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O Princípio da Acomodação

o princípio da acomodação

A revelação natural não consegue comunicar de forma clara pra gente as informações, porque ela comunica as coisas de uma forma subjetiva. Por outro lado, a linguagem por meio de palavras, essa sim, embora possa ser imperfeita, é capaz de comunicar a vontade de Deus, mesmo com toda a limitação do intelecto humano. Mas como? Como é que simples palavras podem fazer justiça à majestade de Deus? Como as palavras podem atravessar o enorme abismo que há entre Deus e a humanidade pecadora? Essas perguntas fazem certo sentido, mas basta que a gente admita os atributos bíblicos de Deus pra gente saber a resposta: Deus é onipotente.

Deus, sendo Todo-poderoso, se adaptou pra suprir as necessidades dessa situação em que a raça humana chegou. E na Teologia a gente chama isso de Princípio da Acomodação. Ou seja, na revelação especial, Deus adapta a sua mensagem às capacidades da mente e do coração humano. Em outras palavras, a revelação divina é um ato de boa vontade de Deus pra com a humanidade. É por esse mesmo princípio da acomodação também que, na Bíblia, com frequência a gente vê textos representando Deus como tendo boca, olhos, mãos e pés. Deus é incorpóreo e não está limitado a um espaço físico ou a uma forma. Então, ao falar de si mesmo assim, o que Deus tá fazendo é se adaptar a uma linguagem mais simples e fácil de compreender. E é dessa forma que Deus garante que não existam barreiras intelectuais contra a pregação do Evangelho.

Todos, mesmo sem instrução nenhuma ou com muita dificuldade de raciocínio, podem aprender sobre Deus e vir a crer nele.

A revelação que Deus fez de si mesmo aos homens não foi dada completa de uma vez só. Ela foi dada aos poucos, de forma gradual, progressiva. Mas tem vários detalhes importantes pra gente entender sobre isso. Por exemplo, o fato de que o único caminho para a reconciliação com Deus sempre foi Cristo. Mas as pessoas da época do Antigo Testamento não sabiam que o próprio Filho de Deus seria o Messias. Veja, elas não sabiam que o próprio Deus, na pessoa do Filho, encarnaria nascendo de uma virgem e morreria numa cruz, e isso tudo pra levar sobre si a ira justa do Pai que era contra os nossos pecados, pra que a gente pudesse ser salvo. Aquelas pessoas, do AT, apenas confiavam em Deus e eram salvas pela fé (Rm 4).

Então, Deus salvou aquelas pessoas com base em sua resposta ao conhecimento que elas tinham em cada época. A fé delas aguardava algo que elas não podiam ver, diferente de nós, que já sabemos como o Plano de Redenção foi concretizado na História – que é tanto o motivo quanto o conteúdo de toda a revelação que foi registrada na Bíblia. Então, só pra garantir, uma outra perguntinha aqui: Como as pessoas no AT eram salvas?

Enfim, este vídeo aqui é sobre o Princípio da Acomodação e sobre a revelação progressiva, certo? Até aqui você já deve ter entendido, mas eu vou explicar isso de uma outra forma. Depois que o homem foi afastado de Deus pelo pecado, a situação só mudou quando o próprio Deus foi até ele.

O pecado danificou o intelecto humano de um jeito que ele a única forma de conhecer a vontade do Senhor novamente veio realmente como uma providência de Deus. Então, a gente chama de Princípio da Acomodação o fato de Deus ter se adaptado para se fazer entendido pelos homens. Entendeu? Deus se adaptou pra se fazer conhecido. Deus se comunicou de uma forma que, agora, a humanidade pode responder a essa revelação, e essa resposta envolve tanto aspectos cognitivos quanto afetivos (raciocínio e sentimentos). Ao fazer isso, Deus foi condescendente com a gente. Ou seja, Ele cedeu de boa vontade à dificuldade da mente humana, porque de outra forma não teria como a gente entender nada.

A Revelação, então, nada mais é do que Deus se ajustando à necessidade da situação humana pra ensinar pra gente a sua vontade e revelar os seus planos. E é por esse mesmo motivo que a revelação sobre a redenção através de Cristo foi dada progressivamente, ou seja, foi dada aos poucos. Era necessário que a humanidade compreendesse aos poucos, ou então ela não compreenderia nada. Deus usou tradições humanas, se adaptou à mentalidade humana e ainda por cima deu regras bem simples, tudo pra que a gente pudesse entender.

Bom, resumindo, é o seguinte: pra que houvesse salvação, Deus se revelou à humanidade se acomodando aos limites da linguagem humana. Pra transmitir o seu plano de redenção, Ele usou os meios que a humanidade podia compreender. E isso não foi feito tudo de uma vez só. Foi feito de forma progressiva, de forma gradual.

a criação do homem; a formação de adão; criou o homem do pó da terra
A Criação do Homem

Para terminar, apenas para completar o que a imagem acima diz sobre Gênesis 2, segue uma citação do nosso material A Fé Que Confessamos, produzido para a Igreja Presbiteriana do Brasil (link abaixo para adquirir):

O início de Gênesis, muitas vezes, é lido apenas na tentativa de responder à Teoria da Evolução, e sem nenhuma aplicação. Porém, esse não é o uso mais importante dessa rica passagem. Para dar um exemplo, pense no fato do homem ter sido formado da terra (Gn 2:7). Com uma leitura rasa do versículo, o leitor dirá que ele refuta o darwinismo, pois o homem foi criado pronto, ao invés de ter evoluído de outra forma animal. A ideia deve estar correta, mas a passagem não é sobre isso. A passagem também não é uma explicação científica sobre a composição do corpo humano. Não, nós não fomos literalmente feitos de pó da terra. Lembre-se de que Gênesis foi escrito para se opor às várias ideias pagãs sobre a realidade (seus deuses, o mundo e as criaturas). Por isso, o início de Gênesis é sobre a relação entre o Criador e a criação, e o ensino da Escritura a esse respeito é singular entre as religiões do mundo. A Bíblia ensina que Deus é distinto de sua criação. Ele não é parte dela, pois foi Ele quem a fez e é Ele quem a governa. O termo usado para dizer que Deus é muito maior que sua criação é a palavra transcendente. De maneira muito simples, isso significa que Deus está muito “acima” da criação no sentido em que é maior que a criação e independente dela. É isso que a Bíblia quer mostrar quando diz que Deus formou o homem “do pó da terra”. Nós somos daqui, da mesma matéria deste Universo criado. Deus não é. (ROSALEM, Lucas. A Fé Que Confessamos, Vol. 1. São Paulo: Mente Cristã, 2019, p. 33). 

A Fé Que Confessamos, Vol. 1

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