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SAUL

Quando a posse da Terra Prometida por Israel foi ameaçada, com razão o povo procurou ajuda, mas não necessariamente o tipo certo de ajuda. Depois dos êxitos de Gideão contra o saque dos midianitas, os israelitas propuseram que ele estabelecesse uma dinastia de reis. Gideão rejeita isso com base no princípio de que só o Senhor é Rei (Jz 8.22,23). Após a morte de Gideão, um de seus filhos, Abimeleque, logrou tornar-se governante durante um tempo, provavelmente sobre uma região relativamente pequena (Jz 9). O governo dos juízes prosseguiu. O livro de Juízes termina com uma referência à instabilidade e ao caos na terra, decorrentes da ausência de um rei (Jz 21.25).

No período do profeta e juiz Samuel, algumas batalhas desastrosas com os filisteus reavivaram o movimento a favor da monarquia. Os livros de Juízes e 1Samuel demonstram aparente ambivalência quanto à conveniência de uma monarquia em Israel. Gideão a rejeitara, e agora Samuel também a rejeita. Às vezes se propõe que 1Samuel comporta duas vertentes, uma extraída de um documento pró-rei e a outra, de um documento contrário ao rei. Acho difícil acreditar que o autor do livro de 1Samuel, tal como o temos agora, fosse tão inapto que não conseguisse resolver e evitar ideias contraditórias. A ambivalência não está na redação, mas, sim, na situação histórica real.

É preciso lembrar que a ideia de monarquia foi delineada muito antes disso. Jacó profetizou sobre o reinado de Judá, sem nenhuma insinuação de que isso não seria vontade de Deus (Gn 49.8-10). Nos estatutos e ordenanças de Deuteronômio existe a disposição legal para um rei (Dt 17.14-20). Havia diretrizes rigorosas para distinguir com clareza entre o tipo comum de governante despótico pagão e o rei cujo governo reflete a relação da aliança com o Deus vivo. Os reis de Israel deviam temer ao Senhor, guardar a sua lei e não se considerarem superiores a seus irmãos. Em outras palavras, a aliança define a monarquia para Israel. Infelizmente, o povo nem sempre entendeu as coisas desse modo. Em vez de adotar a aliança como modelo da monarquia, os israelitas certamente desejaram as vantagens que aparentemente o governo autocrático dos reis cananeus e filisteus oferecia.

Desse modo, o pedido por um rei, a que Samuel a princípio recusa, nasceu do desejo de imitar as nações pagãs. Com efeito, foi uma rejeição do modelo da aliança e, portanto, uma rejeição do governo de Deus (1Sm 8.4- 8). Podemos supor que Deus ordenou a Samuel que acatasse o pedido porque sempre fora vontade divina governar Israel por meio de um rei. O povo teria de aprender do modo difícil o que era a realidade do governo da aliança. Desse modo, Samuel advertiu os israelitas de que o tipo de rei que estavam pedindo acabaria não sendo o que eles queriam (8.10-18). Estavam mais interessados em segurança, estabilidade e força do que na aliança. Esqueceram-se de que, na aliança, Deus se comprometera a lhes dar tudo isso como nenhum governante pagão poderia.

Quando Saul é escolhido publicamente por sorteio, não há nenhum indício de que ele será um fiasco. Na verdade, Saul é muito promissor e começa seu reinado desempenhando o papel de um juiz-salvador. Ele reconhece prontamente a mão do Senhor em sua vitória sobre os amonitas (11.12-15). Samuel deixa a liderança, mas adverte os israelitas de que cabe a eles e a Saul decidir se querem seguir o Senhor. Se o seguirem, tudo ficará bem (12.14,15). Não é isso que acontece. O primeiro erro grave de Saul é tomar para si o ofício de sacerdote, e logo depois disso Samuel lhe diz que o seu reino lhe será tomado (13.8-14). Em seguida, o Senhor o envia para destruir os amalequitas, os quais Deus consagrou à destruição. Saul retém parte do melhor gado dos amalequitas, alegando que sacrificaria os animais a Deus. Com isso, demonstra ser um tipo completamente oposto ao rei da aliança descrito em Deuteronômio 17. Ele rejeitou a palavra do Senhor e, então, o Senhor o rejeita como rei (1Sm 15.1-23).

• Saul mostra que a monarquia é a vontade de Deus para o seu povo, mas somente se ela refletir a relação de aliança.

—- Retirado de Graeme Goldsworthy – Introdução à teologia bíblica

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