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JESUS NÃO ERA UMA MULHER NEGRA NEM FOI UM JOVEM BALEADO

Por Pedro Dulci
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Jesus não era uma mulher negra, nem foi um jovem pobre morto à bala. Isso não faz de Jesus menos sensível à causa dos que sofrem e são oprimidos nos grandes centros urbanos contemporaneamente. Só não faz a imagem do Deus invisível compatível com as imagens selecionadas pela Mangueira para desfilar na Sapucaí.
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E não vou entrar no mérito de discutir sobre a compatibilidade ou não da perseguição que Cristo sofreu pelo Império Romano com as perseguições cotidianas nas ruas de nossas cidades. Há quem defenda que existem estruturas imperiais análogas em vigência atualmente.
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A questão não é o instrumento nem as circunstâncias. Ao lado de Jesus foram crucificados outros dois, e ninguém faz carro alegórico para eles. No fundo, a questão é sobre a imagem.
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Existe um grande problema quando se pensa que a imagem de Jesus enquanto um homem hebreu pode ser alterada. Até mesmo o caso mais sensível e a vulnerabilidade mais urgente de uma sociedade não tem essa autoridade. Isso porque, quando se muda a imagem do Jesus homem por uma mulher, uma pessoa trans, ou quem quer que seja, mudamos toda a religião.
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Quem chegou a essa conclusão foi C. S. Lewis em um artigo contra a ordenação de mulheres. O núcleo de seu argumento é que, ao contrário do que dizem, gênero, sexualidade, contexto histórico são importantíssimos para o cristianismo. Não são para aqueles que, a semelhança da escola de samba, trocam homens por mulheres como se movessem formas geométricas.
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Para entender isso é muito simples. Basta responder se podemos orar à “Mãe nossa que está nos céus” tanto quanto ao “Pai nosso”,se a segunda Pessoa da Trindade poderia muito bem ser chamada de Filha ou de Filho, se o casamento místico poderia ser invertido — que a Igreja fosse o noivo e que Cristo fosse a noiva, ou mesmo duas noivas.
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Nós podemos alterar esses quadros sem mexer com toda a estrutura da religião cristã revelada nas Escrituras? Obviamente, a resposta é negativa. Os cristãos levam muito em consideração a sexualidade humana, a posição concreta de cada um na história e a violência dos impérios. Mas sabemos também que criança que aprendeu a orar a uma mãe nos céus teria uma vida religiosa radicalmente diferente de uma criança cristã.
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Não estamos sendo fiéis ao espírito da religião cristã quando compatibilizamos o sacrifício de Cristo com a morte de qualquer outra pessoa. Estamos mudando toda a religião.
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Isso não faz dos dados alarmantes da violência no Brasil uma preocupação que não está na agenda do cristianismo. Mas nessa agenda existem outras expectativas, outras confianças e outras formas de amar. Não corrigimos um homem ou um marido ruim mandando ele se tornar uma mulher. Não existe cura na desconstrução.

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