Por Lucas Rosalem.
O capítulo 4 de 1João repete do início ao fim que quem não ama o próximo é do diabo e que todo aquele que não declara que Jesus veio em carne tem o espírito do anticristo. Os versos que podem resumir todo o capítulo são:
“Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (v.8).
“Aquele que declara que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus” (v.15).
O primeiro verso traz à mente o nojo que grupos evangélicos têm uns dos outros por causa de questões secundárias, como as dos nossos dias.
Mas por que esses dois assuntos aparentemente tão diferentes ficam sendo repetidos e repetidos até o final? O que a negação da encarnação dos falsos mestres têm a ver com a falta de amor ao próximo? Se a repetição é para tornar óbvio que os dois assuntos estão completamente relacionados, então a questão é importante e deve ser entendida por nós. É interessante também vermos como o que João chama de “espírito do anticristo” infectou as igrejas, gerando uma base de militantes que não discernem o que estão fazendo aos olhos do mundo e, especialmente, de Deus.
A negação da encarnação é o maior sinal dos falsos mestres e, desde os tempos bíblicos, eles estão entre nós, operando segundo o espírito do anticristo. Você conseguiria, agora, dar exemplos de falsos mestres? Se a resposta for “não”, ou você está vivendo em um isolamento terrível sem informações ou você provavelmente está sendo guiado por um deles.
A encarnação de Jesus é uma doutrina essencial para a fé cristã. Se Cristo não é Deus que nasceu como homem para entregar ao Pai obras perfeitas em lugar das nossas e receber em si a punição dos nossos pecados em nosso lugar, todo o resto perde absolutamente o sentido. A encarnação, como fica claro, é a demonstração prática do amor da Trindade pela criação.
Não, os falsos mestres não vão negar a encarnação nos púlpitos. Não é disso que se trata. Não é assim tão fácil o que acontece.
A forma mais sutil de negar a encarnação é trocando a mensagem da cruz por outros temas, ao ponto de, em poucos anos, nenhum membro sequer conseguir lembrar-se de uma pregação que tenha explicado sobre: justificação pela fé, propiciação, expiação, reconciliação, etc.
“Mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (1Co 1:23), disse o apóstolo Paulo.
Em outras palavras: se a sua igreja (em suas pregações, cânticos e estudos) não têm Cristo como centro claramente, de forma que semana após semana os irmãos ouçam e consigam explicar sobre os temas listados acima, essa nem sequer pode ser chamada de “igreja evangélica”.
A conexão entre a negação da encarnação e o amor ao próximo é esta: é a explicação do que exatamente Cristo fez faz com que nós consigamos incorporar o amor de Deus por nós nas nossas relações. É por isso que a forma de sabermos se estamos em Deus ou no diabo é o que nos diferencia daqueles que negam a encarnação:
“Eles pertencem a este mundo, portanto falam do ponto de vista do mundo, e o mundo os ouve. Nós, porém, pertencemos a Deus. Quem conhece a Deus nos ouve, mas quem não conhece a Deus não nos ouve. Desse modo sabemos se alguém tem o Espírito da verdade ou o espírito do erro” (v.5-6).
Quando as nossas pregações e canções estão mais preocupadas em apontar para nós mesmos (como nos sentimos, como fazemos isso ou aquilo, etc.) ao invés de apontar para o que Cristo fez, qual é o resultado? Aos poucos, cada vez mais as pessoas confiam em sua própria moralidade para serem salvas. Em tempos como os nossos, em que evangélicos brigam entre si por assuntos secundários publicamente, você já pode ter uma boa noção do porquê de tantos evangélicos estarem tão convencidos de suas opiniões que não veem problema algum em xingar e esmagar os discordantes.
Termino com os dois versos finais da passagem:
“Se alguém afirma: “Amo a Deus”, mas odeia seu irmão, é mentiroso, pois se não amamos nosso irmão, a quem vemos, como amaremos a Deus, a quem não vemos? Ele nos deu este mandamento: quem ama a Deus, ame também seus irmãos” (v.20-21).
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