Por Pedro Dulci
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A recente visita de Lula ao Vacatiano reacendeu a velha discussão sobre a mistura entre política e religião. Para muitos, a mistura entre eles sempre gerou corrupção ao sagrado. Entretanto, cristãos genuínos não podem deixar que a esfera pública permaneça religiosamente nua — totalmente entregue ao secular.
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A razão desse incômodo está em uma incompreensão fundamental dos termos da discussão e uma aderência irrefletida aos conceitos enviesados da política partidária.
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Basicamente, por não se dedicarem a aprender sobre politica de fontes coerentes com sua fé, os cristãos não sabem como abordar essas questões a não ser pela desgastada polarização típica das ideologias políticas atuais.
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Sejamos honestos, quando foi a última vez que compramos um bom livro da área ou fizemos um curso sobre isso? Se até para tirar habilitação de motorista precisamos de prova teórica, por que em política seria diferente? Os cristãos acham que vão naturalmente fazer uma análise competente dos fatos políticos e, além do mais, glorificar a Deus por isso.
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Uns acusam o papa de ser claramente de sequer e, ao manifestar seu afeto a Lula demonstra suas críticas à direita. Outros justificam o pontífice dizendo que este além de líder religioso é também chefe de estado e por isso deve receber qualquer figura pública como tal.
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Enfim, com categorias tão pobres analiticamente como “esquerda” ou “direita” não conseguimos avançar muito em uma compreensão genuinamente bíblica da realidade social. Nem mesmo os substitutos mais eruditos de “progressista” e “conservador” servem. Eles não dizem nada em si mesmos e só quem não tem conhecimento de causa utiliza esses termos para se referir a programas governamentais e plataformas políticas inteiras — como se fosse possível reduzir algo tão complexo ao progresso ou à conservação.
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A real complexidade da questão faz com que vários cristãos simplesmente ausentem-se de estudar e discutir sobre isso. Pensam que não vale a pena se desgastarem ou pior, acreditam que não é possível lidar com tais questões sem se corromper ou afetar negativamente seu testemunho.
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Será que para manter seu bom testemunho público, um discípulo de Jesus não deve manifestar-se sobre essas questões? De maneira nenhuma! Seria um contra-senso deixarmos de falar sobre nossa fé em Cristo e como ela transforma todas as áreas da vida humana — inclusive, a participação política.
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Nos resta perguntar, portanto, sobre como tratar dessas questões. Aqui surge a necessidade de uma teologia pública robusta e radicalmente bíblica.
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Obviamente não vou construir tudo aqui. Estou ocupado com esses temas há anos. Vou começar a compartilhar aqui com mais periodicidade. Também não irei reinventar a roda. Graças a Deus existe uma longa e frutífera tradição de homens e mulheres intelectualmente abeis e biblicamente fiéis no trabalho de analise social.
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Seja como for, um primeiro dado teológico-político fundamenta é que nosso lugar de reflexão é privilegiado. Ninguém está em condições melhores do que os cristãos de se posicionar politicamente. Isso porque adoramos um Deus que não se limita às ênfases dos partidos políticos, plataformas governamentais ou ideologias partidárias. Ele é igualmente soberano sobre todas as áreas da vida e, por isso, nos livra de partidarismos polarizados e nos torna uma benção para todos os povos.
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É justamente por isso que é uma tristeza imensa assistir a igreja evangélica ser engolida pelas pautas polarizadas que não coadunam com as Escrituras. Precisamos de Reforma em nossa teologia pública.
RELIGIÃO E POLÍTICA SE MISTURAM?

