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A noiva de Cristo e a teologia bíblica

Ninguém sabe o que aconteceu com a mãe. A bebezinha foi encontrada em seu sangue. O bondoso pai que a encontrou — não seu pai natural — literalmente deu-lhe vida. Quando foi encontrada a criança, o cordão umbilical ainda não tinha sido cortado e o sangue do nascimento não fora lavado. O pai proveu tudo o que era necessário, e a criança foi adotada e criada em ambiente seguro e cheio de amor. O pai que a encontrou começou a fazer planos para ela ser noiva do seu próprio filho.

Quando chegou à maturidade, a menina deu uma guinada trágica em sua vida. Ela confiou em sua própria beleza e procurou trilhar seu próprio caminho. Logo ela estava vendendo coisas que não têm preço. Vendia a si mesma. Em pouco tempo ela estava escravizada, sem esperança, arruinada. O pai que a encontrara no princípio a comprou da escravidão. Tendo-a redimido, fez tudo para limpá-la e purificá-la. Para sua surpresa, ele a prometeu como esposa a seu filho. Casaram-se e logo ela concebeu. Trazer este filho ao mundo foi, ao mesmo tempo, maravilhoso e terrível. Este não era um filho comum. Além do mais, um dragão procurava devorá-lo. De algum jeito, a criança sobreviveu

Imagine o grande vilão do mundo tentando matar seu bebê e ele continua vivendo! Depois do menino fugir, o dragão se virou contra a mulher. De algum modo, ela também continuou viva. As maldições foram vencidas pelas bênçãos. Como ela escapou do dragão e conseguiu chegar ao deserto? Só Deus sabe. Uma vez no deserto, tudo parecia perdido, enquanto o dilúvio subia; mas, então — só Deus sabe como — a terra abriu sua boca e engoliu essa inundação. Poderíamos pensar que seus inimigos estivessem se opondo ao próprio Deus, sempre frustrando os seus esforços.

Você reconhece estes eventos? Soam-lhe como Ezequiel 16 e Apocalipse 12? Em Ezequiel 16, encontramos Israel personificado como a menina infante encontrada em seu sangue, a quem Deus deu a vida. Então, quando Israel cresceu até a maturidade, cometeu adultério espiritual contra o Senhor. Em Apocalipse 12, Maria simboliza tanto Israel, quanto a igreja. Ela dá a luz a Jesus e o dragão tenta comê-lo vivo, logo que ele nasce. Esse trecho sobre o dragão é uma interpretação simbólica dos esforços de Satanás, através de Herodes, de matar Jesus. Então a mãe, simbolizando o povo de Deus, é preservada no deserto contra todos os esforços de Satanás de destruí-la. A Bíblia pode ser misteriosa, não é mesmo? O mundo e os acontecimentos de nossas vidas também podem ser muito confusos. O que podemos dizer de dragões que tentam devorar bebês, de uma mulher levada sobre as asas de uma águia, sobre um casamento de um cordeiro? Será que os cordeiros têm bodas? Eis uma pergunta-chave ligada às que eu acabo de fazer: como podemos entender-nos como a igreja? Agora, uma pergunta ligeiramente diferente, embora relacionada: se a igreja é tão especial no plano de Deus, por que ela parece ser tão sem expressão?

Se você está se perguntando qual o ponto principal desta seção, permita que eu diga de cara: a história e o simbolismo da Bíblia nos ensinam, como igreja, a compreender quem nós somos, o que nós enfrentamos e como deveremos viver, enquanto esperamos a vinda de nosso Rei e Senhor. Na primeira parte, olhamos a linha da história da Bíblia, e o modo como o simbolismo da Bíblia — imaginário, tipologia e modelos narrativos — sumarizam e interpretam essa linha da história, na segunda parte. Agora, na terceira parte, examinamos como essas coisas nos ajudam a pensar a respeito da igreja. Faremos isso tendo como base o que já vimos das histórias e símbolos.

Ao pensarmos na igreja inserida na história, estas perguntas nos ajudarão a refletir sobre o lugar da igreja na teologia bíblica: Qual o papel da igreja na história da Bíblia? Quem é a igreja? Qual é o seu ambiente? O que cria a tensão em sua parte do enredo, enquanto a narrativa mais ampla se desenvolve? Como é resolvida essa tensão? Quando pensamos no modo como os autores bíblicos simbolizam a igreja, estamos explorando como o simbolismo que usaram resume e interpreta o lugar da igreja na história. Não queremos apenas pensar na história e nos símbolos; queremos ser envolvidos totalmente por eles. Queremos ser identificados por esses símbolos. Teologia bíblica não é apenas um assunto interessante. Ela nos informa sobre quem somos e como vivemos. É um modo de sair de um mundo falso e entrar no mundo real, um transportador que nos capacita a habitar a história das Escrituras. A teologia bíblica é o verdadeiro Guia do Mochileiro das Galáxias (Hitchhiker’s Guide to the Galaxy), e a teologia bíblica é também o coração de ouro que, de forma improvável, nos conduz ao mundo real. Envolvemo-nos na teologia bíblica a fim de não representar erroneamente aquilo que acontece conosco, de não buscarmos nossa identidade em um mundo falso e desperdiçarmos nossa vida.

A verdadeira história do mundo e do lugar da igreja nele é um conto estupendo. Melhor de tudo, é verdadeiro. Esta verdadeira história do mundo tem mais tristeza e alegria, mais drama e empolgação, mais esperança e satisfação que qualquer outra história que o mundo tenha conhecido. A criança no seu sangue foi lavada e limpa. A senhora arruinada foi renovada. A meretriz foi transformada em noiva pura porque o seu noivo morreu para salvá-la. “Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (Ef 5.32). Consideremos a identidade, o ambiente, e o papel da igreja dentro do enredo.

—- Retirado de James M. Hamilton – O que é Teologia Bíblica?


Aprenda mais lendo o post sobre AS FESTAS E OS SÍMBOLOS DO ANTIGO TESTAMENTO.

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