Introdução à Bíblia, de Laird Harris, é um livro que compõe o Curso Vida Nova de teologia básica, ofertado pela editora Vida Nova.
O curso, em geral, é muito bom. Mas eu tenho ressalvas quanto a este livro em específico.
Todos os livros do curso são bastante introdutórios. Porém, o de Teologia Sistemática, por exemplo, escrito por Franklin Ferreira, além de muitos insights autorais e uma tentativa de apresentar os melhores argumentos de cada assunto, tem também um formato inusitado que joga o material em um nível diferente: o autor apresenta, ao final de cada capítulo, uma lista de filmes que retratam períodos da história relacionados à matéria estudada.
No caso deste livro aqui, de Laird Harris, é o contrário: não há grandes (ou nenhum) insights do autor, os argumentos não são os melhores (são, no máximo, razoáveis para uma Bibliologia) e fica nisso mesmo, sem nenhuma proposta didática diferente.
Uma amostra triste do que estou querendo dizer sobre não mostrar os melhores argumentos, é o que acontece já no primeiro capítulo, onde o autor tenta explicar sobre a Queda da humanidade em pecado e o Plano de Redenção. Acompanhe o jeito que o autor explica a questão, que consta na página 11:
“Depois que Adão e Eva pecaram, Deus poderia muito bem ter desistido deles. O primeiro casal o desobedecera por livre e espontânea vontade; a consequência disso era a morte. Entretanto, Deus, em sua infinita misericórdia, desenvolveu o plano da salvação” (grifo meu).
Ora, diga-me: isso não soa como se o plano de salvação tivesse sido elaborado de última hora, como uma reação à tragédia do pecado, pegando Deus de surpresa? Já é difícil tentar desfazer ideias equivocadas que novos cristãos vêm carregando de berço, que dirá então quando as mesmas forem reafirmadas num curso de teologia desse gabarito! O argumento é tão fraco que, ainda que o autor obviamente saiba que isso é falso, da forma como foi posto soa um tipo de “plano b” da Trindade, que não estava preparada para o que aconteceria.
Há inúmeras formas melhores de apresentar a Queda e o Plano de Redenção. Essa me parece ser a pior de todas. O autor não se preocupou em refinar os argumentos.
Algo tão grotesco assim não se repete depois. Mas coisas semelhantes, em níveis bem menores, surgem com muita constância, e não pela falta de esclarecimento do autor, mas pela falta de pesquisa e busca pelos melhores argumentos.
Isso se vê outra vez, com bastante evidência, nas seções sobre a alta crítica e sobre a ciência, onde os argumentos contrários à confiabilidade bíblica são expostos sem dificuldade, enquanto as respostas são, no máximo, um tira-gosto do que se poderia fazer para não perder a fé no texto sagrado.
Levando em conta que o material não é meramente um livro, mas faz parte de um curso de teologia básica, ou seja, uma situação em que a equipe editorial deveria ter triplicado a atenção a itens básicos (didática, concisão, clareza, etc.), me pergunto se houve mesmo uma preocupação (ainda que básica) nesse sentido.