A história e o simbolismo da Bíblia ensinam a igreja a compreender quem ela é, o que ela enfrenta, e como ela deve viver, enquanto anseia pela vinda de seu Rei e Senhor. Isso deveria ser fácil, não é? O que é difícil em sermos noiva e corpo de Cristo? O que é difícil em ser família de Deus, o templo do Espírito Santo? Esta jornada por terras estéreis, no caminho para o novo céu e nova terra, não deveria ser uma expedição livre de riscos e com garantia de segurança? Não deveria ser algo emocionante, ainda que como um passeio na montanha-russa — assustador, mas seguro?
É assim a sua vida? Pode parecer que é assim, às vezes; talvez, quando refletimos sobre a segurança em Cristo e certeza de que Deus vencerá todos os seus inimigos. Mas eu não penso que a vida tipicamente pareça desse jeito, mesmo para aqueles que meditam na Palavra de Deus dia e noite. Isso não é só porque perdemos, de alguma forma, a perspectiva e não estamos pensando corretamente. Considere, por exemplo, os Salmos. Os autores dos Salmos sentem estar constantemente em perigo mortal. Não falam como se a vida fosse uma montanha-russa sem riscos. A vida é realmente perigosa. Realmente amamos as pessoas. Tememos, de verdade, que as pessoas que amamos se firam. Realmente enfrentamos tentações. Já vimos pessoas que achávamos santas terem falhas morais e cometer naufrágios na fé — pessoas que achávamos que fossem colunas da igreja. Já vimos casamentos de mais de cinquenta anos acabarem em divórcio.
Você sente a tensão na trama da igreja? A história da igreja é que Cristo morreu como cordeiro pascal, libertando os crentes da escravidão do pecado. Após a Páscoa, Moisés conduziu Israel ao Monte Sinai, onde as pessoas receberam a lei e o pacto. Cristo é nosso novo Moisés, que nos deu uma lei nova e melhor como parte da nova aliança. Israel viajou pelo deserto até a Terra Prometida. Estamos, agora, peregrinando por este mundo, a caminho da nova e melhor Terra Prometida, o novo céu e nova terra. Uma vez na terra, Davi reinou como rei sobre Israel. Jesus, nosso novo e melhor Davi, é o nosso Rei, que reinará com justiça e jamais falhará. No entanto, sabemos que o enredo da igreja está repleto de tensão, porque vivemos nessa tensão. Sentimos nossas preocupações, nossos fardos e nossas inimizades. Mas Deus nos deu tantas vantagens, que deveríamos nos maravilhar porque o autor da história da igreja é capaz de produzir uma tensão verdadeira e convincente na trama desta história. Vimos que foi a tentação de Adão e Eva por Satanás, subjugando-os quando pecaram, que introduziu a tensão na grande história da Bíblia. Embora Satanás tenha sofrido uma derrota decisiva na cruz de Cristo, ele ainda não foi removido para sua gaiola eterna. Ele foi vencido, mas ainda não se entregou. Foi expulso do campo de batalha celeste, mas veio até a terra por um pouco de tempo, e faz guerra contra a mulher e a sua semente (Ap 12.7-17). Por que Deus permite isso? Talvez não possamos dar uma resposta que explique tudo nessa questão, mas sabemos que Deus assim permite. Também sabemos que Deus não se surpreende com isso. Não é o caso de Satanás conseguir mais, ao evitar ser capturado.
Como sabemos disso? Porque este tempo de aflição para o povo de Deus foi profetizado no Antigo Testamento. Daniel 7.23-25 retrata uma perseguição satânica ao povo de Deus, antes que esse povo receba o reino descrito em 7.26-27. Daniel 12.7 fala da “destruição do poder do povo santo”, que chegaria ao fim antes que se cumprissem todas as coisas. O quadro que temos, mostrando o fim, tem seu paralelo no que vimos na cruz: Satanás pensou ter vencido Deus quando o Messias foi crucificado, mas Deus obteve a vitória por aquilo que pareceu uma derrota. Agora, o povo do Messias triunfará da mesma forma que fez Jesus: sendo fiéis até à morte, em face da oposição satânica.
Satanás não está tentando novo estratagema contra a igreja. Ele persiste na mesma estratégia que usava contra o Messias. Satanás tenta destruir a igreja do mesmo modo que tentou destruir Jesus. Deus terá a glória sobre Satanás quando a igreja for fiel até à morte, assim como ele recebeu a glória sobre Satanás quando Jesus venceu, sendo fiel até a morte. Por esta razão é que o Novo Testamento tem tanto a dizer sobre tribulação e aflição. Satanás procura destruir a igreja com as aflições e tribulações. Por meio dessas mesmas tribulações e aflições, Deus mostra o seu poder na fraqueza da igreja. Por isto é que Paulo dizia às igrejas que “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14.22).
O sofrimento do Messias e do povo do Messias é, às vezes, referido como as angústias messiânicas. Se você é crente em Jesus, você é noiva e corpo de Cristo, faz parte da família de Deus, é templo do Espírito Santo, e — por mais surpreendente que lhe pareça — a sua vida será difícil, e não fácil, você não evitará as angústias messiânicas. Se foi necessário, primeiro, que o Messias sofresse para, então, entrar em sua glória (Lucas 24.26), é necessário que a igreja passe por muitas tribulações para, então, entrar no reino de Deus (Atos 14.22). Ironicamente, o único jeito de evitar as tribulações e aflições é se aliar ao time perdedor. Junte-se a Satanás contra Deus, e você não sofrerá as agruras messiânicas. Em vez disso, você terá o mundanismo. Mas descobrirá que o mundanismo não satisfaz a alma. Descobrirá que a cobiça dos olhos, a cobiça da carne e a soberba da vida deixam a boca seca, a garganta crestada, e cascalho nas entranhas. Verá ao final sua vida arruinada pelos prazeres transitórios do pecado. Mas, se confiarmos em Jesus, arrependermo-nos do pecado e andarmos com ele, perpassando os sofrimentos messiânicos, descobriremos que ele está conosco, quando passarmos pelo fogo (Is 43.2). Descobriremos que, quando parece não haver esperança, brilha a alvorada e vem o Salvador. Veremos que a situação de estar quebrado é uma oportunidade para que ele demonstre seu poder de cura. Descobriremos que, quando estivermos exaustos, enquanto esperarmos nele, ele nos carregará em suas asas como de águias.
Descobriremos o que Paulo descobriu (cf. 2Co 6.8-10):
– Ainda que o mundo nos trate como impostores, somos verdadeiros;
– mesmo que não sejamos reconhecidos aos olhos do mundo, somos conhecidos por aquele cuja opinião realmente importa;
– ainda que morramos, viveremos;
– embora sintamos profunda tristeza, regozijamos sempre;
– mesmo sendo pobres, tornamos ricos a muitos;
– mesmo nada tendo, possuímos tudo.
Você descobrirá que mesmo que as angústias messiânicas tornem sua a vida em cinzas, Deus as torna belas e dá força em lugar de lágrimas (Is 61.3). O choro pode durar a noite; a alegria virá pela manhã (Sl 30.5). A história e o simbolismo da Bíblia ensinam a igreja a entender quem ela é, o que ela enfrenta, e como viverá, enquanto anseia pela vinda de seu Rei e Senhor. Devemos seguir Jesus, sendo fiéis até à morte, amando a Deus e ao próximo, entregando nossa vida pelos outros como ele entregou sua vida por nós. Não se engane quanto a isso: as pessoas ao nosso redor vivem suas vidas à luz de uma história maior. Para muitos, a história que explica suas vidas é uma imitação barata e satânica da verdadeira história do mundo. Por isso eles esperam que algum político seja seu Messias. Esperam que a medicina dê vida eterna; olham para a evolução como o seu mito de criação, e esperam “mudar o mundo” para um reino que venha agora, por meio de maquinações políticas, decisões judiciais ou triunfos legislativos. Não deixe de buscar fazer todo possível para a glória de Deus e o bem de nosso próximo. Estou simplesmente afirmando que fomos criados para viver na história verdadeira — não uma imitação fictícia dela com seus xamãs ou cientistas, sacerdotes ou eruditos, ou políticos.
O nome de Deus será santificado. O reino de Deus virá. A vontade de Deus realmente será feita na terra, como é no céu. É esta a história que a Bíblia conta. Como serão as coisas quando Deus finalmente redimir o seu povo? Será como num dia de casamento. A noiva terá se preparado com obras de justiça, que são as vestes de noiva de fino linho branco (Ap 19.6-8). E virá o Noivo como nenhum outro (Ap 19.11-16).
A batalha foi vencida.
A guerra acabou.
A vitória foi completa.
O sofrimento terminou.
Os pesares foram sentidos.
As promessas foram cumpridas.
Os amantes foram fiéis.
A alegria é eterna.
A esperança é realizada.
A fé passou a ser visão.
O seu Reino veio.
—- Retirado de James M. Hamilton – O que é Teologia Bíblica?
Aprenda mais lendo o post sobre AS FESTAS E OS SÍMBOLOS DO ANTIGO TESTAMENTO.