Por Lucas Rosalem
Tiago, irmão de sangue de Jesus Cristo, explicou algo que deveria ser óbvio para nós todos, mas, ao que parece, não é: que qualquer um que tente guardar a lei, mas peque em qualquer assunto, quebrou a lei toda, pois a lei é um princípio, é uma coisa só (Tg 2:10).
Ele diz ainda: “Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade” (Tiago 2:12).
Diante dessas afirmações, eu gostaria que você refletisse comigo sobre algo que Paulo diz no segundo capítulo de Romanos e que os evangélicos parecem não estar percebendo o quanto essa passagem tem gritado à Igreja de hoje.
Como nós todos pecamos, nós todos somos transgressores da lei de Deus. Por mais que tenhamos o Espírito Santo agindo em nós, nós só estamos salvos pela graça mesmo, não pelo nosso compromisso com Deus. Porém, diante da militância ideológica constante no Brasil, seja pelas feministas, pelos esquerdistas, pelos movimentos de libertação sexual ou movimentos de identidade racial que acabam provocando ainda mais racismo, os evangélicos têm feito uma péssima teologia pública. Ou seja, as suas convicções colocadas às claras como reação ao que eles consideram imoral têm se mostrado incompatíveis com o que eles mesmos imaginam estar usando como base para reagir: a fé em Jesus e o amor cristão.
O texto de Romanos que quero considerar é este:
“Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa” (Romanos 2:23-24).
Muito infelizmente, a coisa mais comum hoje é o mal testemunho dos evangélicos militantes “por Cristo” (como acham que é), enquanto, na verdade, causam ainda mais nojo pela igreja nos grupos que tentam combater.
Primeiro, o que Tiago tem a ver com isso? Bem, sobretudo, os cristãos deveriam, no mínimo, estar conscientes de que são falhos (e muito!), tão merecedores da ira de Deus e necessitados da sua misericórdia quanto qualquer militante dos grupos citados. Ao contrário disso, a postura mais comum de evangélicos pela Internet tem sido enfatizar a imoralidade e o ódio de pessoas cegas pelo pecado e, ao mesmo tempo, se manifestar contra essas pessoas com imoralidade e ódio, porém, à sua própria maneira. Isto é, uma imoralidade e ódio que os evangélicos parecem acreditar serem legítimos, já que se trata de “defender Jesus”.
Fora o fato ainda mais ridículo disso ser feito até mesmo entre os próprios evangélicos (entre crentes com convicções políticas discordantes), essa gente não tem percebido o quão oposto essa atitude é da fé cristã. Se dizem cristãos, mas suas práticas negam a fé cristã.
Para frisar: estão rejeitando a fé em Jesus pelas suas práticas.
Há um esforço bíblico geral no NT em ensinar que a Igreja deve continuar testemunhando de Cristo mesmo diante de agressão. Em outras palavras, eu e você precisamos continuar oferecendo e provando o nosso amor sincero e prático, tanto quanto explicando a mensagem da cruz, a todos os que se colocam contra nós.
Mas ao invés de demonstrar o amor cristão e a mensagem de salvação, justamente àqueles que mais precisam de uma demonstração prática de quem são os cristãos, uma quantidade enorme de pessoas do nosso meio simplesmente tenta usar a mesma estratégia imoral e odiosa de pessoas sem Deus contra elas: gritar, insultar, expor ao ridículo, “decretar” condenação (ao invés de chamar ao arrependimento), reivindicar “direitos”, exigir canetadas de políticos pra punir opositores, etc. Por mais que você tente provar que esses itens (ou algum deles) seja legítimo, o difícil é provar aos de fora o quão diferente realmente você, que usa essas artimanhas, é de qualquer outro desses grupos.
No fim das contas, se o máximo que estamos conseguindo fazer é formar só mais um grupo que tem as mesmas estratégias e posturas de reação contra os grupos opositores, mudando apenas o tipo de coisa que reivindicamos, nós estamos caindo no que Paulo disse: nos gloriamos de sermos cristãos, enquanto transformamos essa identidade em uma simples roupagem ideológica e política. Com isso, fazemos com que os de fora cada vez mais blasfemem contra o nome de Deus.
Passou da hora das igrejas locais começarem a ensinar a diferença entre os cristãos que amam, na prática, aqueles que os perseguem, e disciplinar seus membros que ferem esse testemunho.
Até aqui, você já conseguiu localizar em que lado dessa história você está?