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O que significa Logos em João?

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É realmente muito atraente a ideia de que haja, da parte de Deus, uma palavra logos e outra rhema, onde logos é apenas uma informação e rhema uma revelação direta e pessoal. O problema é que isso não tem fundamento, como demonstramos na lição anterior.

Infelizmente, algumas pessoas gastam tanto tempo e esforço nisso que começam a confiar em erros teológicos absurdos e até a propagar heresias.

É comum ouvirmos que o logos de Deus não pode dar vida, pelo contrário, pode até matar, pois “a letra mata e o espírito vivifica” (2Co 3:6). Esse argumento é usado como desculpa por pessoas que se sentem muito espirituais, mas não conhecem, nem estudam a Palavra do Espírito.

Ou seja, usam a Bíblia para dizer que estudar a Bíblia “mata”.

Como é que alguém pode sair perdendo quanto mais estudar a Palavra do Espírito? A Bíblia diz o exato oposto! Leia Oseias 4:6.

A passagem “a letra mata” é sempre citada fora de contexto. O trecho inteiro é assim: “o qual também nos capacitou para sermos ministros dum novo pacto, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica”.

A “letra” que Paulo se refere é a lei da Antiga Aliança, como ele diz 3 versos antes: “não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne do coração”.

Ou seja, a passagem é sobre a Nova Aliança estabelecida com Cristo, e não sobre estudar a Bíblia, nem sobre “logos e rhema”.

Dizer que “o rhema é a palavra que vivifica e o logos é morte” é a afirmação mais tola que um cristão pode fazer. Preste atenção:

Nós podemos dizer seguramente que é Deus quem vivifica. Porém, leia atentamente estas passagens: Jo 17:3; 1Jo 3:16; 5:11,12; Cl 3:3; Jo 3:36; At 3:15; Rm 6:23; Jo 6:48; 14;6.

Quem é descrito como autor da vida, sendo Ele a própria vida? O Pai, o Filho ou o Espírito Santo?

Agora, pense: faz sentido um cristão dizer que Jesus é “palavra morta”, ou “palavra que não pode dar vida”?

Óbvio que não. Jesus é a Vida.

Porém, Ele não é rhema.

Jesus é o Logos de Deus!

Não há base bíblica nenhuma para alguém dizer que rhema é a “palavra viva” ou “palavra que vivifica” ou “palavra em ação”. Por outro lado, é exatamente isso que a Bíblia fala de Jesus, o Logos!

Caso você não esteja entendendo ainda, leia devagar como a Bíblia descreve Jesus:

No princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus, e o Logos era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.

[…] a todos quantos o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1:1-5, 12).

Jesus é o Criador e é a vida.

Mas Ele não é rhema. “Verbo”, em João 1, no grego, é Logos!

Pergunta: Por que não faz sentido dizer que a Palavra Viva é o rhema?

II. O LOGOS

O termo “logos” pode ser traduzida para mais de 40 palavras diferentes. Algumas delas são:

Razão, lógica, cálculo, relato, medidas, soma, total, estima, consideração, valor, reputação, forma, relação, proporção, regra, pretexto, raciocínio, caso (em direito), teoria, argumento, princípio, lei, tese, hipótese, fórmula, definição, debate, reflexão, narrativa, história, discurso, oração, frase, mensagem, tradição, diálogo, oráculo, provérbio, linguagem, sentença e a sabedoria.

Um léxico (de léxi, palavra) é um tipo de dicionário que mostra o conjunto de sentidos que os termos acumularam na história. Da língua grega, um dos mais importantes léxicos é o Liddell & Scott, que traduz do grego para o inglês.

Só para o termo logos, esse léxico tem mais de 5 colunas, cada uma com 90 linhas, e deixa claro que logos “raramente significa uma única palavra”. Ou seja, esse termo dificilmente era usado para dar apenas o sentido de “palavra”, muito menos dando a entender que se tratava apenas da forma escrita de um termo.

Todas as palavras que citamos são uma tentativa de resumir e traduzir conceitos em uma só palavra. O problema é que, historicamente, Logos não é uma palavra comum.

Apesar de ser uma palavra bastante usada no dia a dia na época dos apóstolos, ela também carregava outro sentido mais profundo e muito complexo, que vinha dos debates de filosofia que começaram 500 anos antes de Jesus e ainda eram importantes em seus dias.

Quando João usou o termo Logos, estava propositalmente fazendo referência a um debate filosófico muito amplo e bem conhecido.

A palavra logos tem muito mais significado e é muito mais profunda do que a palavra rhema.

Na Bíblia, ela é a raiz, por exemplo, da palavra “abençoar”, em Mt 19:1,11; Mcs 1:45 e Jo 3:26, dentre outras passagens.

Só no livro de Mateus, logos é a raiz das palavras: declarar (7:23), confessar (3:6), prometer (14:7).

Então, tanto na cultura entre as pessoas comuns quanto no Novo Testamento, Logos tem significados diferentes. Até mesmo nas diferentes correntes filosóficas, Logos ganhou conceitos distintos.

O que significa Logos em João?

III. O DEBATE FILOSÓFICO

540 anos antes de Jesus, na cidade de Éfeso, nascia Heráclito, que veio a ser um dos mais importantes filósofos gregos.

Heráclito acreditava que existisse um tipo de “razão universal” que governasse tudo o que acontece na natureza. Essa razão universal seria uma espécie de “lei universal”, comum a todos, pela qual todos os homens deveriam se orientar, ainda que a maior parte deles viva segundo seu próprio conselho. Heráclito enxergava uma unidade, ou totalidade, nas transformações da natureza, como se todas as coisas tivessem uma mesma origem. Até a tal razão, ou lei universal também teria essa origem. E essa origem foi chamada por ele de Logos.

Mas isso foi apenas como esse assunto começou.

Aqui, já podemos ter uma ideia de alguns assuntos profundos que João tinha em mente quando escreveu o início do seu evangelho.

Os gregos tinham uma ideia de que por trás do Universo havia uma força, um poder, um princípio formador, uma inteligência.

Eles falavam sobre uma inteligência organizadora da beleza do Universo. Essa inteligência era chamada de Logos, mas cada filósofo a apresentava de uma maneira diferente. Às vezes mais religiosa, por causa do contexto pagão e politeísta, às vezes descartando completamente o sobrenatural.

Detalhe: João foi escrito em Éfeso, a cidade de Heráclito! É claro que o texto é uma referência a tudo isso, apesar de ir muito além.

Pergunta: O que os filósofos chamavam de Logos?

IV. A RESPOSTA CRISTÃ

Dificilmente a pessoa de Jesus poderia ter sido melhor descrita do que em João 1:1.

João o descreve como a resposta verdadeira para o Logos do qual todos os filósofos falavam e ainda do Logos como Criador de todas as coisas.  Mas João não é o único apóstolo que nos diz isso. Em Efésios 3:9, Paulo diz que “Deus criou todas as coisas por meio de Jesus Cristo”. E em Colossenses 1:16-17, Paulo diz que Cristo criou todas as coisas, e explicitamente mostra que Cristo “organizou” o Universo.

Paulo confirmou essa razão universal, ao dizer que todas as pessoas já nascem com uma noção natural da existência de Deus e de uma lei moral (Rm 1:32; 2:15).

João, por sua vez, fez muito mais do que apenas mostrar uma posição cristã sobre o Logos. Sua descrição é filosófica e poética, e ele descreve o Logos como um ser pessoal de maneira tão profunda e impactante que faz estremecer qualquer cristão, desde o mais ingênuo e simples ao mais estudado.

Sobretudo, o pano de fundo e a conexão mais importantes para João não estava no debate filosófico, mas na revelação que a humanidade recebeu, através do povo hebreu, com o próprio Logos.

É impressionante vermos que os judeus, desde muito antes dos gregos, já tinham o seu próprio conceito de Logos. O livro dos Provérbios foi escrito mais de 900 anos antes de Cristo, ou seja, pelo menos 400 anos antes do Logos do pensamento grego.

Leia Provérbios 8:22-36.

A passagem mostra uma assombrosa semelhança entre o Logos grego e o Logos de João.

Além disso, qual é o primeiro verso da Bíblia? Como é que o próprio Deus se apresenta no livro que seu Espírito Santo entregou à humanidade?

“No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1:1).

Na sequência, o texto já descreve o Senhor chamando as coisas à existência. Mas é apenas nos Salmos (33:6), que finalmente nos é dito que “pela palavra do Senhor foram feitos os céus”.

Ao começar seu livro dizendo “no princípio”, João está fazendo uma conexão gritante com o início de Gênesis, de maneira que saltaria aos olhos de qualquer judeu.

V. O LOGOS: A PALAVRA VIVA

Preste atenção: Nós sabemos que as obras não podem nos salvar, e que a salvação é somente pela fé. Ninguém será salvo por imitar a Cristo, mas sim por crer nele.

No entanto, nós imitamos a Cristo por amor a Ele. A santificação é o amor – que Deus nos deu – em ação. Nós nos separamos do mundo por amor. Em outras palavras, a santificação é a expressão da imagem de Deus em nós.

João, ao descrever o Logos (o Filho) como a Palavra em ação, está demonstrando que Cristo é a expressão de Deus: Deus, quando decidiu se expressar, o fez na pessoa do Filho; primeiro na Criação, depois, na Redenção.

O nosso termo “Verbo” não é uma tradução perfeita do vocábulo grego logos, mas sem dúvida é difícil encontrar outra melhor.

Jesus é a verdadeira Palavra em ação; é o conhecimento em ação; a sabedoria em ação.

Ele é a verdade em ação!

João está dizendo a gregos e a hebreus: Esse que vocês dizem estar por trás da origem do Universo, que é a fonte da Vida, que ordena e sustenta todas as coisas: se fez carne, habitou entre nós! E o nome dele é Jesus!

O mesmo João escreveu o Apocalipse. Agora, compare Is 55:11 com Ap 19:13,15.

Viu por que a única Palavra que não volta vazia é a de Deus? Porque Jesus é o Verbo de Deus!

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