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O Custo do Discipulado – impostos e outras questões

O Custo do Discipulado - impostos e outras questões

Este capítulo não é para cristãos nominais (não-praticantes), cristãos por tradição familiar, crentes “apenas no coração”. A realidade cristã dita aqui será muito difícil de ser engolida por esses grupos. Difícil não, impossível.
Mas se você é cristão não só por frequentar uma igreja ou por gostar das ideias de Jesus, mas por compreender que você é pecador e nada que fizer pode reverter a situação, e que em sua morte Jesus estava literalmente pagando por seus pecados em seu lugar, e como consequência sua vida agora é dele, então este capítulo é para você.
No capítulo anterior, eu disse que Mateus (publicano) e Simão (zelote) não aparecem em Atos fazendo nenhum tipo de apelo político, com nenhuma pauta social ou econômica. A missão deles era a proclamação fiel do Evangelho. Nisso estava o seu sucesso.
A causa do Evangelho era a pauta de sua militância e através da qual eles precisavam ser reconhecidos pelo povo.
Neste capítulo, nós veremos as implicações práticas disso.

O Custo Para o Zelote Simão

O chamado de Jesus a Simão teve implicações óbvias e imediatas, pois exigia uma mudança total na forma de enxergar a vida e uma entrega total à causa do Evangelho. Simão logo deve ter compreendido que precisava ser conhecido pelo seu testemunho como seguidor de Jesus, não por qualquer ativismo político.
No projeto político dos zelotes havia o desejo por uma restauração da teocracia de Israel, com um rei santo no trono, assim como havia sido nos tempos de Davi.
Imagine, então, o que a vinda do Messias prometido aos israelitas deve ter provocado na mente daqueles homens.
Cristo, porém, agiu ao contrário do que se esperava. As únicas autoridades contra as quais Jesus bateu de frente foram as religiosas. Além de não se manifestar como um líder político, tal como todos os judeus esperavam, Ele ainda fez questão de dessacralizar o poder político, se opondo com veemência ao desejo dos judeus e dizendo que o seu reino não era deste mundo. Ele não enfrentou as autoridades e pouco comentou diretamente sobre elas.
Logo ficou claro que havia uma grande diferença entre o tipo de missão que Jesus estava entregando aos seus discípulos e aquele desejo revolucionário dos zelotes e do coração de tantos judeus.
Pensando ainda sobre a oposição zelote ao estado, Romanos 13 pode nos ajudar a esclarecer algumas coisas, pois a passagem fala sobre uma agressão específica da força estatal: os impostos. O trecho abaixo foi retirado do livro “Pacificadores Num Mundo Violento”, publicado também pela editora Konkin.

Os Impostos e os Zelotes

No período do ministério de Paulo, os impostos não eram muito diferentes do que são hoje. O Império Romano abusava do povo, cobrando todo tipo de imposto que minava a produção e o sustento dos cidadãos. O império tentava fornecer segurança e alguns outros serviços, mas não pela oferta, e sim pela imposição e monopólio, tal como também é comum em nossos dias.
Por todo o AT, a cobrança de impostos é tida como uma espécie de punição. Geralmente, as passagens falam de impostos altos, mas toda a intervenção do governo na vida do povo está inclusa, como vemos na passagem onde o povo hebreu pede um rei para si (1Sm 8:5-21). Não é à toa que todo estado tira parte do sustento do povo, cria monopólios, atrapalha no crescimento econômico e força seus cidadãos a entrarem em guerras que governantes criaram: está claro nessa passagem que o estado foi uma forma pela qual Deus escolheu punir as nações. Na dúvida, leia a passagem acima.
Agora, veja o que Paulo diz: “Portanto é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência. Por esta razão também pagais tributos, porque são ministros de Deus…” (Rm 13:5-6).
Às vezes, o cristão vai ser visto como criminoso diante da lei dos homens, pois convém obedecer a Deus do que aos homens.
Porém, no contexto em que há um abuso da lei dos homens vindo contra nós (e não contra a nossa fé), este é um contexto em que baixamos a cabeça, justamente por causa da nossa fé, que é onde está nossa identidade e o assunto pelo qual devemos militar.
Se não é uma questão de violência física ou risco de morte, nós agimos de uma forma diferente daquela que a cultura espera. Se a atitude, seja do governo ou de uma pessoa qualquer, é contra nós em prejuízo (seja financeiro ou moral), nós damos a outra face.
Ao contrário disso, os zelotes faziam da luta contra a opressão estatal a sua identidade. O ativismo político e a manifestação por causa do poder do governo era a coisa mais importante para eles. Eles lutavam e morriam pela causa.
Diante disso, os cristãos foram proibidos de agir como eles. Paulo não podia deixar que os cristãos confundissem o seu chamado e as implicações sociais e culturais com militância política. Se eles fossem perseguidos e mortos, que fosse pelo Evangelho.
É claro que Paulo não estava desejando que eles morressem ou dizendo que seria boa coisa que o governo os perseguisse. Ao contrário, ele até mesmo nos ensina a orar pedindo que Deus nos dê tempos de paz (1Tm 2:1-2). Paulo também não estava sugerindo que o cristão jamais deve se opor à agressão estatal. Nada disso.
Aliás, a perseguição religiosa, quando é física, pode ser resistida. Em Atos 7:57-60, vemos o primeiro apedrejamento de um cristão, morrendo pela sua fé. Ele de fato teve o privilégio de morrer literalmente por Cristo, mas ele não fez isso por opção. Ele não teve escolha. A passagem mostra a agressividade daqueles homens que o levaram para fora da cidade e o mataram. Seria muito difícil ter escapado.
Por outro lado, o verso seguinte já nos mostra uma situação completamente diferente. Leia com atenção:
“…E fez-se naquele dia uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e de Samaria, exceto os apóstolos” (At 8:1).
Nenhum cristão que podia escapar ficou esperando a morte.
Na verdade, eles não estariam fazendo nada de imoral se, diante dessa perseguição, se defendessem ou defendessem suas famílias. O estado não é sagrado.
Da mesma forma, você não estaria infringindo a ética cristã de forma nenhuma ao se defender dos soldados nazistas e comunistas. Ao contrário, estaria fazendo um bem à sociedade; e isso não seria revolução, mas legítima defesa.
Contudo, cidadãos raramente têm condições de revidar. Isso faria com que os próprios discípulos apenas morressem.
Em Romanos, a orientação de Paulo aos romanos tinha o objetivo de impedir que os cristãos fossem mal vistos pela sociedade como rebeldes ou pessoas perigosas. Cristãos deveriam ser conhecidos pela conduta pacífica, caridosa e fiel à sua fé em Cristo.
Resumindo, Simão poderia continuar desejando que a opressão estatal acabasse, e até mesmo agindo nesse sentido. Porém, seu ativismo agora havia mudado de pauta por completo.

O Custo Para o Publicano Mateus

Em Mateus 5:43-48, encontramos uma passagem que faz uma conexão interessante sobre o problema dos zelotes com o problema dos publicanos.
O alerta de Jesus acerta em cheio, primeiro, os zelotes, ao ensinar categoricamente que além de não odiar, nem retaliar seus inimigos, seus seguidores deviam amá-los. Em seguida, para apontar a falhar daqueles que amam apenas seu próprio grupo, Jesus cita ninguém menos que os publicanos.
“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:38-48).
Jesus, nessa passagem, parece dizer que os publicanos eram um tipo de gente que gostava apenas de si mesmas e apoiava apenas seus próprios interesses, contra o interesse de todos os outros.
Não há muitos grupos militantes assim?
Na verdade, que grupo militante não é assim?
Ou melhor ainda, que posição política, incluindo as mais amenas, não olha apenas para o seu umbigo e advoga em causa própria?
Nós voltaremos a esse ponto no próximo capítulo.
Por enquanto, note a situação de Mateus.
Mateus, como publicano, era alguém cujo sustento pessoal vinha de ajudar o estado a arrancar o sustento legítimo de outros cidadãos. Então, não nos estranha nada que ele tenha abandonado totalmente sua forma antiga de pensar e começado a viver como os demais judeus: pelo esforço do seu próprio trabalho, e não do trabalho alheio.
Enquanto a mudança exigida de Simão estava não na teoria, mas na prática – pois ele não devia mais agir como um revolucionário, mas podia continuar não concordando com a imposição estatal e contribuindo para amenizar o problema –, a mudança exigida de Mateus começava na teoria, na forma de pensar.
Não é possível extrair muita coisa da lista de nomes dos apóstolos feita depois de tudo isso, no livro de Atos, mas talvez tenha sido por causa dessa diferença que enquanto Mateus passa a ser chamado apenas pelo nome, Simão ainda podia ser lembrado sem problema algum como zelote.
“Quando ali entraram, subiram para o cenáculo onde se reuniam Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago” (At 1:13).

Os Discípulos Empreendedores

Voltando à questão de viver do próprio trabalho, o comentário do próprio Mateus sobre dois outros apóstolos nos chama a atenção:
“Pouco mais adiante, Jesus viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes, e logo os chamou…” (Mc 1:19).
É curioso que, nos evangelhos, na lista dos homens chamados para a missão apostólica, somente o custo do discipulado na vida desses dois irmãos empreendedores seja listado a nós.
Tiago e João estavam trabalhando quando ouviram o chamado de Jesus, e largaram tudo para trás. Veja, eles eram pescadores; aquele era o sustento deles, era a base da segurança e do futuro de suas famílias, sua garantia de sobrevivência – era plenamente justo que permanecessem como estavam. Mas quando eles ouviram a voz divina e entenderam o chamado, foi irresistível. Não existia mais qualquer fonte de segurança, muito menos qualquer lucro que fosse mais importante do que responder positivamente àquele chamado. Eles só podiam obedecer e seguir a Cristo.
A cena se torna ainda mais dramática quando vemos os detalhes no verso seguinte: “e eles seguiram Jesus, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os empregados” (v.20).
Eles deixaram a família e um empreendimento para trás.
Aqueles eram jovens empreendedores que com a eficiência do que faziam conseguiram não apenas trabalhar para si, mas empregar outras pessoas também com suas famílias para sustentar.
Ora, o texto diz que eles deixaram seu pai. Se nem mesmo a família poderia impedi-los de obedecer a Cristo, muito menos fatores econômicos. Eles simplesmente deixaram tudo.
Eles entenderam o que era realmente importante e pelo que valia a pena viver a vida.
Você compreende que a economia não é a coisa mais importante no seu discurso público? Entende que os problemas sociais jamais serão resolvidos por decretos escritos em papel, pois são consequência do pecado da humanidade?
Mais importante que tudo isso é onde está a nossa confiança e o que nós somos diante dos problemas econômicos e sociais.

Um Chamado à Morte

É compreensível que para algumas pessoas seja muito difícil aceitar isso. Mas quando você entender o quanto Jesus abriu mão para salvar você, então, tudo o que a política e o ativismo representam para você, todos os detalhes que você considera partes da sua identidade e tudo o que você possui por conquista própria não significarão nada mais. Quando você compreender o que Jesus fez pela humanidade, essa decisão será muito mais fácil.
Mas talvez você só esteja confuso com isso tudo.
Pois bem, naquele dia que você compreendeu, naquele dia em que o Espírito Santo abriu o seu coração para que você entendesse a verdade e aquele chamado se tornou irresistível a você, de tal modo que você não teve como rejeitar, e entregou sua vida a Ele, naquele dia, o dia da sua conversão, o Senhor não apenas o salvou, mas também o comissionou. E essa comissão tem um custo.
Seguir a Cristo não é uma vida de vitória triunfante. Segui-lo é uma vida, sim, de vitória eterna quando nós estivermos na glória com Ele. Mas aqui nós seguimos o nosso Senhor a caminho da Nova Jerusalém com a nossa própria cruz nas costas.
“Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8:34).
A sua cruz não é o seu trabalho, nem sua condição financeira ou o grupo oprimido ao qual faz parte. A sua cruz não é a sua jornada política de ativismo por esta ou aquela causa.
A sua cruz é a sua própria vida, sua decisão pessoal de morte por Cristo se necessário for. Porque Cristo é tudo o que importa, “pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; e quem perder a vida por minha causa e por causa do evangelho, esse a salvará” (Mc 8:34-35).
Você compreende isso? Se você fizer das suas metas a sua vida, se você fizer do seu ativismo sua vida, você irá certamente perdê-la. A causa pela qual a sua comissão o chama a morrer não é a causa da igualdade econômica, da desregulamentação estatal, da luta contra o racismo ou contra os impostos. Todas essas coisas podem ser importantes, mas perto da sua comissão verdadeira, são todas desperdício de tempo.
A grande pergunta aqui é esta: você está preparando para colocar tudo em segundo plano e seguir o Mestre?

Leia muito, mas muito mais sobre isso no livro A Política e a Fé Cristã, no link abaixo:

A Política e a Fé Cristã | Lucas Rosalem

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