Por Pedro Dulci
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Em meio às diversas discussões públicas sobre casamento homoafetivo, legalização do aborto, luta por direitos LGBTQ+ existe uma ameaça muito mais profunda à fé cristã e muito mais danosa, justamente por sua natureza insidiosa.
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Quem a identificou de maneira precisa foi Rod Dreher, em seu excelente livro A Opção Beneditina, em que ele começa assumindo que tem sido um cristão fiel e um conservador engajado na maior parte da sua vida adulta. Entretanto, a chegada de seu primeiro filho o fez questionar os valores nos quais ele seria criado.
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Ele diz que nesse momento, “na tentativa de criá-lo pelos princípios cristãos mais tradicionais, comecei a perceber como mudava a minha visão política. Comecei a me perguntar o que, exatamente, o conservadorismo atual queria conservar”.
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Nesse momento ficou evidente que seu conservadorismo fervoroso, era seletivo. E, dependendo das circunstâncias, poderia deixar de enfrentar justamente aquilo que tinham o poder de afetar “o que eu, um tradicionalista, considero a instituição mais importante: a família”.
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Por mais que ele e seus amigos dissessem que, enquanto conservadores, estavam lutando uma guerra cultural, “eu raramente via a minha turma brigando de verdade, exceto quando o assunto era aborto ou casamento gay. Parecíamos contentes em dar assistência religiosa a uma cultura consumista que perdia rapidamente a noção do que significava ser cristão de verdade”.
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Nesse ponto se evidencia a ameaça que eu julgo mais profunda e danosa à fé cristã. Passa desapercebido nas agendas militantes de muitos conservadores uma crítica aos valores liberais que estimulam um individualismo em níveis idolátricos.
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O mal estar de Dreher está na percepção de que, quando lutamos contra causas pontuais de ataque à fé cristã, mas deixamos intocável a estrutura mais ampla que sustenta o imaginário social liberal, é como se lutássemos de um lado e dissemos assistência religiosa à cultura individualista do consumo e do entretenimento.
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A ineficácia de muitas igrejas em combater as forças do declínio cultural não está na altura da voz que grita em praça pública ou no tom agressivo com que fala com não-cristãos. Antes, diz respeito a nossa inabilidade de percebermos o que mais profundamente alimenta uma série de formas de vida rebeldes ao Senhor Jesus.
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Se nossas filhas e filhos não abortam, mas conduzem seus relacionamentos como quem faz compras em um shopping, nós não os formamos nossas na genuína fé cristã. A guerra é travada muito abaixo das camadas superficiais da cultura. Diz respeito às lealdades dos nossos corações.
A MAIOR AMEAÇA À FÉ CRISTÃ HOJE

