Como Oséias, Amós ataca a horrível infidelidade de Israel contra Yahweh. Enquanto Oséias critica severamente a nação por sua idolatria, Amós focaliza os problemas éticos e sociais causados pelo sincretismo religioso de Israel.
Indicações de idolatria são encontradas em 2.7 (prostituição cultual?), 3.14 (os altares de Betel), 5.4-7 (os deuses rivais competindo pela atenção de Israel), 7.9 (os santuários) e 8.14 (o deus de Betel). Uma referência específica à idolatria em 5.26 parece apontar para um culto astral (não existe consenso sobre o significado das palavras Sicute e Quium), possivelmente relacionadas a Ninurta, o deus assírio da guerra, associado com o planeta Saturno (cf. J. A. Thompson, ―Sakkuth‖, The Illustrated Bible Dictionary, 3:1368-9). Em geral, no entanto, o profeta concentra sua condenação na inutilidade de uma religião que não se importa com a justiça, em vez de expor o erro doutrinário do culto de Israel. Amós não está desalinhado com Oséias; é apenas uma questão de ênfase. O tema fundamental do livro é a indiferença de Israel às exigências morais da aliança mosaica. Tal complacência torna sua religião abominável e faz inevitável o julgamento divino.
Além do Prólogo (1.1,2), o livro contém quatro divisões. Profecia (1.3–2.16), que contém a proclamação do castigo divino para Israel e nações vizinhas; Pregação (3.1– 6.14), em que são encontrados os sermões de Amós contra a insensibilidade espiritual de Israel; Perfis (7.1–9.10), em que o julgamento inevitável de Deus é retratado em cinco maneiras que realçam a indiferença de Israel e ocasional oposição a Yahweh e Sua mensagem; e Promessa (9.11-15), em que a esperança de restauração das bênçãos pactuais é apresentada para a inconstante nação.
O prólogo identifica o autor e suas circunstâncias, o auge da prosperidade de Israel, e indica que sua mensagem é de catástrofe iminente (1.2), identificando o Senhor como um leão que ruge, uma freqüente figura de julgamento (cf. 3.4-8; Is 31.4; Jr 25.38; Os 5.14). A divisão intitulada Profecia (1.3–2.16) contém a visitação divina de castigo contra os pecados nacionais na Palestina. Damasco (Arã) será punido por sua repetida crueldade contra Gileade (1.3-5). Os filisteus serão punidos por seu vergonhoso tráfico de escravos (1.6-8). Tiro é acusado de tráfico de escravos e quebra de acordos políticos (1.9,10). As nações aparentadas, Edom (1.11,12), Amom (1.13-15) e Moabe (2.1-3), são todas acusadas de atos injustificados de violência contra seus vizinhos. Em geral, essas nações vizinhas são culpadas de crimes contra a humanidade. À medida que Amós dirige suas acusações para a nação escolhida, os crimes passam a se relacionar à revelação divina especial. Judá é acusado por sua desobediência consciente à auto-revelação divina e jurado de destruição pelo fogo. O profeta, habilmente, provoca a indignação de sua audiência antes que a acusação direta de ingratidão e quebra da aliança seja lançada no rosto de Israel (2.6-16). Esta divisão expõe a futilidade de Israel em se considerar acima da capacidade ou disposição divina para punir; Amós demonstra que a nação é tão culpada e sujeita ao castigo quanto seus vizinhos pagãos e sua irmã rival, o reino de Judá. A divisão intitulada Pregação enfatiza a insensibilidade de Israel aos privilégios e preceitos da aliança mosaica, como também sua religião hipócrita, como causa do julgamento divino.
No capítulo 3, Amós focaliza a ingratidão de Israel à luz de seus altos privilégios recebidos de Yahweh. Tal ingratidão lhe trará julgamento, testemunhado por todas as nações que presenciaram os pecados de ganância e idolatria cometidos por Israel. O capítulo 4 contém acusações contra uma sociedade gananciosa que se mantém indiferente às disciplinas efetuadas por Deus, de acordo com a aliança mosaica. A religião com a qual a nação contava como salvaguarda contra o julgamento é desdenhosamente encorajada com o propósito de realçar sua futilidade (4.4,5).
A terceira mensagem (5.1-17) anuncia que Israel seria dizimado por sua rejeição aos preceitos divinos e pelo estabelecimento de um sistema religioso espúrio como disfarce. Apesar de tais crimes, Deus ainda pede que Israel volte para Ele a fim de evitar punição (5.4,6, 14,15). A quarta mensagem (5.18-27) busca dissipar o falso conceito de segurança de Israel. Prosperidade no presente não significa que Deus será favorável quando Ele intervier no futuro (5.18-20: aparentemente os israelitas tinham um conceito errado do Dia do Senhor como se fora apenas um tempo de aumento das bênçãos para Israel). Da mesma forma, religião abundante não significa que Yahweh estivesse satisfeito com Seus adoradores. Muito ao contrário, religião desprovida de justiça era abominação, principalmente quando contaminada por idolatria pagã (5.21-27). O resultado de tal maneira teológica de pensar seria o exílio!
A mensagem final (6.1-14) se desenvolve em torno dos perigos da prosperidade sem Deus. Israel não era moralmente superior aos seus vizinhos (6.1-3), e sua indiferença tolerante à falência moral eventualmente acabaria em devastação e exílio (6.4-11). Nem mesmo a bravura (recente) de Israel, em conquista militar, a livraria das conseqüências de seu estilo de vida pervertido e insensato (6.12-14). A quarta divisão contém cinco perfis ou visões (cf. o uso de הֶז ֹה ) , ōze ) em 7.12) com relação ao trato de Deus com Israel. Estrategicamente inserido entre as visões está o relato da reação oficial ante a pregação de Amós. Está colocado aqui em virtude de sua relação temática com a terceira visão (7.7-9), um resumo da profecia como um todo. As primeiras duas visões – gafanhotos e fogo – falam da misericórdia de Yahweh em abrandar o que o profeta considerou como julgamento muito duro à vista da fraqueza de Israel (7.1-6). A terceira visão – o prumo – fala do justo julgamento contra o que parecia sólido e perfeito, o reino do Norte, cujo povo se mantinha indiferente ao julgamento divino em virtude dos pecados de Jeroboão (7.7-9). Antes da quarta visão, Amós nos oferece um vívido incidente histórico relacionado à oposição a sua mensagem (7.10-17). Amazias, provavelmente um capelão real, relatou a mensagem de julgamento dada por Amós ao rei na casa real, usando as palavras de forma a insinuar um ataque pessoal a Jeroboão. O sacerdote percebera corretamente o potencial de perturbação em tal mensagem e buscou proteger seus próprios interesses religiosos. Aparentemente, Jeroboão não tomou medidas oficiais para tolher a atividade de Amós, deixando o caso nas mãos de Amazias (7.10,11).
Amazias (cuja cegueira e insensibilidade tipificam de forma acurada as da nação) recorre à intimidação (7.12,13). Amós, no entanto, não se assusta facilmente. Ele defende sua missão ao reino do Norte como vinda de Deus (7.14,15) e oferece autenticação de sua mensagem predizendo a decadência moral da esposa de Amazias, a morte violenta dos filhos de Amazias, a divisão da propriedade de Amazias, e a morte de Amazias no exílio (7.16,17). A visão de um cesto de frutos do verão (8.1-14) aponta para a maturação de Israel para o julgamento devido a sua rejeição à aliança mosaica. O julgamento é iminente (8.1-3) em razão da arrogante rejeição dos sinais da aliança – Sábado e lua nova – em favor de ganho desonesto (8.4-6). O dia do julgamento exercido por Yahweh será marcado por perturbação cósmica, e homens cambalearão em desespero por falta de revelação divina (8.7-14). A visão final – o Senhor junto ao altar – mais uma vez aponta para a natureza inevitável do julgamento de Yahweh (9.1-10). Israel culpado não pode fugir da presença (9.1-4), não pode se evadir do poder (9.5,6), não pode escapar da percepção (9.7-10) do Juiz. As últimas palavras dessa visão são uma acusação contra a complacência espiritual de Israel.
A última divisão do livro, Promessa, apresenta restauração, não julgamento, como a palavra final de Yahweh para Israel. O reino davídico, agora em desintegração, será totalmente restaurado (9.11), permitindo que Israel reine sobre as nações (9.12) e desfrute prosperidade verdadeiramente duradoura em sua terra (9.13-15).