Por Lucas Rosalem.
A carta aos Hebreus faria muita, muita falta se não tivesse sido entregue a nós. É curioso como seja talvez o único dos livros do NT que não sabemos quem é o autor; ainda assim, a igreja primitiva o recebeu como Escritura e sempre o teve como parte do texto sagrado.
Apesar do apóstolo Paulo ser quem mais escreve e explica sobre o Evangelho, é na carta aos hebreus que nós encontramos uma das explicações resumidas mais interessantes, ao menos para mim. Veja se você compreende a preciosidade da explicação abaixo e se consegue identificar como essa forma de apresentar o Evangelho é completa:
“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.
Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hebreus 1:1-3).
Ainda hoje, em uma postagem que fiz em uma rede social sobre Jesus, li um comentário tão tolo que fiquei impressionado. Eu entrei no perfil da pessoa para ver se tratava-se de um desigrejado, um desviado, uma testemunha de Jeová, um mórmon ou mesmo um ateu. Mas não, nada disso: era um evangélico praticante. O comentário foi este: “Foi necessário Deus enviar o próprio filho pra salvar um povo que já tinha sido escolhido desde à fundação do mundo? Muito estranho.”
Entenda: foi um evangélico que comentou isso.
Há uma passagem que, sozinha, decreta a tolice e falta de conhecimento bíblico desse comentário acima, ao dizer que outra coisa também aconteceu desde a fundação do mundo:
“Adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8).
Os cristãos (bem, agora eu me sinto forçado a dizer: os cristãos minimamente esclarecidos) sabem que a mensagem do Evangelho é loucura para os que se perdem; é uma mensagem que não faz sentido do ponto de vista do homem natural, pois este tende a tentar merecer o favor de Deus. Por isso, absolutamente todas as religiões pregam a salvação pelas obras e pelos rituais religiosos, enquanto o protestantismo é a única pregação de que a salvação é exclusivamente pela fé, e apenas pela fé. Por que isso? Bem, o início de Hebreus já nos disse: porque a obra de Cristo purificou os nossos pecados (o que nós não temos como fazer).
Ou seja, a obra de Cristo é a justiça de Deus na salvação do povo que Ele escolheu para si. Deus ter escolhido um povo para salvar não significa que Ele salvará esse povo de qualquer jeito. O mesmo Deus que salva é o Deus que santifica e ainda justifica: nenhum pecado passará batido para Deus, pois Ele é santo e justo. Cada pecado cometido pelo seu povo foi pago completamente ao Pai por Jesus.
Existem incontáveis passagens falando sobre isso, pois essa é especificamente a mensagem do Evangelho: em Jesus, a justiça de Deus foi completa para que pudéssemos ser reconciliados com a Trindade.
“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Coríntios 5:21).
“Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Romanos 10:4).
Tentar cumprir a lei de Deus não explicava como um Deus santo e justo aceitaria um povo tão falho e inconsistente em sua presença eternamente. “Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas” (Romanos 3:21).
“Ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3:9).
Desde Gênesis 3:15, Deus começou a dar explicações cada vez mais detalhadas sobre o dia em que Alguém viria e cumpriria a justiça para a salvação. Esse Alguém foi anunciado em detalhes pelos patriarcas e pelos profetas; Ele era o Messias esperado pela nação de Israel. É por isso que Hebreus começa assim: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho…”.
E por que exatamente Jesus pôde fazer isso em nosso lugar? Como pode ser justo que um homem cumpra perfeitamente a lei em lugar desse povo e morra também em lugar do mesmo povo, sendo Ele um só? Hebreus também explicou: “…a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder”.
Jesus é Deus!
Eis o motivo pelo qual apenas Jesus podia nos reconciliar com a Trindade. Eis o motivo pelo qual Jesus precisou nascer como um de nós, viver da forma como o Pai esperava de toda a humanidade e pagar com sua morte, recebendo espiritualmente sobre si toda a ira do Pai que era contra cada um dos pecados dos salvos. Eis o motivo pelo qual o povo escolhido jamais poderia ser salvo se Jesus não tivesse feito o que fez.
Como é que pode uma pessoa passar anos em uma igreja supostamente “evangélica” e não ter ideia de nada disso? Como pode uma pessoa dizer que é cristã, mas nunca ter lido ou entendido essas passagens? Como pode, afinal, alguém assim dizer que é evangélico?
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