Por Lucas Rosalem.
“Assim, uma vez que permanece a promessa de que entraremos no descanso de Deus, devemos ter cuidado para que nenhum de vocês pense que falhou. Porque essas boas-novas também nos foram anunciadas, como a eles, mas a mensagem de nada lhes valeu, pois não a receberam com fé e não se uniram àqueles que ouviram” (Hebreus 4:1,2).
Ao ler a carta aos Hebreus, tem gente que está tão preocupada em encontrar base bíblica para as suas convicções que perde de vista o tom do texto e o seu propósito original.
Você compreende o tom dessa passagem acima?
O capítulo 4 tem como base o anterior, que estava falando de como o povo israelita foi posto à prova no deserto e, em grande parte, não houve fé no povo, o que os fez perecer. A partir desse fato, o escritor começa a tratar do descanso prometido aos israelitas que parecia ser apenas sobre um descanso físico (na terra prometida), mas na realidade apontava para algo muito superior.
A passagem nos mostra um pastor (o escritor) preocupado com os irmãos, a quem ele transmite essa preocupação e tenta motivar apresentando essa comparação entre o povo da Antiga e da Nova Aliança.
Em primeiro lugar, essa não é uma passagem sobre medo de perder a salvação, pois o primeiro verso já fala o oposto: de como nós podemos com toda segurança confiar na promessa que vem desde os tempos de Israel no deserto. Então, qual é a preocupação do escritor?
A preocupação era com relação a alguns irmãos que estavam esmorecendo na fé e perdem de vista a esperança (o esperar) na promessa do descanso. E essa situação não combina com a fé cristã. Esse tipo de falha em reivindicar a promessa do descanso de Deus não deveria ser encontrado na igreja. Por isso, o escritor é direto em seu apelo de “que nenhum de vós seja encontrado em falha”.
Diferente também das cartas de Paulo, todas voltadas para os gentios, Hebreus cita tantas vezes o AT porque o destino era um povo que conhecia profundamente o judaísmo; eram judeus que haviam se convertido. Estando distante dos irmãos, mas sentindo a necessidade deles e sentindo também que as perseguições estavam se tornando cada vez mais fortes, o autor escreveu àqueles irmãos com o objetivo de ajudá-los a permanecer firmes e não desistirem, se desviando do Evangelho. Em especial, o autor se esforça para fazer um paralelo entre a Antiga Aliança e a Nova Aliança, o que significa que havia uma preocupação de que aqueles irmãos voltassem para as práticas judaicas. O objetivo da carta, então, é pastorear o rebanho à distância, impedindo que alguns negassem a Jesus e voltassem aquilo de onde eles haviam saído.
Porém, ao colocar-se dentro do grupo, o escritor não se dirige especificamente aos irmãos com esse problema. Pelo contrário, ao compartilhar essa preocupação com a igreja, o escritor está jogando sobre ela toda a responsabilidade, provocando em toda a comunidade da fé uma atitude.
Entende o que significa? A passagem tem um tom pastoral que só pode ser compreendido à luz de um bom entendimento sobre o que significa ser Igreja, ser parte do corpo de Cristo, estar em comunhão com os irmãos. Ele já tinha dito isso explicitamente no capítulo anterior: “Pelo contrário, exortai-vos mutuamente todos os dias, durante o tempo que se chama ‘hoje’, de maneira que nenhum de vós seja embrutecido pelo engano do pecado” (Hb 3:13).
E como isso é importante para estes nossos dias!
A congregação toda deve estar vigilante quanto a uma possível perda de interesse pelos assuntos espirituais. Ninguém pode baixar sua guarda. Ninguém pode se perder. A responsabilidade pelos interesses espirituais uns dos outros é obrigação de cada um de nós que foi chamado para discipular tanto quanto ser discipulado. Nós fomos chamados para a comunhão dos santos.
Por que eu citei os nossos dias? Bem, comece aí a pensar em como as discussões políticas têm afastado irmãos da comunhão, criando mal estar entre grupos na igreja local. O problema até mesmo impede que certas coisas sejam ditas de púlpito com receio de ferir o ego frágil de crentes imaturos e que têm se importado tanto com questões secundárias (e nem percebem, pois já as consideram como primárias e essenciais) que rapidamente perderão de vista o motivo de se dizerem cristãs.
Sim, é difícil socorrer (ou, nesse caso, repreender e corrigir) pessoas imaturas. Mas não há outra maneira.
Faça o que precisa fazer e confie no que Cristo fez.
“Visto, portanto, que temos um grande Sumo Sacerdote que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos firmemente àquilo em que cremos. Nosso Sumo Sacerdote entende nossas fraquezas, pois enfrentou as mesmas tentações que nós, mas nunca pecou. Assim, aproximemo-nos com toda confiança do trono da graça, onde receberemos misericórdia e encontraremos graça para nos ajudar quando for preciso” (Hebreus 4:14-16).
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