deposto (16.5-14). Davi, quando lhe é oferecida a possibilidade de livrar-se de tal incômodo físico e moral, recusa o gesto de lealdade de Abisai, aludindo à possibilidade de que o próprio Yahweh tivesse soberanamente ordenado as ações de Simei (cf. 16.10). Confiança semelhante subjaz em seu pedido para que Deus transtorne o conselho de Aitofel. Sua crença, todavia, não o impediu de empregar os serviços de Husai e de estabelecer uma rede de espionagem na corte de Absalão. Embora 2 Samuel não apresente um quadro claro da escolha davídica de um sucessor, indícios da soberana escolha divina de Salomão podem ser encontrados no relato de seu nascimento (cf. 12.24). O menino, da inevitável vergonha associada ao passado recente de sua mãe, foi alçado à posição de escolhido (amado; cf. Ml 1.2, 3). Jedidias, seu nome alternativo, derivado da mesma raiz verbal que o nome ―Davi, sugere que a mensagem de Natã a Davi tinha algo a ver com a escolha divina de Salomão como herdeiro do trono (cf. 1 Rs 1.13,30; 1 Cr 21.9,13). Assim, em certo sentido, a chamada ―narrativa da sucessão‖ deveria chamar-se ―narrativa da eliminação‖, pois nela Deus vai soberanamente afastando os candidatos impróprios, enquanto opera, simultaneamente, as terríveis conseqüências do pecado de Davi.10 Uma última demonstração da soberania de Yahweh surge no capítulo 24, quando é creditada a Ele a origem do censo. Primeiro Crônicas atribui tais pensamentos a Satanás, que seria o agente designado soberanamente por Yahweh. O fato notável é que Yahweh soberanamente administra o uso satânico do orgulho e ambição humanos para punir algum pecado nacional não identificado (24.1) e produzir o bem maior na clara definição do local onde Seu culto ficaria centralizado e a unidade religiosa da nação seria obtida.

A ADMINISTRAÇÃO DOS PROPÓSITOS DE DEU

Dentro do propósito quádruplo de Deus de permitir a existência do mal, de julgar o mal, de vencer o mal em favor de uma semente escolhida, ou por meio dela, e de conceder Sua bênção aos eleitos, o livro de 2 Samuel opera como o elemento de focalização. Presumindo que a monarquia já havia sido definida como o agente temporário de Deus em Israel (a despeito da falha grotesca de Saul), Yahweh julga o mal dentro da nação e liberta Seu povo escolhido (disciplinando Davi e removendo candidatos indignos ao trono), ao garantir a Israel não apenas alívio de opressões estrangeiras, mas domínio sobre antigos inimigos, de modo que a nação possa desfrutar a plenitude das bênçãos da aliança.

Segundo Samuel oferece um desenvolvimento da aliança abraâmica ao focalizar aquela promessa de que reis procederiam dos patriarcas (cf. Gn 17.6,16; 35.11). A profecia implícita de que um rei viria (cf. Dt 17.14s.) sugere que a monarquia operaria conforme o duplo âmbito das duas alianças prévias. Isto parece claro em 2 Samuel 7.14: Se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens. A promessa a Judá (Gn 49.10) garantia a natureza perpétua da promessa feita à linhagem de Davi; as ameaças da aliança deuteronômica garantiam o inevitável resultado do pecado na vida de qualquer representante individual da linhagem. A aliança davídica floresce, por assim dizer, da semente prometida a Abraão, que é ampliada para incluir uma casa ou dinastia (7.12,13a), um trono eterno (7.13b-15, 16b) e um reino eterno (7.16a). Essa promessa complexa surge tecnicamente sob a forma de uma aliança de doação real, um ―contrato‖ pelo qual um soberano graciosamente concedia um benefício, normalmente sob a forma de terra ou feudo, a um vassalo, quer por serviços prestados quer por pura generosidade e amor do soberano.

A aliança também se baseia em Gênesis 49.10, que assegura que o direito de reinar sobre Israel pertencerá a Judá; a partir desse ponto, a promessa afunila-se até chegar à casa de Davi, antecipando assim o reino de Cristo. 2 Samuel 7 tem várias implicações escatológicas, das quais as mais importantes são: a) Israel deve ser preservado como nação; b) Israel, por fim, reconquistará pleno controle da terra oferecida a Abraão; e c) o Grande Filho de Davi retornará corporalmente e estabelecerá o reino davídico.

As traduções modernas de 2 Samuel 8.18, não apenas em português, mas também em inglês, evitam uma questão significativa, mas problemática, ao dar um significado geral à palavra hebraica kohen (sacerdote). Ao fazerem isso, seguem uma antiga tradição, já que tanto o livro de Crônicas quanto a Septuaginta fizeram o mesmo para evitar a palavra problemática. Duas outras referências complicam o problema: 2 Samuel 20.26 e 1 Reis 4.5. A maioria dos comentários consultados (com exceção de 2 Samuel, de P. R. Ackroyd [CBC]), considera, a priori, que era impossível que os filhos de Davi tenham oficiado como sacerdotes. Essa posição, porém, ignora uma forte tradição de sacerdócio real no Antigo Testamento. As ações de Davi, em 2 Samuel 6, seriam absolutamente absurdas (oferecer sacrifícios, abençoar o povo etc.) a não ser que ele estivesse convicto de que, em virtude de sua captura de Jerusalém e do papel real que ali exercia, estava capacitado a exercer os privilégios que haviam precipitado a ruína de Saul e sua dinastia (cf. gesto semelhante de Saul em 1 Sm 13). A isso deve somar-se o fato de que Davi afirmou que o rei ungido de Israel seria também um sacerdote da ordem de Melquisedeque (Sl 110). À luz da promessa de 2 Samuel 7, não é de estranhar que ele tenha designado funções sacerdotais para seus filhos. Tal designação sugere que Davi estivesse esperando para muito breve a promessa do surgimento de Seu Filho maior e que por isso organizou o culto de maneira que seus filhos desempenhassem os mesmos papéis sacerdotais que, por um curto período de tempo, ele desempenhara.

O fato de ter havido, por algum tempo (977-959 a.C.), dois focos no culto israelita (um em Gibeão, onde estava o tabernáculo, e outro em Jerusalém, onde estava a arca) pode ter contribuído para essa diversificação sacerdotal (cf. 2 Sm 6.17; 1 Rs 3.4,5).12 Que tal esperança ainda ardia em Israel depois de séculos de desilusão fica evidente na profecia de Zacarias (6.9-14) e na tentativa dos hasmoneus de combinar os do os dois ofícios (rei e sacerdote). Esses líderes, embora tenham conseguido (alguns, até certo ponto, mas João Hircano, totalmente) acumular as duas funções, não se qualificavam para cumprir a profecia de Salmo 110, pois eram primariamente sacerdotes, e apenas secundariamente governantes seculares, já que não pertenciam à linhagem de Davi. A objeção que pode ser feita é que 2 Samuel 20.26 e 1 Reis 4.5 não apóiam essa tese proposta, já que os homens nela mencionados não são filhos de Davi. Todavia, é bem possível que, dadas as condições caóticas durante e após a rebelião de Absalão, Ira, o jairita, tenha funcionado como sacerdote real interino, com autoridade derivada de sua indicação por Davi. Poderia se dizer o mesmo de Zabude , embora ele possa ter sido sobrinho de Salomão, já que seu pai, de resto desconhecido, chamava-se Natã. O fato de outros filhos de Davi se sentirem capacitados para tal função pode ser observado quando Adonias ofereceu sacrifícios por ocasião de seu frustrado ―golpe de Estado‖ (1 Rs 1.19).

Outra objeção possível à posição aqui proposta é que ela faria Davi dependente de um sacerdócio jebuseu, pagão, cujo lugar ele teria assumido ao conquistar a cidade. Tal idéia é negada contextualmente pelo profundo ódio que Davi devotava aos jebuseus; também é duvidoso que assumisse uma posição de tal sincretismo religioso depois da violenta punição a Uzá, no caso do transporte da arca. É melhor postular uma tradição israelita de sacerdócio real, iniciada com a figura mística de Melquisedeque, que teria sido gradativamente reforçada pelas figuras quase monárquicas de Moisés e Samuel e que fora ambicionada por Gideão, com sua estola sacerdotal (cf. Jz 8.22-27). O fato de Saul jamais ter tomado Jerusalém, fazendo de Gibeá sua capital, pode ser uma razão a mais para que seu ato sacerdotal tenha sido considerado inaceitável diante de Yahweh. Dentro do esquema divino de intervenção na história para restaurar Sua soberania mediada, a linha de revelação centrada em Melquisedeque ocasionalmente converge com o fluxo maior da atividade divina por meio das instituições de Israel. Essa convergência na pessoa de Davi, rei de Jerusalém, parece, a este autor, o fundamento do uso de Melquisedeque no livro de Hebreus, cujo autor defende a superioridade de Jesus Cristo sobre o judaísmo.

ARGUMENTO BÁSICO

O livro tem sido dividido em cinco partes que oferecem uma visão de como Yahweh operou em graça para preservar a monarquia davídica e impedir que desabasse sob o peso de suas deficiências. Essas cinco partes giram em torno do evento crucial da vida de Davi – sua dupla quebra da aliança no adultério com Bate-Seba e no assassinato de Urias (11.1–12.31). Antes disso, o leitor encontra o estabelecimento do reino de Davi (1.1–8.18) e um retrato do sucesso de Davi debaixo da bênção de Deus (9.1–10.19). Depois do pecado, o leitor encontra a deterioração da monarquia, devido às conseqüências do pecado de Davi (13.1–20.26), e, no contexto do fracasso humano, um retrato da preservação de Israel debaixo da graça de Deus (21.1–24.24). O livro começa com a narrativa de como Yahweh estabeleceu Davi como único regente ao promover a queda da dinastia de Saul (1.1−4.12). Davi, que lamentou sincera e poeticamente as mortes trágicas de Saul e Jônatas (1.1-27), demonstrou uma sábia indisposição de assumir o reino prematuramente, permitindo que as circunstâncias operassem juntamente e produzissem o clima adequado para uma reivindicação do trono do Israel unificado (2.1–3.5). Esse clima surgiu quando Abner, que era a coluna dorsal do reino de Isbosete, rompeu com o filho de Saul e fez uma proposta política a Davi. A despeito das circunstâncias estranhas da morte de Abner, pelas mãos de Joabe, Davi percebe o caminho aberto à sua frente, mais ainda quando revoltosos assassinam Isbosete.

Davi desassociou-se de ambos crimes. No caso do assassinato de Abner, lamentou verbalmente sua morte e censurando (tibiamente) a Joabe, e no caso de Isbosete, mandou executar os dois irmãos assassinos, Recabe e Baaná (3.6–4.12). A seguir, Davi foi estabelecido como regente único pelo pedido de todas as doze tribos (5.1-5), e pela conquista de uma nova capital (5.6-12), e pela formação de uma grande família futuros herdeiros. O estabelecimento do reino prosseguiu em bases militares (por meio de vitórias arrasadoras sobre os odiados filisteus [5.17-25]), em bases religiosas (com o transporte da arca para Jerusalém [6.1-23]), e em bases pactuais (pela promessa divina de um trono e um reino eternos [7.1-29]), e por meio de extensas conquistas militares sobre as nações circunvizinhas (8.1-18). A divisão seguinte oferece um vislumbre da vida sob o governo de Davi. O incidente com Mefibosete ilustra o exercício de lealdade pactual por Davi (9.1-13), ao passo que o triunfo sobre os amonitas mostra a lealdade pactual de Davi sendo desprezada pelos vizinhos de Israel (e antigos aliados de Davi), como também a heróica conquista contra as forças combinadas de diversos inimigos. O cenário, até aqui, é ideal, mas logo o pecado o arruinará.

A divisão central do livro retrata a quebra da lealdade pactual pelo próprio Davi, por meio de adultério, mentira e assassinato (11.1-27). Davi, apesar de ter conseguido esconder seus pecados dos homens, não conseguiu escapar ao olhar penetrante de Yahweh, cujo juízo sobre o pecado do rei é anunciado pelo profeta Natã (12.1-23). Mentira, abusos sexuais e assassinato passariam a fazer parte da vida familiar de Davi como conseqüência de seu pecado (12.10-12). Além disso, o fruto de sua união adúltera morreria (12.14-23). No entanto, mesmo em meio ao juízo, a graça manifesta-se no fato de a vida de Davi ser poupada (12.13), sua vitalidade ser mantida pelo nascimento de um outro filho a quem Yahweh ama (i.e., escolhe; 12.24,25) e a vitória obtida no campo de batalha (12.25-31). A quarta divisão descreve a parca sobrevivência da monarquia devido à desintegração da vida familiar de Davi e a quebra, entre as tribos, da lealdade a ele. O problema inicial manifestou-se quando os pecados sexuais de Davi foram emulados por seu primogênito, Amnom, contra sua meio-irmã Tamar (13.1-19). A isso se seguiram o assassinato de Amnom por Absalão (13.20-29) e um período de hostilidade e separação entre Davi e seu herdeiro presumido (13.30–14.33), que só chegou ao fim por meio da atuação ambígua de Joabe. A revolta de Absalão traz consigo o ápice do castigo divino, à medida que a lealdade da nação é solapada (15.1-12) e o rei é forçado a fugir de Jerusalém (15.13−16.14). A despeito do cenário sombrio, a lealdade pactual de Yahweh ainda está em operação, e a contra-revolta de Davi em Jerusalém (15.30-37) consegue deter Absalão e, ao impedir que o plano de Aitofel se concretize, reduzir a eficácia de seu exército (16.15–17.23). Quando finalmente os exércitos de pai e filho se defrontam, o resultado é favorável ao pai (17.24–18.8), e o filho é executado por Joabe, contrariando as ordens do próprio Davi (18.9-18). As profundas emoções de angústia e remorso de Davi, em conseqüência do incidente, provocam reação de desespero, que Joabe repreende em público para evitar uma absoluta quebra de lealdade entre o povo (18.24–19.8).

O resultado final da revolta de Absalão é uma nação em tumulto, com um governo desmoralizado, aceito pelas tribos por falta de melhor opção (um contraste marcante com a popularidade inicial de Davi; 19.9-39), e um coup d’état que quase dá certo devido à insurreição no exército real (19.40–20.13), mas que fracassa simplesmente porque a nação já não encontra sentido para a luta (20.14-22). Essa seção do livro termina com a reorganização do reino, dessa vez sem a participação dos filhos de Davi (20.23-26). Em vez de ver a última divisão como um ―apêndice‖, é melhor vê-la sob o mesmo ângulo dos capítulos finais de Juízes, o de um apanhado da vida sob a monarquia davídica com ênfase na lealdade pactual. Em 21.1-14, descobrimos que antigas quebras de lealdade pactual têm efeitos que estão presentes na administração divina da história. De outro lado, os feitos heróicos de Davi e seus valentes contra os filisteus relembram a promessa divina de libertação dos inimigos, que previamente Israel não conseguira derrotar (21.15-22). O registro das palavras de louvor declarativo de Davi, em 22.1-51 e 23.1-7, enfatiza como o rei percebia que Yahweh era o responsável por sua preservação até chegar ao trono e que também garantiria o cumprimento último das promessas pactuais a sua família e povo.

A menção dos grandes libertadores de Israel e dos leais servos de Davi ilustra como Yahweh usa instrumentos humanos para cumprir Suas promessas (23.8-39). O incidente com o censo mostra como, até mesmo, a húbris humana (24.1-9) pode ser um instrumento da atividade graciosa de Yahweh, uma vez que, depois de Sua disciplina ter sido administrada (24.10-14), Ele usou as circunstâncias para prover o local em que Sua aliança com a dinastia davídica seria visivelmente manifestada (24.15-25).

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