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A Submissão da mulher

Por Lucas Rosalem.

Você sabe o contexto da passagem abaixo? Leia atentamente e pense na pergunta.

“Da mesma forma, vocês, esposas, sujeitem-se à autoridade de seu marido. Assim, mesmo que ele se recuse a obedecer à palavra, será conquistado por sua conduta, sem palavra alguma, mas por observar seu modo de viver puro e reverente” (1Pedro 3:1-2).

Às vezes, nós vemos um vídeo ou lemos um texto que, por mais que tenha muito a nos dizer em assuntos profundos, nós só conseguimos prestar atenção naquilo que nos interessa. Isso acontece também quando lemos a Bíblia e é por isso que em Romanos 8, um dos capítulos mais incrivelmente reveladores das Escrituras, onde cada verso é uma bomba, muita gente só consegue lembrar do verso 37 (obviamente, sem entendê-lo, já que não se lembra do contexto).

A passagem de Pedro acima talvez seja uma dessas que nos chama a atenção e nos faz pensar por bastante tempo, talvez com raiva, talvez com desculpas, por causa dos nossos gostos e opiniões pessoais; quem sabe até pelas nossas tendências ideológicas, não é?

Mas será que ao menos nos preocupamos com o contexto do verso? E esse dá um pouco mais de trabalho, pois se ele é o primeiro verso, mas já começa com “da mesma forma”, é preciso ler, no mínimo, o capítulo anterior antes de entrar nele. E o que o capítulo anterior diz?

Como vimos no post anterior [clique aqui], Pedro havia falado sobre a forma com que os cristãos são ordenados a se comportar diante das injustiças deste mundo: firmes em Cristo na perseguição e testemunhando ao mundo fazendo o que é bom. Pois é, ele nada cita sobre reivindicar direitos, nem sobre militância política ou qualquer coisa parecida. Ao contrário, ele diz “sujeitem-se às autoridades” (2:13) e, em seguida, “é da vontade de Deus que, pela prática do bem, vocês calem os ignorantes que os acusam falsamente” (2:15).

Por quê? “Porque Deus os chamou para fazerem o bem, mesmo que isso resulte em sofrimento […] Não revidou quando foi insultado, nem ameaçou se vingar quando sofreu, mas deixou seu caso nas mãos de Deus, que sempre julga com justiça” (v.21,23).

É aí que Pedro diz: “a mesma forma, vocês, esposas, sujeitem-se à autoridade de seu marido” (3:1).

E agora? Ainda significa a mesma coisa do que parecia fora de contexto? Creio que não.

Cristo NÃO nos enviou para pegarmos os seus mandamentos e enfiarmos goela abaixo nos outros. Antes, Ele nos enviou para sermos “entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro” (Rm 8:36 – olha aqui Romanos 8, e veja o verso! Eu não disse?).

Esse verso da submissão da esposa para com o marido, na verdade, até nos ajuda a compreender o que Pedro quer dizer no capítulo anterior quando fala sobre a submissão às autoridades. Ora, da mesma forma e pelo mesmo motivo que ele diz para nos submetermos, todos, às autoridades, diz para as mulheres se submeterem aos seus maridos.

Certamente, a recomendação de Pedro serve como um super puxão de orelha naquelas evangélicas moralistas e ranzinzas, insuportáveis com os seus maridos descrentes. E não, não é possível evangelizar com gestos e usar palavras apenas “se necessário”. Não é possível crer numa mensagem que você não ouviu. Pelo contrário: se Pedro diz que esses tais maridos “se recusam a obedecer à palavra”, quer dizer necessariamente que eles já a conhecem ou ao menos já ouviram.

Mas, em especial, a passagem confirma o que nós sabemos por inúmeras outras que não é pela força que as pessoas irão até Cristo. A conversão vem pelo poder do Espírito Santo, certo? O nosso papel é proclamar a mensagem de salvação e, para sermos coerentes, testemunhar com a nossa vida – ainda que isso signifique perdê-la.

É claro que essa passagem tem muitas implicações que uma publicação como esta não daria conta de detalhar. Além do mais, o mais provável é que ficasse mais parecido com uma lista de regras do que com um princípio de sabedoria. Mas assim, sabendo do contexto, você pode ler a passagem de novo e pensar nos limites da aplicação do que Pedro registrou sob inspiração do Espírito Santo.

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