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A Teologia do livro de Ageu

Ageu inicia sua profecia com uma data, indicando que Israel ainda está sob o domínio gentílico. O primeiro dia do mês de Elul proporcionou ao profeta uma audiência [pois era um dia de festa religiosa], mas a mensagem foi primariamente dirigida aos dois líderes da nação restaurada, Zorobabel, o governador, e Josué, o sumosacerdote. Ambos eram diretamente aparentados com os líderes pré-exílicos, Jeoiaquim (no âmbito político) e Jeozadaque (no âmbito religioso) e, portanto, responsáveis pela condução da vida em Judá na ocasião. Os judeus foram repreendidos por suas prioridades distorcidas (1.3-6), por perseguir desenfreadamente seu conforto material enquanto adiavam ad nauseam seu compromisso religioso. Tal indiferença para com a casa de Deus, a qual deveria ser o centro da vida nacional, e a indulgência para com o desejo de possuir casas que não eram apenas seguras, mas luxuosas, trouxeram à nação sofrimentos econômicos e sociais, como a fome, pobreza e inflação.

sociais, como a fome, pobreza e inflação. A correção de Deus começa com auto-avaliação cuidadosa (cf. a frase chave hebraica l śîmû (שִׁ ימוֹלְּ בַבְּ כֶםֹעַל־דַ רְּ כֵיכֶם eḇ ḇḵem ʿ l d r êḵem), ―Considerai os vossos caminhos‖, 1.5, 7) . A nação teve de rever sua falta de compromisso com sua principal prioridade e se ocupar em promover a glória de Yahweh na construção do templo (1.7). A questão chave era a glória de quem a nação buscava. Os versículos de 9 a 11 fornecem aos ouvintes uma estrutura pactual em que operar. Judá ainda estava sob os princípios de bênção e maldição da aliança mosaica (cf. Lv 26 e Dt 28). Sua negligência produzira completo fracasso de seu sistema econômico. Quanto mais eles retinham do Senhor devido a suas condições precárias, mais perdiam em sua economia agrícola. Era uma situação de perda inescapável que só poderia ser quebrada por uma renovação de compromisso com o Senhor. Esses versículos certamente lembrariam os judeus da crise do tempo de Elias e Acabe (cf. falta de orvalho, v. 10, e seca, v. 11), provendo assim uma idéia clara da seriedade do pecado da negligência.

Os versículos de 12 a 14 contêm a reação do povo à primeira mensagem de Ageu. A começar pelos líderes, a nação toda respondeu positivamente ao desafio do profeta e ao encorajamento divino (1.13). Conclui-se que eles obedeceram à voz do Senhor contida nas palavras de Ageu. A causa dessa reação se acha em 1.14, ―o Senhor suscitou o espírito […] de todo o resto do povo‖. Na verdade, este versículo apresenta um impressionante contraste com 1.2, em que os judeus foram chamados sarcasticamente de ―este povo‖. Quando obedecessem ao Senhor, sob Sua capacitação, os ouvintes de Ageu se posicionariam para receber o título de יתִׁ רֵ אְּ ש) š e ʾēr’ṯ, ―remanescente‖), aquele grupo de pessoas especialmente caras ao coração de Deus, freqüentemente mencionado nos profetas. A eles se aplicava a promessa, ― ‘Eu sou convosco, diz o Senhor‖ (1.13). O trabalho foi retomado em 24 de Ab (21 de setembro de 520 a.C.), 3 semanas após a mensagem original. Esse intervalo pode ter sido causado pela colheita de figos e uvas que acontecia no mês de Elul. A segunda mensagem foi dada no último dia da Festa dos Tabernáculos, uma ocasião que deveria ser alegre, mas que fora um momento particularmente desanimador naquele ano de colheitas fracas e crise econômica. Enquanto a primeira mensagem visava sacudir o povo de sua letargia espiritual, a segunda buscava protegê-lo do desânimo que certamente viria quando começassem a considerar as realidades do presente em comparação com as lembranças do passado. A condição empobrecida de Judá no século 5 a.C. nunca poderia produzir o mesmo edifício magnífico que o Israel do século 10 erigira nos dias opulentos de Salomão. Era vital que o povo se conscientizasse de que o aspecto mais importante do templo não era a riqueza, mas a presença de Deus por meio do Seu Espírito (2.4,5). Dessa verdade, eles tirariam força (cf. a tríplice exortação קַזֲח] ḥăz q], ―Esforça-te‖, literalmente ―Sê forte!‖ ) para a tarefa a ser enfrentada.

Duas garantias foram dadas aos construtores. A presença de Deus permaneceria com eles, conforme a promessa pactual (2.5; cf. Êx 19.4-6; Is 61.11), e não lhes faltariam recursos para continuar o trabalho até completá-lo. Este escritor crê que a famosa o ―por traduzida), ḡgôyim ôl ṯ ḥemd ûḇāʾû (ובָאוֹחֶמְּ דַ תֹכָל־הַגֹויִׁם expressão desejado de todas as nações virá‖ ou ―as coisas preciosas de todas as nações virão‖ (2.7),2 tem um duplo cumprimento, um na própria geração de Ageu, e outro, no futuro, quando o templo milenar for estabelecido e as riquezas das nações para lá convergirem, de acordo com as visões de Isaías, Miquéias e Ezequiel. O cumprimento imediato viria em 519 a.C. quando Dario, em seu planejamento para a campanha militar contra o Egito, revisou o status de Jerusalém e encontrou o decreto de Ciro, o qual não apenas permitiu a reconstrução do templo, mas também decretou a provisão para seu custeio a partir do próprio tesouro real (cf. Ed 6.4, 8-10). Tal medida foi retomada imediatamente e permitiu a conclusão do trabalho em quatro anos. A promessa gloriosa de 2.9 indica a continuidade essencial entre os templos. O templo pós-exílico (הֶזַהֹתִׁטַבַה ,ḇb yiṯ zzeh, ―esta casa‖) partilharia da glória e paz do Templo Milenar estabelecido após a iminente (cf. טַעְּ מֹתַאחַֹודֹע ,ʿoḏ ʾ ḥ ṯ me ʿ ṭ, ―daqui a pouco‖, 2.6) conflagração escatológica promovida por Yahweh (2.6,7). Mesmo que se permita toda a hipérbole profética, essa intervenção titânica nunca poderia ser limitada às rebeliões dos primeiros anos do reinado de Dario. Israel foi, portanto, instruído a valorizar seu templo não apenas por sua aparência externa, mas pelo que ele significava para o plano eterno de Deus de substituir os reinos humanos rebeldes pelo Seu reino de glória e paz. No templo, Ele daria a paz, a qual veio na pessoa de Jesus Cristo (cf. Ef 2.14-18).

A terceira mensagem traz uma ilustração dos efeitos devastadores da negligência espiritual de Judá e também das alegres perspectivas da obediência nacional. Além disso, a lição ilustrada de Ageu demonstra como rituais não podem substituir a justiça perante Deus. A primeira parte dessa divisão indica a natureza contagiosa do pecado em contraste com a natureza não-contagiosa da justiça (2.11-14). Os atos rituais de Judá não poderiam santificar seu distorcido sistema de valores espirituais; este último tornava os primeiros inaceitáveis diante de Deus. A segunda parte dessa divisão encoraja o povo, declarando que os frustrantes esforços agrícolas dariam lugar a colheitas abundantes. Mais uma vez aparece a frase-chave l śîmû (שִׁ ימוֹלְּ בַבְּ כֶםֹעַל־דַ רְּ כֵיכֶם eḇ ḇḵem ʿ l d r êḵem), traduzida neste trecho por ―Agora considerai‖ (2.15), e Judá recebe a promessa de que os meios divinos de julgamento (―com ―queimaduras, e com ferrugem, e com saraiva‖, 2.17) seriam removidos à luz de seu arrependimento e obediência, e a seguinte seria uma colheita recorde para todo tipo de produto agrícola.

A profecia final no livro foi dada no mesmo dia da terceira, mas se destinava a um indivíduo específico, Zorobabel, o governador nomeado de Judá. Zorobabel é encorajado não por promessas específicas de poder político para si mesmo (como muitos comentaristas conservadores indicam),3 mas para a linhagem por ele representada. Ageu demonstra isso (2.23) ao chamá-lo de דֶבֶע) ʿeḇeḏ, ―servo‖), lembrando as passagens messiânicas de Isaías e Jeremias, e םָותֹח) ḥôṯām, ―anel de selar‖), em uma clara alusão à profecia de Jeremias contra Jeoiaquim, o avô de Zorobabel; (cf. Jr 22.24). A abordagem escatológica de Ageu focaliza Zorobabel como um elo davídico na corrente messiânica, elo particularmente significativo devido a sua atividade como reconstrutor do templo.4 Uma ênfase semelhante encontra-se nos livros de Crônicas (cuja autoria é cronologicamente próxima à de Ageu), que dedica muito mais texto aos preparativos de Davi para a construção do templo do que à construção do primeiro templo por Salomão. O papel de Zorobabel seria transformar Israel em uma comunidade de adoração em torno do templo até que o Senhor dos Exércitos interviesse na História para estabelecer Seu próprio reino.

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