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Passo a passo para a exegese bíblica

Exegese na prática

Como funciona a exegese? Teoricamente é bastante simples. Nós temos uma série de ferramentas diferentes que precisamos aplicar a um texto a fim de abri-lo para nós. Imagine que você tem uma caixa misteriosa totalmente lacrada e precisa abri-la. Talvez você tente usar primeiro um serrote e com isso você consiga de fato arrancar uma parte considerável da caixa. Mas, em seguida, talvez você precise usar um martelo e, assim, possa tirar outra parte dela. Depois disso, você talvez descubra que será necessário usar um alicate e, depois, ainda uma chave de fendas. Só depois de tudo isso, você descobriu o que havia no interior da caixa. É para isso que servem as ferramentas exegéticas. Obviamente, nem toda caixa precisa ser aberta com o uso de todas as ferramentas. E nem sempre o uso de apenas um ou outra delas nos traz considerações significativas. Na exegese, o exegeta vai usando as ferramentas que ele precisa até entende o texto. Então, precisamos ter paciência.

Você pode pensar nesse processo de outra forma também: a exegese como um meio para descortinar o texto a nós. Há muitas coisas que nos atrapalham de enxergarmos o sentido do texto, como a distância geográfica, histórica, cultural, linguística, etc. Todos esses elementos são como camadas em cima do texto que nós impedem de lê-lo corretamente. Dito de outra maneira: para tornar um texto claro, nós precisamos olhar para o texto bíblico de várias perspectivas (pontos de vistas) diferentes, que são as ferramentas exegéticas. Cada uma delas nos serve para enxergar uma coisa e nos tira um pouco daquilo que nos impede de enxergar o texto.

Depois que nós usamos as várias ferramentas, essas várias perspectivas, nós reunimos todas essas conclusões em um documento. E a isso nós chamamos de Ensaio Exegético.

É preciso que o exegeta esteja ciente do que ele está fazendo, pois diante de tantas ferramentas, como a análise crítica textual, histórica, cultural, conceitual, sintática, morfológica, etc., é fácil perder o foco e deixar escapar o objetivo. Não perca de vista isto: em meio a uma massa esmagadora de detalhes técnicos, o seu alvo ainda continua sendo o significado pretendido no texto. A unidade da Palavra não pode ser ignorada por causa de uma perspectiva estreita demais de uma passagem: o micro não pode perder de vista o macro. Os princípios do método não podem se tornar uma camisa-de-força em vez de linhas mestras para o exegeta: a exegese foi feita para o texto e não o texto para a exegese.

Dito isso, nós podemos ver um panorama do que se deve fazer num trabalho exegético, ou seja, o que é requerido minimamente de um exegeta em seu exercício.

1. Estudo panorâmico. Para o empreendimento exegético, é imprescindível que haja, de início, um estudo panorâmico do texto visando a familiaridade com o mesmo. Este é o enfoque global do livro. Em resumo: você precisa realmente conhecer o texto e o seu contexto. Estamos falando tanto das traduções quanto do texto na língua original. Isso implica em escolher a porção do texto que será analisado, situar-se quanto ao “sentimento” do livro todo (seu assunto central, seus tópicos secundários, propósito, etc.), conhecer o contexto histórico e cultural do autor e dos leitores originais (o destinatário do livro).

2. Estudo intensivo. Para analisar o texto, é preciso que o exegeta tenha foco em uma perícope e em seu contexto para não se perder. É a partir desse foco que o exegeta fará a sua análise intensiva. Dentro do estudo intensivo, estão: a análise derivada da observação (para alcançar uma vista panorâmica, agora, do parágrafo escolhido: onde o autor quer chegar, quais seus propósitos, onde o parágrafo se encaixa dentro do argumento geral, etc.). Perceba que apenas depois de uma boa visão geral do livro é que o exegeta pode se dar ao trabalho de fazer uma análise pontual no texto. As palavras, expressões, frases, parágrafos e argumentos de um livro não nos foram jogados sozinhos e isolados; eles têm uma conexão direta com o que vem antes e depois. A Bíblia não foi escrita para que seus versículos fossem sacados da manga fora de contexto. O estudo intensivo também passa pela análise textual, identificando as dificuldades e fazendo uma análise crítica do texto, a partir das variantes textuais. Além disso, esse processo passa pela análise estrutural, gramatical e lexical do texto, entendendo a correlação entre as afirmações, as classificações gramaticais e a identificação do símbolo dos vocábulos. É preciso compreender o argumento do livro (não só o que é dito, mas a forma como é dito).

3. Estudo extensivo. Aqui, o foco é fazer uma síntese do texto escolhido com uma apresentação de um propósito controlador definitivo (a “grande ideia” exegética, aquilo que o autor estaria querendo dizer com o texto); a produção de uma tradução esmerada do parágrafo; um aperfeiçoamento do esboço exegético (a divisão que foi feita entre a ideia principal e as secundárias, para a base de um possível esboço homilético ou outro tipo de aplicação); estabelecimento do argumento; preparação de uma sinopse de argumento do parágrafo, resumindo o que o autor quis dizer; a escrita de um comentário versículo a versículo, considerando o que de importante pode ser dito sobre o texto, sua estrutura e desenvolvimento.

Aqui, demos preferência para uma visão geral de cada uma das três grandes etapas da exegese. Mas a descrição desses três itens acima não foi exaustiva. Há vários elementos que poderiam ter sido listados que veremos nas próximas unidades.

Vejamos, então, quais são os passos para uma exegese:

Passo 1: Delimitar no texto, justificadamente, a perícope que será examinada.

Passo 2: Traduzir formalmente (literalmente), tanto quanto possível, um rascunho da perícope.

Passo 3: Analisar o pano de fundo histórico: autoria, data e situação histórica.

Passo 4: Ler e conhecer exaustivamente a obra em sua totalidade.

Passo 5. Analisar, no grego, a forma do texto: gênero literário, estrutura e coesão da perícope.

Passo 6. Identificar as palavras-chave, seu campo semântico e símbolos/conceitos lexicais.

Passo 7. Analisar o lugar do texto: posição e conexão com a obra em sua totalidade.

Passo 8: Traduzir novamente o texto.

Passo 9: Comentar o texto teologicamente: interpretar o argumento do texto, suas conexões teológicas e seu sentido dentro do contexto original, aplicado à nossa realidade.

Muitas vezes, alguns passos exegéticos acontecem de maneira simultânea. Mas na apresentação do trabalho, é interessante fazê-lo por etapas. Ou seja, ao escrever um texto exegético, é necessário apresentar essas divisões para não confundir o leitor.

Outra maneira de pensarmos na exegese é dividindo os tipos de informações que se pode ter sobre o texto para interpretá-lo. No gráfico abaixo, temos as grandes áreas do conhecimento que a exegese visa alcançar.

Exegese na prática!

Na parte final do processo exegético, o exegeta se preocupará em fazer correlações entre os símbolos e conceitos dentro da perícope examinada e com outros símbolos e conceitos em outras partes do livro e da Bíblia toda. Na figura abaixo temos um bom exemplo introdutório sobre isso, ainda que simples.

Correlação exegética

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