Por Lucas Rosalem.
O apóstolo João, no final de sua vida, estava preocupado com o amadurecimento dos cristãos que conhecia. As suas 3 cartas evidenciam isso com clareza. A segunda carta tem apenas 1 capítulo. Veja o que diz o verso 4:
“Fiquei muito feliz por encontrar alguns de seus filhos e ver que estão vivendo de acordo com a verdade, conforme o Pai ordenou” (NVT).
Agora, veja que curioso: depois de dizer isso (que se alegrou em ver tais pessoas vivendo conforme a verdade, como Deus ordenou), João faz o seguinte alerta:
“Agora, senhora, peço-lhe que amemos uns aos outros. Não se trata de um novo mandamento; nós o temos desde o princípio. O amor consiste em fazer o que Deus nos ordenou, e ele ordenou que amemos uns aos outros, como vocês ouviram desde o princípio” (5-6).
João amava os irmãos, por isso, queria vê-los também exercitando esse mesmo amor. Ao relacionar o amor com o mandamento, João está colocando-o não como um sentimento, mas como uma disposição pessoal do cristão verdadeiro. Mas qual a conexão entre o verso 4 e esse alerta? Por que pessoas convertidas que andam na verdade, segundo o mandamento de Deus, precisam ser alertadas para amar umas às outras, obedecendo o que Deus ordenou? Não era isso que João havia acabado de dizer? Pois bem, trata-se de uma questão de maturidade. Explico:
Se amar não é sensação/sentimento, mas uma disposição (uma posição em relação ao outro) específica que devemos ter, portanto, algo consciente, significa que amar demanda reflexão, demanda entendimento e crescimento. João está preparando os seus leitores para algo crucial que irá dizer em seguida. Veja os próximos três versos:
“Digo isso porque muitos enganadores têm ido pelo mundo afora, negando que Jesus Cristo veio em corpo humano. Quem age assim é o enganador e o anticristo.
Tenham cuidado para não perder aquilo que nos esforçamos tanto para conseguir. Sejam diligentes a fim de receber a recompensa completa.
Quem se desvia deste ensino não tem ligação alguma com Deus, mas quem permanece no ensino de Cristo tem ligação com o Pai e também com o Filho” (7-9).
Um dos vários motivos pelos quais é importante entendermos o que é o amor (diferente do sentimentalismo mundano) está no fato de que o amor verdadeiro não nos torna imbecis diante dos falsos pastores. Quais falsos pastores? Em especial, nessa passagem, aqueles que substituem a pregação do Evangelho por outras coisas, pervertendo a mensagem cristã.
Incrivelmente, esse tipo de pregador consegue arrebanhar multidões em nossos dias e seus seguidores não conseguem perceber que nunca estão ouvindo o Evangelho justamente porque nunca ouvem, então, não sabem o que isso significa. E a passagem é muito mais dura do que a maioria dos evangélicos imagina.
“Se alguém for a suas reuniões e não ensinar a verdade de Cristo, não o convidem a entrar em sua casa, nem lhe deem nenhum tipo de apoio. Quem apoia esse tipo de pessoa torna-se cúmplice de suas obras malignas” (10-11).
Como explica o pastor Hernandes Dias Lopes, “a palavra grega chairein, “saudar, cumprimentar”, indica a entrada em comunhão com a pessoa saudada, e receber um falso mestre era expressar a solidariedade com ele. Dar as boas-vindas a estes enganadores seria o mesmo que caminhar junto deles e ajudá-los nesse maligno propósito. Além dos falsos profetas, existiam ainda os charlatões que se aproveitavam da boa-fé dos crentes para se instalarem em suas casas, buscando proveito material”.[1]
Amar não é o mesmo que ser gentil. Na maioria dos casos, o amor tem como uma das consequências a gentileza, mas o texto é claro ao nos dar ao menos 1 exceção: o tratamento com os falsos pastores. Isso inclui, obviamente, evangélicos que, sem o menor discernimento, dizem “não julgueis” em resposta a quem critica líderes evangélicos cujos ensinos são nocivos para a igreja. “Deixem Deus julgar”, alguns dizem, pensando que com isso estão demonstrando amor. Ao contrário, estão demonstrando falta de amor pelos que ouvem heresias e cumplicidade com obras malignas, como diz João (v.11).
Se você ficou com dúvida sobre como detectar falsos pastores, comece agora mesmo a pesquisar sobre a mensagem do Evangelho.
[1] LOPES, Hernandes Dias. 1, 2 e 3João – Como ter garantia da salvação, p. 245. São Paulo: Hagnos, 2010.
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