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NÃO ESTÁ NA MODA FOTO COM POLÍTICO

Por Pedro Dulci
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A foto do Lula com o Papa poderia ser substituída por vários outros líderes evangélicos com outros agentes políticos — das mais variadas matizes ideológicas. Não tenho incômodo com isso. Esse não é o núcleo da questão.
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Existe um fator mais silencioso por trás do nosso incômodo com fotos de pastores com políticos. Nós não nos sentimos representados com a polarização. Quando vemos uma figura evangélica alinhar sua imagem a um determinado espectro da polarização, imediatamente pensamos “por que ele fez isso?!”
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Não somos ingênuos de pensar que cada pastor e teólogo brasileiro não tenha seus candidatos e participam das eleições normalmente. Mais uma vez, a questão não é essa.
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O que alguns pastores não perceberam é que não dá para posar ao lado de nenhum candidato sem ferir a suspeita que todo cristão tem (ou deveria ter) com todo representante público. João Calvino que reconhecia a santa vocação dos magistrados, ao mesmo tempo, não deixava de lembrar da suspeita que devemos ter com o orgulho e a arrogância a espreita dos políticos.
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Está claro para um número crescente de evangélicos que a polarização é danosa ao discurso político e que afirmar publicamente a benção de Deus sobre um candidato de terminado espectro político não ajuda em nada a desarticular tais dicotomias.
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Infelizmente, o que era bastante comum há 20 anos hoje tornou-se motivo para acender as consciências inflamadas. Basta você pegar o excelente livro do falecido Dom Robinson Cavalcanti sobre Cristianismo e Politica (Editora Ultimato) e ver que ele, no prefácio, assume que é um cristão evangélico progressista. Ele sempre fez isso. Vejam os vídeos de pregação dele no YouTube em que ele abertamente diz que é filiado ao Partido dos Trabalhadores. O tempo era outro. Estamos muito menos polarizados. O pastor também era outro. Ninguém duvida da reputação evangélica ilibada de Dom Robinson.
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Nada disso é possível hoje em dia. Vemos vários pastores da “velha guarda” mantendo essas práticas de publicização política atestando como está desconectados dos ritmos da discussão política atual. E o que é mais chocante: pastores e líderes mais jovens reproduzem as mesmas práticas, mostrando que não fizeram corretamente a exegese da sua cultura.
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Em tempos de extremos e polarizações viscerais, quem tem a mínima prudência torna-se paradigma de bom senso. Basta sermos criativos o suficiente para discutirmos os rumos da política de nossa cidade, estado e país sem reproduzirmos os maniqueísmos empobrecedores.
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É fundamental para não nos mantermos alienados dos ritmos da discussão política atual que não mantenhamos represada a benção de Deus nessa ou naquela plataforma política. Cristo move-se para muito além delas. Precisamos também aprender a pensar politicamente assim!

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