O Novo Testamento não é livro exclusivo da cristandade. Esse documento de literatura é propriedade pública e pode ser estudado historicamente. O conhecimento que dele resulta, e que pode ser controlado por não-cristãos, fornece uma imagem de Jesus que pode também servir de controle para as imagens que os fiéis fizeram a respeito dele no decurso do tempo. De fato, um cristão não pode, soberanamente, ignorar tais pontos de partida universalmente acessíveis para o conhecimento sobre Jesus.
Com tais pontos, o cristão pode enriquecer suas próprias idéias sobre o Cristo, comparando-as e reformulando-as, se for preciso. Assim, o fato de que o conhecimento sobre Jesus de Nazaré é acessível a todos presta um serviço à fé dos cristãos, não como apologia, mas como confrontação crítica.
Essa interpretação extra-eclesial de Jesus tem muitos aspectos. O filósofo marxista Roger Garaudy afirmou certa vez: “Entregai-o a nós!” Devolvam Jesus de Nazaré também a nós (que somos não-cristãos, ou mesmo ateus). Vocês, em suas Igrejas, não podem guardálo somente para vocês” . Gandhi disse: “ Sem precisar ser cristão, eu posso testemunhar o que este Jesus significa na minha vida” . Também muitos humanistas encontram orientação e inspiração em Jesus de Nazaré, ao lado de outras fontes de inspiração.
Em nosso tempo, sobretudo os jovens, p.ex., o “Movimento de Jesus” , fora de todas as Igrejas, encontram em Jesus felicidade, inspiração e orientação. E evidente que Jesus não é monopólio das Igrejas cristãs. Podemos dizer: Jesus está sendo “desconfessionalizado” em grande escala. Na índia se pergunta: “O que significa Jesus para mim como hindu?” Em outros lugares: “O que significa ele para mim, como maometano?” No mundo todo, jovens são atraídos por “Jesus de Nazaré” .
Quem hoje procura avaliar esse fenômeno do ponto de vista da interpretação eclesiástica de Jesus, corre o perigo de continuar cego, exatamente diante dos elementos em Jesus que são para muitos significativa inspiração; enquanto pessoas da Igreja, durante séculos, não os mencionaram ou simplesmente não os enxergaram.
A interpretação sobre Jesus fora das Igrejas chama a nossa atenção para o fato de que Jesus realmente tem algo a dizer muito importante para todo ser humano, pois é significativo também para os não-cristãos. (Edward Schillebeeckx)
Percebe-se um problema grave e muito evidente quando nota-se o quanto o Jesus histórico influencia o mundo e o quanto está vívido como uma referência atualizada de bondade ou de algum tipo de salvação. Poderíamos corretamente olhar para isso com alegria, vendo um atalho para a mensagem real do Evangelho, já que aparenta ser mais fácil explicar o tipo de salvação que o Evangelho representa e a quê se propôs de fato a obra de Cristo, a pessoas que já veem em Sua pessoa uma expressão de amor e/ou salvação. Digo que “poderíamos” olhar com alegria, visto que a culpa dessa visão deturpada de Cristo e Sua obra seja propriamente a visão distorcida da Igreja (histórica e atual) e, pior ainda, a forma com que ela apresenta ao mundo sua mensagem. (Lucas Rosalem)
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