Por Pedro Dulci
.
Quando passamos por tempos de instabilidade econômica, os cristãos rapidamente se lembram dos missionários que terão seu sustento cortado proporcionalmente à alta do dólar. Mas a relação entre economia e fé cristã é bem mais profunda do que isso.
.
Na verdade, muitos evangélicos ainda insistem em uma visão de independência dessas duas áreas da vida. Ou seja, seus valores não são compatíveis e, de preferência, devem permanecer independentes um do outro. O velho adágio dualista: amigos amigos, negócios a parte.
.
O que assusta muitas pessoas é que a flutuação do câmbio envolve uma série de fatores “não objetivos” ou que estão fora do estrito caráter matemático. A interpretação complexa dos atuais eventos econômicos envolve o coronavírus, conflitos internacionais e, claro, as incertezas que produz o choque entre o congresso e o presidente do Brasil.
.
Quando lidamos com números e previsão matemática de gastos parece estranho culpar as incertezas que a falta de coordenação política brasileira produz. Entretanto, isso deveria nos ensinar muito sobre economia — e, quem sabe, sobre política também.
.
David W., Hall, teólogo e especialista no pensamento do reformador João Calvino escreveu um interessante livro a respeito de Calvino e o Comércio (2009) em que fica evidente uma tese básica do pensamento econômico reformado: nossos pontos de vista sobre prosperidade econômica são resultado de valores religiosos fundamentais.
.
A tese básica de todo pensamento político e econômico reformado é que nossos interesses financeiros e comerciais não são entidade independentes flutuando em algum lugar de Wall Street. Na verdade são resultados das interações sociais de indivíduos que, por sua vez, são controlados por seus compromissos de fé.
.
As incertezas econômicas nascem das certezas do coração humano. A luta determinante pela fidelidade de nosso coração tem consequências para muito além da nossa vida individual — ela vai influenciar as habilidades que os representantes públicos têm de construir uma agenda política marcada por confiança, esperança, sustentabilidade e controle financeiro.
.
É por tudo isso que a atual instabilidade financeira mundial deve ser uma oportunidade teológica para nós. Hall vai dizer que: “um estudo competente de qualquer politica econômica, sistema comercial ou teoria financeira requer uma análise extensa dos fundamentos de sua visão de mundo”.
.
Seja nas desculpas esfarrapadas que um ministro da economia possa dar a uma crise, seja através do planejamento a longo prazo de um projeto para a política econômica de um país, sempre temos a oportunidade de vislumbrar o que faz não só a cabeça dos representantes brasileiros, mas, principalmente, os seus corações.
.
Quando perspectivamos as questões econômicas para essa análise religiosa mais fundamental, é possível fazer uma referência a todo e qualquer sistema econômico e comercial como uma “jaula de ferro”. Essa expressão é de Max Weber em seu clássico A Ética protestante e o Espírito do Capitalismo. No final desse livro, Weber em diálogo com Richard Baxter, responde que os “bens exteriores”não são um fardo leve de se carregar, mas antes, “uma jaula dura como aço”.
.
David W. Hall irá se apropriar do conceito e aplicá-lo de forma mais ampla às idolatrias econômicas e políticas: “é possível fazer referência a todos os sistemas econômicos ou comerciais como ‘gaiolas de ferro’. É apenas uma questão de saber quais gaiolas nos confinam e quais ídolos estão sendo adorados. O abuso do Capitalismo está enraizado nos ídolos do materialismo e da ganância. O abuso do Socialismo é dedicado ao ídolo da hipocrisia ou da idolatria da comunidade”.
O QUÊ A ALTA DO DÓLAR ENSINA SOBRE SUA FÉ?

